Ele devia ser um bom pai, pena que não era o meu – Pensei. Essa história de que a grama do vizinho é mais verde, isso é verdade.

Bom, entrei no prédio. Informei ao porteiro onde eu iria, não tive problemas, apesar de ele ser novo no emprego, já nos conhecíamos de vista. Esperei o elevador. Batia o pé no chão nervosa. O elevador não demorou tanto assim, eu é que estava bastante impaciente. Enfim, toquei a campainha do apartamento. Vero quem atendeu-me.

- Camila? Que surpresa. – Sorriu ao ver-me.

- Oi.

- Entra...

- A Dinah, está? – Disse aflita.

- Não. Ela saiu com meu tio, mas, não deve demorar. Pode esperar se quiser – Disse notando minha expressão decepcionada.

Desabei no sofá da sala. Eu estava tão perdida.

- Espero sim – Disse quase num sussurro.

- Quer uma água? Você está pálida! Aconteceu alguma coisa? – Preocupou-se.

- Não... Não se preocupe – Disse já começando a chorar novamente.

Incrível o que acontece quando estamos fragilizados. Basta alguém perguntar como estamos para a vontade de chorar retornar. Vero ficou comovida, sentou-se ao meu lado e abraçou-me. Não consegui recusar o seu abraço, na verdade, eu precisava de um abraço, por isso fui até ali. Precisava desabafar com alguém, do contrário iria explodir. Queria uma palavra amiga, um ombro pra chorar. Pensei em Dinah, mas, como ele não estava, e Vero, bom, Vero parecia tão disposta a ouvir-me. Seu abraço fora tão acolhedor, tenho que admitir. Senti-me bem confortável nos braços dela.

- Pode chorar, Camila – Disse abraçando-me ainda mais forte.

Foi o que eu fiz, chorei por quase dez minutos sem parar. No silêncio do ambiente, só dava pra ouvir o barulho do meu pranto sendo derramado. Dramático isso, não é? Pois foi exatamente o que aconteceu, sem mudar uma vírgula. Teve um momento que eu fiquei quietinha com a cabeça ainda apoiada no ombro de Vero. Percebi que eu estava cansada de chorar. Minhas lágrimas deviam ter acabado, será que eu precisava beber água, agora? Esquece! – Pensei. Ergui a cabeça. Enxuguei o rosto na camiseta que eu vestia.

- Está se sentindo melhor agora? Quer conversar? – Disse Vero.

- Ela me usou – Disse entre soluços.

- Quem? Lauren? O que aconteceu? – Estava confusa.

- Pensei que ela pudesse deixar o noivo, ficar comigo, Sei lá! Pensei que Lauren gostasse de mim, mas, não, ela só queria... só queria... – Não consegui dizer, estendeu-se um nó horrível na garganta.

- Sexo? – Disse com naturalidade.

- É – Concordei mortificada.

- E o que você acha que uma mulher como ela iria querer com você além de sexo? Você é uma menina, Camila. Lauren é uma mulher, quase casada, diga-se de passagem – Sua voz não soava agressiva, mas pra mim, pareceu, ou eu quis que soasse, sei lá. Se vocês pudessem ouvi-la naquele momento, talvez diriam que o seu tom de voz era até calmo demais.

- Vai ficar me martirizando ainda mais? – Disse aborrecida.

- Quer que eu passe a mão na sua cabeça? – Disse irônica – Caia na real, Camila! Esquece essa mulher. Porque se você não esquecer, vai ficar sempre sofrendo desse jeito por causa dela.

Levantei-me deveras aborrecida com sua falta de sensibilidade. Falta de sensibilidade ou excesso de realismo? Fiquei na dúvida. Eu não queria ouvir nada daquilo que Vero disse, embora eu já tivesse admitido que havia sido usada. Estranho, né? Eu podia falar que Lauren tinha feito tudo aquilo comigo, mas, ouvir outra pessoa dizer, era a confirmação de que eu não estava errada, e sinceramente, eu queria estar errada.

- Eu amo a Lauren, droga! Como vou esquecê-la? – Disse alterada.

Vero levantou-se exibindo uma calma irritante. Senti seu olhar sobre mim. Ela não disse nada. Apenas aproximou-se, fechou os olhos e beijou-me. Abracei-a, senti suas mãos no meu pescoço, delicadamente ela puxava-me para que o beijo se prolongasse. Sua língua era macia e delicada, e ela tinha um gosto de menta na boca.

Paramos de nos beijarmos, e Vero permaneceu com os olhos fechados por alguns segundos. Eu que não consegui fechar os meus nem na hora do beijo, fiquei parada, olhando a sua expressão. Eu havia pensado em tantas coisas ao mesmo tempo, menos naquele beijo. O que eu estava sentindo? Eu tinha que sentir alguma coisa, não acham? Que...Que momento era aquele?

Vejamos. Eu estava no momento decepção, passei pelo momento confusão, e agora, olhando pra Vero, eu parecia ter estacionado no momento... no momento... Sim! Momento comparação! Os beijos de Lauren eram insuperáveis – Pensei.

Vero abriu os olhos e sorriu, um sorriso tímido, pelo canto dos lábios.

- Deixa eu fazer você esquecer essa professora, Camila – Disse segura.

- Bom... Eu... – Estava sem saber o que responder. Salva pelo gongo – Pensei ao ver a porta se abrindo.

Suddenly is loveWhere stories live. Discover now