Capítulo 9

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No dia seguinte, acordei com uma baita ressaca. Com dor de cabeça, boca seca e sentindo um pouco de náusea. Por isso, recusei o convite da Nati de almoçar na casa da mãe dela e optei por ficar sozinha e mais tempo na minha cama. Dormi até tarde, só levantando perto do meio-dia. Eu não estava me sentindo muito bem, fisicamente e emocionalmente também.

Estava cansada de lutar comigo mesma e não conseguia tirar da cabeça a imagem fofa do Rafa nos aplaudindo na noite anterior, entre outras coisas... Dele sorrindo lindamente para mim... Do peito sarado e gostoso dele...

Ele era gato demais, querido demais, delicioso demais... E estava muito difícil... Então fiquei na cama até tarde, e inclusive acabei chorando um pouco.

Aceitar que eu gostava dele era uma coisa, saber o que eu faria a esse respeito era algo bem diferente. Eu simplesmente não sabia. Desejava desabafar com alguém, pedir conselhos, mas com quem? Então decidi falar com a minha amiga Melissa. Ela costumava ser uma ótima conselheira e seria uma ouvinte totalmente imparcial.

Liguei para ela, mas ela não poderia me encontrar nessa semana, só no fim de semana que vem. E como eu queria conversar pessoalmente, resolvi esperar. A gente conversou uma meia hora pelo telefone, mas nada sobre o que realmente me afligia.

Então, a não ser na hora dos ensaios com a minha tia, eu passei o sábado sozinha na minha casa, evitando as pessoas. E desci somente na hora do show. A Nati também estava trabalhando lá agora, servindo as mesas no meu antigo cargo. Seria bom para ela se manter ocupada e também ganhar um dinheiro extra. Ela tinha ido direto de casa com a tia Marta, não tinha ido me ver antes. Até porque não teve tempo, pois passou a tarde de sábado com um carinha no cinema. O mesmo que ela reencontrou no facebook.

Sem muita opção, coloquei novamente o meu vestido de lantejoulas azul. Eu definitivamente precisava de roupas novas, mas essas do tipo que eu usava para os shows eram caras, e eu estava meio apertada de grana. Meu apartamento novo tinha acabado com as minhas economias, e ainda faltava um monte de coisas para comprar. Coisas até mais importantes do que roupas.

Então tentei pelo menos fazer algo diferente com os meus cabelos e os prendi em uma espécie de coque. Como eu estava me sentindo feia e sem graça, acabei fazendo uma maquiagem leve, quase imperceptível, para que todo o brilho de roupa e maquiagem não contrastasse muito com o meu estado de espírito.

E lá fui eu cantar. Deixando extravasar na música toda a emoção melancólica que eu sentia. E foi lindo! Acho que a dor de cotovelo deixa a gente inspirada, e por isso foi o meu melhor show. Tanto que, ao acabar, minha tia e eu fomos abordadas por um repórter do jornal de maior circulação de Porto Alegre, que dizia ter adorado nos ver. Ele nos elogiou e então nos entrevistou e tirou fotos.

Depois disso, acabei indo embora. Sem conversar muito com o Rafa ou com a Natália. O Rafa me pareceu cansado demais, com umas olheiras fundas evidentes, o que me fez pensar que devia estar se esforçando mesmo para o tal concurso.

Então na segunda-feira a minha tia e eu aparecemos estampando a capa da parte de entretenimento do jornal para o qual fomos entrevistadas. Lá estava eu, com o vestido azul de lantejoulas, e com um sorriso no rosto. Até que a gente, a tia Marta e eu, saímos bem na foto e ficamos bonitinhas. E o jornalista disse, entre outras coisas, que o nosso show de tia e sobrinha era imperdível.

Mais uma semana passou voando para mim...Na terça-feira, encontrei o Rafa na academia. Na quinta, não. Apesar da minha ansiedade para vê- lo, ele não estava lá.

Durante a semana, recebemos uma ligação da dona da loja onde eu adquiri o vestido azul de lantejoulas, e onde eu havia namorado tantos outros só não pude comprar. Ela tinha visto o seu modelito no jornal e se ofereceu para nos vestir para o show, desde que pudesse divulgar o nome da loja e fotos nossas. O que eu topei totalmente, roupas novas e ainda por cima de graça eram muito bem-vindas.

Nunca pensei (completa)Where stories live. Discover now