Capítulo 15

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Naquele sábado à noite, desci mais cedo, antes do bar-casa de festas Moises abrir. Havia uma enorme fila de pessoas esperando para entrar, que ia desde a porta até a calçada, quase chegando à esquina. A casa fazia sucesso agora, e os dias de sábado eram os mais lotados. Acho que aquela reportagem no jornal elogiando a gente ajudou muito. E, desde aquele dia, o movimento se mantinha.

Contornei aquela enorme fila e passei na frente de todos, coisa permitida para mim tal como uma funcionária da casa. Claro que havia a porta dos fundos exclusiva para os funcionários, só que para chegar até lá eu tinha que dar toda a volta na quadra, e a portaria do meu prédio era ao lado dessa porta, a mesma dos clientes. Então valia a pena enfrentar a cara feia de alguns por estar furando a fila. Mas eram poucos que reclamavam agora, acho que a maioria – pelo menos os clientes assíduos – já me conhecia por causa dos shows. Muitos até me cumprimentaram com sorrisos ao me verem furando a fila. O que eu retribuía, é claro, mesmo não tendo a menor ideia de quem eram a maior parte deles.

Era raro eu descer mais cedo como naquela noite, mas eu estava um pouco ansiosa. Principalmente por causa do Rafa, pelas coisas que ele tinha me dito mais cedo. Mas também por saber que todos os meus amigos, tanto os do colégio como os da faculdade, estariam presentes naquela noite. Os do colégio já haviam reservado uma mesa com antecedência. Já as minhas amigas da faculdade, com quem eu havia me encontrado na noite anterior, haviam ficado com tanta vontade de comparecer que quando eu soube que tinha uma desistência nas reservas das mesas logo liguei para elas.

Mesmo sabendo que isso provavelmente implicasse na presença do Tobias também. Já que a Bianca e a Paty agora viviam grudadas no Marcelo, um dos melhores amigos do Tobias.

Seria estranho revê-lo após a noite anterior, em que eu simplesmente fugi no meio da noite e depois não dei mais sinal de vida. Mas, de alguma forma, aquilo não me deixava muito nervosa. Não era do perfil do Tobias me confrontar, fazer um escândalo ou algo assim na frente do Rafa. O mais provável era que ele ficasse na dele. Ele era muito seguro de si, muito orgulhoso, e com certeza já tinha percebido que eu falei sério quando disse que só queria uma única noite. Tinha certeza que ele não insistiria.

Era mais do perfil dele ficar com outra na minha frente para tentar me provocar do que me confrontar. E admito que pensar nessa hipótese me dava até um pouco de alívio. Eu só tinha cedido e ficado com o Tobias na noite anterior devido à carência, e também por não ter certeza de que o Rafa de fato me queria. Mas, depois da nossa conversa mais cedo, não havia espaço na minha vida para mais ninguém.

De qualquer forma, eu não estava nervosa pela suposta vinda do Tobias. Sabia que, se eu quisesse novamente a presença da Bianca e da Paty – e eu queria – na minha vida, o Tobias provavelmente faria parte do pacote. E se fosse para enfrentá-lo depois da noite anterior, melhor mais cedo do que mais tarde. Pelo menos, era o que eu achava.

No momento em que cheguei ao bar, não havia ninguém ali – nem Tobias, nem ninguém do tipo para incomodar –, apenas os funcionários do bar que arrumavam os últimos detalhes antes da abertura. E entre esses funcionários estavam a Nati, para quem eu acenei de longe (ela já tinha ido lá em casa antes), e o Rafa. Esse último estava parado lindamente atrás do balcão, organizando alguns copos, e sorriu ao me ver. Um sorriso muito fofo.

É claro que eu fui lá falar com ele. Ele era fofo demais, e eu agora tinha certeza de que ele me queria também.

– Oi. – falei e sentei numa das cadeiras vermelhas altas em frente ao balcão.

– Oi. Veio cedo hoje.

– É. Eu vim ver você. Antes que você ficasse ocupado e não tivesse tempo para mim.

Nunca pensei (completa)Where stories live. Discover now