17. Com você - Emily

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— Este é Lucky, nossa arara. — Giovanni ergueu surpreso as sobrancelhas e eu percebi como minha fala fora dúbia. Ri sem jeito. — Nossa... quero dizer minha e do Gustavo, mas ele fica aqui em casa porque os pais do Gus não gostam muito de animais.

Gustavo, que ainda estava paralisado ao pé da porta, bufou e me lançou um olhar raivoso. Eu sabia que ver-me com um namorado não era algo fácil para ele. Aproxime-me dele na tentativa de trazê-lo para a conversa, entretanto ele me fitou com seriedade.

— Vou fazer algo para comermos. — e saiu apressado para a cozinha.

Desanimada o acompanhei com a cabeça. Sabia que assim que Giovanni saísse, nós teríamos uma longa e pesada conversa. Era melhor mesmo ele ir para a cozinha, afinal cozinhar era um de seus hobbies calmantes. Giovanni sentou-se no sofá com Lucky em seu punho, ele analisava-o atento.

— Hum, ele tem a permissão do IBAMA.

Eu achei graça. Claro que como bom biólogo Giovanni logo se preocupou em se certificar que a arara era permitida.

— Ora, por acaso pensou que eu o havia roubado de algum lugar? — disse debochada. Ele riu comigo. Fui contaminada por uma sensação de tranquilidade, de repente estar com Giovanni parecia já fazer parte de minha vida há muito tempo. E eu sentia que podia ser eu mesma, sem me preocupar em agradá-lo. Sentei-me ao seu lado. — Eu e Gus fazemos trabalho voluntário na Casa de Resgate de Animais Silvestres e às vezes quando chegam animais que precisam de um lar os voluntários são os escolhidos. Lucky fora contrabandeado ainda filhote e estava muito magrinho e sem penas, doente. Nós nos propusermos a cuidar dele e aqui ele está forte e saudável há um ano. Quando o trouxemos para casa, o responsável do CRAS conseguiu a licença com o IBAMA.

— Eu conheço o CRAS, já fiz algumas visitas com alunos da Biologia. Eles têm um trabalho magnífico de salvamento e cuidado a animais maltratados. Não sabia que era voluntária lá.

— Sim, já faz uns anos. — sorri. O que mais teríamos em comum? As boas surpresas pareciam não ter fim. — Eu adoro estar lá, embora com a faculdade pouco tenhamos ido. Mas eu e Gus já combinamos que montaremos uma casa de resgate assim que tivermos como financiarmos.

— Acho que eu me sentiria muito bem fazendo esse tipo de trabalho.

Ele sorriu sonhador e eu mais ainda. Quem sabe no futuro ele dividiria esse sonho comigo e com Gus? Parecia que gostávamos das mesmas coisas e isso me soava muito bem. A emoção crescente em meu peito fez meus braços envolverem seu pescoço e dar-lhe um longo beijo.

Sabia como era precipitado imaginar um possível futuro quando nem fechamos uma hora de namoro. Mas meu coração saltava dentro do peito de modo que não podia ser ignorado. E quando isso acontece pensar com racionalidade era bastante difícil.

Lucky gritou e soltou-se do braço de Giovanni ao voar de volta ao seu poleiro, nos fazendo interromper o beijo. Rirmos uma ao outro, sem um motivo aparente. Talvez pessoas apaixonadas sejam assim mesmo, sorriem por nada. Giovanni olhou o relógio e saltou do sofá.

— Preciso ir, tenho reunião com os coordenadores de curso.

Já? Quis resmungar, mas segurei a frustração e me ofereci para acompanhá-lo até a entrada do prédio. Ele achou desnecessário, pois tinha o porteiro eletrônico para abri-la. Nossos lábios se uniram em um longo beijo de despedida.

— Depois da reunião, poderíamos sair para jantar, talvez pegar um cineminha? — seus olhos me fitavam com intensidade. Confirmei sorridente com um aceno. Ele beijou-me novamente. — Te pego por volta das sete.

Assim que fechei a porta sonhadora e decidindo que roupa colocaria para sairmos à noite, Gus já estava parado com os braços cruzados atrás de mim. Quase tropecei nele quando me virei.

— Vai me contar ou não como isso aconteceu? Ele é seu professor e tão velho!

— Ele foi meu professor, talvez nunca mais seja. — tentei amenizar a indignação dele. — E não é velho!

— Não sei se isso está certo, Emily! — Gus deitou-se no sofá emburrado.

— Também não sei, mas estou tão feliz que acho que não me importo. — Suspirei ao erguer suas pernas para eu sentar ao seu lado.

Meu amigo me encarou com compreensão, havia decidido ouvir meu ponto de vista. Contei todos os detalhes para Gus, que ouviu sem interromper, apenas arregalava os olhos, pensativo. Quando terminei, ele suspirou.

— Espero que ele seja mesmo um cara legal. Se ele te fizer mal vai se ver comigo.

Deu-lhe um peteleco na perna sobre as minhas e ri, como se o repreendesse por sua ousadia. Gustavo sempre fora meu protetor, apesar de ser incapaz de bater em alguém.

Preocupado ele olhou para o teto, ao soltar todo o ar dos pulmões. Eu sabia o que, na realidade, o incomodava ao me avistar nos braços de Giovanni. Por fim, ele decidiu me pôr a par do que eu já esperava.

— Sabe, fiquei um pouco chocado quando te vi abraçada nele.

— Eu sei. — puxei sua mão entre as minhas. — Mas as coisas mudam e não posso viver no passado.

— E meu irmão? — Gus me lançou um olhar profundo. Aquilo me cortou o coração e me senti a pior de todos os seres existentes no planeta.

— Ah! Ricardo e eu nunca seremos como antes, sinto muito.

— Eu sei. Não esperava que fosse como antes. Mas esperava que vocês pudessem amadurecer e assumir um namoro, como acabou de fazer.

Nossa! O Gustavo sabe tocar nos meus pontos fracos como ninguém. O pensamento me atingiu com uma flecha. Realmente não havíamos namorado por pura falta de maturidade, o que eu não tinha tanta certeza de ter adquirido só porque agora namorava Giovanni. Contudo, minha história com Ricardo era muito mais confusa e apesar de ele ter sido sempre meu caso amoroso, estávamos separados há quase um ano e eu não consegui imaginar que seria possível um retorno ao nosso relacionamento, muita coisa havia ocorrido entre nós neste meio tempo. Abracei Gus amigavelmente e ele retribuiu.

— Você nunca perdeu a esperança de nos ver juntos novamente, não é?

— Vocês dois são as pessoas mais importantes na minha vida. Seria muito bom vê-los juntos... e é tão estranho vê-la abraçada com outro cara que não seja o Ricardo. Sinto-me excluído. Não sei onde me encaixo nessa nova história.

— Não sinta, sabe que ninguém no mundo poderá nos distanciar. — senti um aperto no perto, parecia que eu o descartava agora que tinha uma nova pessoa em minha vida. — Pode vir conosco hoje.

— Não, obrigado, com certeza será pior. Terei de me acostumar a perdê-la por algumas horas todos os dias.

Ele beijou minha bochecha em sinal de paz. Sorri por ter sua compreensão e também seu apoio. Afinal não importava se concordávamos com as escolhas um do outro, nossa amizade estaria presente para as glórias e os fracassos. E eu esperava de todo o coração que eu e Giovanni fôssemos uma história melhor do que foi a minha com Ricardo.

Um arrepio passou por minha barriga, eu estava ansiosa para ver o que aconteceria com esse namoro. Ainda parecia sonho esse novo status do meu relacionamento com Giovanni. 


Jovem AmorWhere stories live. Discover now