18. Ser seu Namorado - Giovanni

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No caminho para a reunião dos coordenadores, recordava com desgosto dos olhares de Gustavo cravados em mim com raiva. Percebi que ele seria um grande rival assim que fomos apresentados. Como desconfiava, ele tinha algum interesse nela e isso me tomou de ciúmes. No entanto, não poderia começar um primeiro dia de namoro já com uma crise.

A arara azul, por outro lado, foi uma agradável surpresa. Quais outras surpresas Emily teria? A reflexão me fez sorrir, cada minuto ao seu lado me deixava mais curioso sobre ela.

A reunião foi a mesma de sempre com as advertências que eu já sabia de cor, a única questão que me fez prestar maior atenção e causou-me receio foi o lembrete sobre evitar relacionamentos dentro da faculdade entre alunos e professores. Pela primeira vez, isso talvez fosse difícil para mim.

O carro de Pedro estava próximo ao meu no estacionamento. Evitei falar com ele desde que voltara das férias, entretanto, não seria possível agora que ele me acompanhava.

— Como estão as coisas com a ... — ele parecia buscar o nome certo em sua memória. — Emily. Engraçou-se por outra ou continua batendo na mesma tecla?

Analisei-o em dúvida sobre minha resposta e decidi que devia colocá-lo a par dos acontecimentos, principalmente para evitar ter uma surpresa com ele dando em cima de minha namorada. Fiz um curto resumo de como chegamos ao namoro.

Pedro olhou-me confuso, como se eu o enganasse.

— Falo sério! Começamos a namorar hoje. — abri a porta do meu carro para entrar. Ele pareceu estudar minhas palavras. — Nunca falei tão sério.

— Garanhão! Conseguiu então! — ele riu ao entrar em seu carro e gritou-me divertido. — Terei de encontrar outra ruiva para mim.

Ri e liguei o carro.

Parecia-me estranho chegar novamente com tranquilidade na frente do prédio de Emily, tocar o interfone e esperar que ela descesse como se já tivéssemos essa rotina há algum tempo. Para meu desgosto, não minha surpresa, Gustavo acompanhou sua descida e ofereceu-me um aperto de mão muito mal-humorado.

— Acho bom que não seja tolo em magoá-la, senão serei obrigado a me vingar. — seus olhos me fuzilavam.

O garoto foi atrevido, no entanto eu não me deixaria impressionar por um magricela. Sorri debochado e beijei Emily. Ela parecia furiosa com a ação do amiguinho, contudo não comentou nada e nem eu.

Na dúvida de qual restaurante escolher acabamos no shopping por ser mais prático por causa do cinema. Passar a noite na companhia de Emily foi extremamente divertido e relaxante, sentia que podia ser eu mesmo.

Sorri ao perceber como ela estava em paz numa mesinha qualquer do shopping sem se preocupar com frescuras como minha ex-esposa. Mesmo quando éramos namorados e jovens, Rebeca sempre me persuadia levá-la aos restaurantes da moda e fazia um drama se acabássemos no shopping, a não ser que fossemos fazer alguma compra cara.

O filme era um desses qualquer sem grandes atrativos. Fazia muito tempo que não sabia o que era curtir um cinema ao lado de uma companheira, apesar de meu receio inicial, nós estávamos nos saindo bons namorados.

Ao chegarmos a seu prédio meu corpo estava tomado pelo desejo, segurei-a com força e beijei-a. Por um segundo, pensei que ela me deixaria subir e nos tornaríamos um, contudo Emily soltou-me suave e despediu-se. Como bom cavalheiro, só me restou acatar sua decisão.

Sorri compreensivo. Ao nos conhecermos melhor o sexo virá naturalmente. Tentei confortar-me com o pensamento. Dei-lhe um beijo suave de despedida, porém lembrei-me do tópicos da reunião.

— Emily, não podemos parecer namorados quando estivermos dentro do campus. A coordenação da faculdade não vê com bons olhos envolvimentos entre professores e alunos.

— Tudo bem, mas devemos contar para Sérgio. — sua afirmação tinha tom de esperteza. Ela demonstrava que não se deixaria enganar, caso eu tivesse más intenções em esconder nosso namoro.

— Como você achar melhor. — confirmei. Pensar em falar com Sérgio deu-me um frio na barriga, contudo eu não faria nada para minar nosso relacionamento. E depois, se minhas intenções eram sinceras com ela, talvez Sérgio compreendesse. — Então te pegou amanhã de manhã para irmos para a faculdade. — Beijei-a em despedida.

— Ora, mas se não podemos ser vistos juntos?

— Eu te largo uma quadra antes.

— Não precisa, — ela me olhava sem jeito. — eu vou de ônibus com o Gustavo.

— Posso levar o garoto também. — comuniquei entredentes.

— Prefiro que nos encontremos depois. Eu vou de ônibus. — ela finalizou a discussão. Não mudaria de ideia, percebi.

— Então nos vemos no almoço. — soltei em um suspiro derrotado, decidido a não iniciar uma discussão.

Eu quis ser gentil em lhe dar carona, mostrar como me importava com ela. Porém Emily parecia incomodada com minha oferta. Quem prefere ir de ônibus ao invés de carro com o namorado? Até confirmei que levaria o abusado do Gustavo junto, era melhor tê-lo perto dos meus olhos do que nas minhas costas. Mas não teve jeito.

Em alguns momentos Emily me confundia de como eu deveria agir ao seu lado, pelo jeito namorar para ela era um pouco diferente de minha concepção.

****

Ao avistá-la no dia seguinte, tive vontade de beijá-la. Estava com um grupo de alunos duvidosos sobre o cronograma recebido no dia anterior. Sanei suas dúvidas com pressa e andei até ela sorrindo, parei ao seu lado. A adrenalina de fazer algo escondido percorria minhas veias, olhei-a e pisquei. Emily soltou um risinho cúmplice e fez o mesmo. Como ela é linda! Pensei ao ser obrigado a me afastar.

Hoje, minha aula era com alunos de semestre mais avançados e a maioria já havia sido meu aluno em alguma outra disciplina, então seria uma aula serena. Isso me proporcionou tempo de sobra para pensar na melhor estratégia para iniciar a conversa com Sérgio mais tarde. Emily pedira para falar com ele após a aula em sua sala e eu não pude evitar. Teria preferido que ela contasse sozinha, mas seria covardia não estar ao seu lado e Sérgio veria isso como um desrespeito de minha parte.

Andei pelo corredor que dava para a sala dele por uns longos cinco minutos até que Emily surgisse à minha frente. Olhamo-nos indecisos sem saber se nos cumprimentávamos ou não. Sérgio surgiu sorridente na porta e nos convidou a entrar. Meu peito gelou, respirei fundo e me preparei para enfrentar qualquer reação dele e lutar por meu namoro. Peguei a mão dela, minha voz saiu mais num sussurro do que com a força que eu desejei:

— Queríamos compartilhar algo contigo.

— Sim, eu já sei. — ele riu. — Acha que não percebi que ontem falava de minha ruivinha? Por que acha que eu insisti tanto para que fossem juntos para casa?

Emily riu divertida e aliviada, eu sentia-me um estúpido por ter sido tão ingênuo em acreditar que havia enganado Sérgio com minhas falas indiretas sobre uma garota desconhecida. Eu deveria ter desconfiado que ele planejava nos unir quando ignorou todo o mau-humor dela e fez com que fosse almoçar conosco e depois que eu a levasse para casa. Na verdade, ele parecia aliviado de nos ver juntos e desejou-nos muita felicidade.

Fomos, com tranquilidade, almoçar juntamente com ele em um restaurante de filés e massas próximo ao campus. Um almoço muito diferente do dia anterior, a conversa rolou solta e divertida. Num certo descuido, abracei Emily e a beijei de leve, depois receei que Sérgio pudesse se ofender e me afastei encabulado. Ele riu divertido e demonstrou que não iria se incomodar com manifestações de afeto entre eu e sua protegida.

Provavelmente muitos iriam reprovar nosso amor e pensariam coisas erradas sobre esse relacionamento entre um professor e uma aluna, mas ao menos Sérgio, quem nós dois considerávamos de verdade, dera sua benção. Isso me fez sentir finalmente livre para me entregar a esse amor inusitado que já me fazia tão bem.




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