Nunca pensei (completa)

Capítulo 17

– Então, aconteceu mais de uma vez... E aconteceu mesmo depois de eu ter dito como eu me sentia. – ele logo concluiu. – Nossa, como eu fui idiota...

Ele falava, mas parecia estranhamente calmo. Voltou para a sala e então sentou no sofá. Eu o segui, mas fiquei em pé.

– Você não entendeu nada, não foi? – ele ergueu a cabeça para me olhar, até então fitava seus pés vestidos apenas com meias brancas. – Não entendeu por que passar nessa prova era tão importante? Por que eu queria tanto uma estabilidade financeira, ou ter um bom trabalho? Era tudo por você, Bia. Para poder te oferecer um bom futuro ao meu lado.

E eu fiquei encarando-o em silêncio, totalmente chocada. Então era por isso... Ele nunca tinha sido preocupado com essas coisas antes, e eu devia ter percebido. Nossa, eu realmente tinha sido burra!

– Eu não sabia disso, Rafa... Você deveria ter me contado... Infelizmente, não tenho essa capacidade, a de ler pensamentos... Como eu poderia saber? – meus olhos se enchiam de lágrimas agora – Eu sinto muito... Eu não quero nada com o Tobias, eu quero você. Será que você poderia me dar mais uma chance?

– Não. Eu não posso.

– Não pode...?

Eu ainda estava parada em pé, não tinha forças para me mover. E agora secava com os dedos as lágrimas que teimavam em aparecer nos cantinhos dos meus olhos.

E ele continuou falando:

– Sabe quando você quer uma coisa durante muitos anos, e então começa a acreditar que aquilo é impossível de acontecer? E daí, quando finalmente acontece...

– Não era tão bom como você esperava?

– Não, não é isso. Foi bom sim. Aquela vez em que a gente ficou foi perfeito, Bia. Foi muito mais do que eu esperava, mais do que eu imaginava. E olha que eu imaginei muito... – ele deu um sorriso triste – Mas foi como se eu tivesse sonhado, entende? Porque eu quis por tanto tempo... E por isso meio que demorou para cair a ficha. Eu fiquei bem confuso.

– E a Greice voltou. – falei – Nem deu tempo para a gente assimilar o que tinha acontecido.

– Sim. E você saiu correndo, Bia. Praticamente fugiu. Você parecia tão certa de que eu queria ficar com a Greice, e não com você... Nem me deu chances de fazer diferente.

– É, acho que eu fiz isso. Mas eu também fiquei confusa. Bem mais do que você, eu acho. Porque aquilo tudo era novidade para mim. Eu nunca tinha pensado...

– Eu sei. Eu sempre soube disso, e eu nunca te disse nada. E você pelo jeito não é muito boa em ler pensamentos. Não os meus, pelo menos... Mas então, depois... Eu fui percebendo... Eu achei que você se sentia da mesma forma do que eu.

Ele me olhou e agora eu vi o brilho de lágrimas não derramadas nos olhos castanhos dele.

– Mas foi o que aconteceu, Rafa! Eu realmente sinto o mesmo do que você! Eu quero ficar com você!

– Não. Desculpa, eu não posso.

– Não?

– Não. – ele repetiu.

– Nunca mais?

– Não sei. Mas, agora, eu não posso. Eu esperava tanto da gente, de você... E agora eu mal consigo olhar para você, Bia.

– Eu devo ir embora agora? – perguntei num fio de voz.

Eu não queria sair dali. Eu não queria ter que ir embora. Queria poder ficar com ele talvez para sempre. As palavras "eu amo você" estavam na ponta da minha língua, mas algo fez com que eu não as pronunciasse. De qualquer forma, sabia que eu seria rejeitada. Que as palavras não mudariam nada.