32. Giovanni e Ricardo - Emily

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Sérgio e seu filho se despediram após colocarem todas as coisas do Gustavo em cantos da sala ou no quarto de minha mãe. O cansaço percorria meu corpo, só desejava deitar e esquecer aquele final de tarde. Olhei para Ricardo que não se animava em ir embora e dei-me conta que ele não teria lugar para dormir, pois não voltaria para a casa dos pais e agora morava na cidade litorânea.

— Você precisa passar a noite aqui? — perguntei quase em afirmação.

— Meu ônibus é só amanhã ao meio-dia. — ele disse sincero e olhou-me de canto. — Tem problema?

— Por mim tudo bem, mas só sobrou o sofá.

Desanimado, ele consentiu com um leve aceno. Fui até meu quarto para buscar os lençóis e Giovanni me seguiu com passos pesados.

— Por que o convidou? — fechou a porta às minhas costas ao me fitar transtornado.

— Porque era óbvio que ele não tinha para onde ir. — respondi aborrecida.

Juntei a roupa de cama em meus braços com indisposição.

— Não gosto desta ideia. — ele resmungou com o maxilar serrado.

— A situação não nos dá muita escolha, dá? — minha fala foi ríspida. Como ele podia estar com ciúmes numa situação dessas? Pensei decepcionada.

— Então não há problema de eu também passar a noite? — Giovanni me encarou desconfiado.

— Sem problema, dividimos a cama. — Suspirei enfadada e levei os lençóis e cobertas para Ricardo que silencioso começou a arrumá-las no sofá.

Sentia meu peito agitado, havia muita raiva dentro dele. Raiva dos pais de Gustavo, dos ex-colegas de escola repletos de piadinhas e começara a nascer uma raiva de Giovanni por comportar-se de maneira infantil quando eu ansiava por sua maturidade e serenidade. Abri a boca tomada pela tentação de mandá-lo embora, olhar para sua expressão dura me feria; no entanto, calei-me, pois isso geraria uma grande briga e, no momento, eu não encontraria nenhuma força para discutir.

Por fim fomos todos descasar, ou pelo menos fazer uma tentativa. Apaguei a luz e me deitei, Giovanni já estava na cama e ajeitou-se para que eu pudesse me aconchegar nele. Aceitei seu conforto sem pestanejar.

— Sinto muito por tudo. — ele falou baixo. — Estou sendo um idiota, mas prometo que esse Giovanni não está mais aqui. Se precisar de algo é só pedir. Estarei sempre ao seu lado.

Levantei a cabeça e me esforcei para sorrir. Finalmente ele voltara a se comportar como meu porto seguro e deixara de lado a crise de ciúmes, aninhei-me e adormeci.

Tive um sono perturbado por pesadelos, via Gustavo em perigo em diversas formas e me levantei para vê-lo. Ele dormia quieto. Fui até a cozinhar pegar um copo de água e avistei Ricardo sentado no sofá.

— Também não consegue dormir? — disse ao me sentar ao seu lado.

— Tentava achar uma explicação para minha família ser tão complicada. — ele me olhava desolado.

— Não se sinta assim, as coisas irão se resolver. — passei meu braço sobre seu ombro e o abracei.

Não acreditava realmente em minhas palavras, não conseguia deslumbrar o pai dos meninos se arrependendo. O preconceito que ele tinha enraizado em si só poderia ser transmutado se o homem fosse capaz de perceber o sofrimento alheio, no entanto ele era muito egocêntrico e preocupado com as regras idiotas de sua moralidade hipócrita para assumir seu erro. Mesmo sabendo disso era preciso dar algum conforto a meu amigo, e talvez para mim mesma.

Jovem AmorWhere stories live. Discover now