Capítulo 10

2.1K 256 17
                                    



Juro que quase me perdi na letra da música ao ver o Tobias. Isso só não aconteceu porque era a vez da minha tia cantar, e quando chegou na minha, eu já tinha me recuperado um pouco do susto. Mas só um pouco. Porque quando eu afinal cantei a primeira vez na frente do TOBIAS, ele sequer conhecia esse aspecto do meu passado, ele ficou olhando para mim, e eu não pude tirar os meus olhos dele também. Mais por surpresa do que por qualquer outra coisa. E ele acenou na minha direção e me mandou um beijo no ar com a mão.

Sério! Ele fez isso. Me-mandou-um-beijo! No-ar! Ele teve a ousadia de fazer isso, como se a gente ainda fosse... ! Qualquer outra coisa ao contrário do grande NADA que éramos.

Porque nos meses em que passamos separados ele foi incapaz de me ligar, de mandar uma mensagem, ou mesmo de dar um sinal de fumaça! Então a surpresa começou a dar lugar para a raiva, e acabei desviando meus olhos daquele ser irritante.

Eu ainda cantava, agora era um solo, enquanto a minha tia se mantinha parada ao meu lado. Uma música em inglês e atualmente uma das minhas preferidas: "A Thousand Years, da Christina Perri." Eu a tinha escolhido naquela noite pensando exclusivamente no Rafa. Planejava cantar para ele, olhando para ele (se eu tivesse coragem o suficiente para isso!), mas o Tobias tinha escolhido justo aquele momento para ressurgir das cinzas e estragar tudo.

Apesar da raiva que estava eu sentindo, tinha que confessar que ele ainda era capaz de mexer comigo. De balançar a minha já confusa e patética vida amorosa um pouco mais.

Enquanto eu cantava "Heart beats fast, colors and promises, how to be brave, how can I love when I'm afraid to fall (o coração acelerado, cores e promessas, como ser corajosa, como posso amar quando tenho medo de me apaixonar), eu parei de olhar para o Tobias, e então meu olhar seguiu para o Rafa, depois procurou o Guta, e começou a passar de um para o outro sem se fixar em nenhum deles.

Ai, meu Deus! Sério mesmo que os três estavam ali, olhando para mim? E sorrindo para mim? E...

Dois deles pareciam interessados, mas o que importava de verdade só queria ser meu amigo. Mesmo assim, comecei a me sentir um pouco pressionada com os três pares de olhos - seis olhos masculinos! - fixos em mim. Quando eu afinal acabei a música, a música que eu cantava olhando para os meus amores, - para o antigo, o atual e o outro situado num meio terno disso - não fui mais capaz de prosseguir.

Então fiz um sinal para a minha tia continuar sem mim. Era quase o final do nosso show, só faltavam duas músicas, então seria possível que ninguém notasse a minha saída.

Eu não queria descer na frente do palco e ter que encarar todo mundo, então simplesmente saí pelos fundos. Busquei a porta de entrada dos funcionários, que era na parte de trás do prédio. E isso fez com que eu saísse em outra rua, e tivesse que dar uma baita volta na quadra sozinha, no escuro e com frio. Sim, porque com a pressa em deixar todos para trás eu tinha deixado o meu casaco - e como fazia frio naquela noite! - com as minhas chaves no bolso, na cadeira onde eu me encontrava antes. Com o Guta!

Além de eu estar praticamente congelando com o meu vestido rosa pelado, ainda não tinha as chaves para entrar. Tudo bem, o porteiro abriu a porta do prédio para mim (nós tínhamos porteiro nos dias em que a casa de festas abria, para controlar a entrada), então pude pegar o elevador e parar em frente ao meu apartamento sem saber o que fazer. Porque eu não queria voltar para o bar, de jeito nenhum eu voltaria para lá. Se eu fizesse isso, teria que encarar o Tobias, coisa que eu não sentia a menor vontade.

Talvez, se eu o ignorasse, ele acabasse indo embora e sumisse de novo da minha vida. Com sorte, dessa vez para sempre.

Ainda bem que eu estava com o meu celular. Meu celular e eu éramos meio que inseparáveis, e ele tinha ficado o tempo todo perto de mim no palco. Então, resolvi pedir socorro. Para o que viesse antes, para qualquer um que chegasse primeiro. Antes que eu congelasse de tanto frio.

Nunca pensei (completa)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ