Capítulo 8

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Estávamos no aeroporto em frente ao portão desembarque, o avião já tinha pousado há um bom tempo. Muitas pessoas tinham saído e nada da Nati aparecer com as malas. Apenas a tia Marta e eu tínhamos ido buscá-la, os outros (como meus pais, o tio Zé, o Rafa, a Greice, alguns parentes mais distantes e os amigos da Nati), a aguardavam na casa da tia Marta para uma espécie de recepção-festa surpresa. Grande parte dos amigos da Nati foram convidados por mim e pela Greice através do facebook. Tinha certeza de que a Natália iria adorar rever todos.

Então ela afinal aparece, e é ela quem nos surpreende. Além do seu novo estilo meio hippie, o que eu já tinha visto pelas fotos, ela surge empurrando um carrinho cheio de malas. Mas cheio de malas mesmo. Tipo umas três grandonas (uma cor-de-rosa Pink!), mais uma mochila e algumas sacolas de mãos.

A gente corre para abraçá-la, e eu tento me acostumar com o seu piercing no nariz e com outras coisas mais, como uma espécie de trancinha no cabelo. O piercing é até meio bonitinho, mas me confunde porque não condiz com a antiga Natália sempre certinha.

Aliás, todas as suas roupas de agora, uma saia muito comprida e os sapatos rasteirinhos, são novidades para mim. A Nati é baixinha como eu e sempre usava saltos, acredito que para tentar compensar. Mas a Nati de agora parece perfeitamente à vontade com a sua altura. E perfeitamente à vontade com ela mesma, ao contrário da Natália um pouco insegura de antes.

Acho que viajar e ter ficado tanto tempo sozinha – eu penso enquanto a analiso rapidamente – fez bem a ela.

– Tantas malas, filha? Só para um mês? – a tia Marta pergunta ao abraçá-la.

Enquanto isso, tento empurrar o carrinho de bagagem e tenho dificuldades devido ao peso. Eu, ao contrário da Nati, estou usando saltos.

Ela então responde, toda sorridente:

– Surpresa! Eu não vim para ficar apenas um mês, e sim para sempre! Não pretendo mais voltar! – ela conta, nos deixando boquiabertas.

Então seguimos até o edifício garagem para pegarmos o carro da tia enquanto conversamos, a Nati e eu atrás empurrados juntas o carrinho de bagagens pesadas. Até que eu desisto e tiro a mais pesada, a rosa Pink, de cima das outras. Como ela tem rodinhas, passo a puxá-la pela alça, e a Nati continua empurrando o carrinho agora nitidamente mais leve.

A minha prima vai tagarelando e nos contando as novidades, não parecendo cansada pela viagem ou pela diferença de fuso horário. Até por ela estar mais descansada por ter pernoitado em São Paulo na casa de uma amiga.

– Ah, as coisas já não estavam tão boas entre o Will e eu, então decidi vir e terminar meu curso. Depois de dois anos eu não poderia mais trancar a faculdade e perderia a minha vaga, então decidi voltar. De qualquer forma, – ela deu de ombros como se não fosse nada de mais – não havia mais nada que me prendesse lá.

– Por que não nos contou? – a tia Marta perguntou ainda tentando processar a informação. Claro que ela estava contente pela volta da filha, mas ela sempre gostava de saber das coisas, de ter o controle.

– Ah, eu decidi de última hora então resolvi não contar. Não é legal? Estou de volta!

Eu só dei uma risadinha, sem saber o que falar, ainda me recuperando do choque.

Seria ótimo ter a minha melhor amiga por perto. Dois anos pareciam tempo demais e, pelo jeito, muitas coisas tinham mudado, principalmente ela.

Estávamos em abril e devido à greve da universidade federal do Rio grande do sul, onde a Natália estudava, as aulas só teriam início no final do mês. Tempo talvez viável para ela conseguir efetuar a matrícula, ainda que com atraso.

Nunca pensei (completa)Where stories live. Discover now