Nunca pensei (completa)

Capítulo 6

Era o segundo sábado em que eu cantava, e a minha tia insistia agora para que eu fizesse parte dos shows de sexta-feira à noite junto com o Max. Ela disse que estava muito velha para participar de dois shows por semana, e que iria adorar se eu assumisse a função. Mas o fato é que estava ficando meio pesado conciliar meu trabalho como radiologista, os ensaios e os shows. Eu adorava cantar, mas se isso significasse só a parte de subir no palco seria bem mais tranquilo. Só que eu trabalhava a semana inteira com meus laudos, ensaiava nos fins de semanas com a minha tia e a banda, cantava e ainda servia as mesas.

Tudo bem que eu não tinha planos nenhum para o fim de semana, que eu tinha me afastado de todos os meus outros amigos além dos meus primos por pura besteira e que eu agora não tinha mais nada para fazer... Mas confesso que seria bom também ter um tempinho para me jogar num sofá (o meu já tinha chegado!), ver televisão, ler um bom livro, ou simplesmente não fazer nada. Ou poder tomar banho de sol no meu novo terraço que eu ainda não havia inaugurado. Se bem que eu sempre fui tão branca, que há muito tempo tinha desistido de ficar bronzeada...

Então eu falei para a tia Marta que eu estava cansada demais, que só queria mesmo cantar nos sábados e que eu não queria mais trabalhar servindo as mesas. E ela nem ligou, pelo menos na parte de parar de servir as mesas, porque continuou insistindo para que eu participasse dos shows da sexta também. Ela dizia que eu tinha nascido para isso, o que eu de fato não acreditava.

Eu gostava de cantar, mas gostava da minha outra profissão também, dos meus laudos. Embora as imagens em preto e branco fossem um pouco silenciosas e eu não interagisse com elas, eu gostava. Mas sentia falta do contato com as pessoas, por isso seria bom demais se conseguisse conciliar as duas coisas.

Naquela noite, foi a primeira vez que a Greice me viu cantando. E quando o show terminou, ela estava parada em pé na frente do palco, batendo palmas entusiasmadas para mim. E correu ao meu encontro para me cumprimentar, me dando um caloroso abraço. Meus pais também estavam na plateia e foram me abraçar.

– Foi tão lindo, Bia! – a Greice exclamou – Não imaginava que você fosse tão talentosa!

– Obrigada – eu dei um sorriso meio sem graça para ela.

Eu ainda sentia um pouco de culpa, com aquele sentimento de que eu a havia traído, e que a traia ainda um pouco por não conseguir arrancar o namorado dela totalmente da minha cabeça. Então, eu não conseguia agir com 100% de naturalidade.

– Sério! Você parece a Rachel Berry, de Glee! Você já viu Glee? O Rafa não gosta, diz que é coisa de adolescente, mas eu sou super fã!

– Sim, eu vi. –falei enquanto descíamos do palco, ela atrás de mim. Meus pais já haviam sentando e nos esperavam na mesa – Eu também adoro Glee – confessei – e adoro a Rachel. Na verdade, ela é a minha inspiração. Quando eu me arrisquei a cantar novamente, há poucos meses, foi junto com ela, para acompanhar a Rachel. Cantei com ela todas as músicas da sexta e última temporada.

– Inclusive Let it Go? – ela adivinhou.

– Sim. – admiti e dei um sorriso de canto de boca.

Pouco depois meus pais e meus tios foram embora e ficamos só nós duas na mesa, já que o Rafa ainda trabalhava. Pedimos algo para beber, algo com um bom teor alcoólico, porque eu estava precisando relaxar, e ela me acompanhou na bebida.

– Eu ainda fico nervosa quando canto. – afirmei. Estava mesmo nervosa, mas esse não era o único motivo. – Ainda é novidade para mim.

– Que isso, Bia. Não precisa. Você é ótima.