invisible string (taylor swift)

and in a blink of a crinkling eye, everything has changed

— Eu te amo, irmão. - Digo, sem necessidade de florear mais nada, porque ele entende. Tanto entende como, bem no segundo seguinte, já me responde:

— Eu também te amo, seu porra. Agora, anda logo - O quarterback bagunça meu cabelo e, depois, bate em meu capacete, um lembrete não verbal de que provavelmente estamos extrapolando o tempo da concentração. — A gente tem uma conferência pra vencer.

***

Estamos perdendo. É por apenas uma jogada, mas, ainda assim, perdendo. E eu não consigo lidar com a perda, não quando percebo dois olhinhos ansiosos no topo do camarote, com a cara prensada no vidro e as mãos agarradas ao corrimão de sustentação. Não quando a mulher mais linda do mundo segura nos ombros da minha filha - da nossa filha - e, com o rosto mais tranquilo do Universo na direção dela, diz para não perder as esperanças.

Eu pisco em minha posição. Taylor ainda se encontra bem ao lado de Autumn - consigo ver de onde estou -, suas mãos tranquilizando-a enquanto a segura pelos ombrinhos agasalhados por um moletom temático do Chiefs. Semicerrando os olhos, me esforço para entender o que está acontecendo e, bem no momento em que o furacãozinho coloca as mãos nas bochechas, sustentando o rosto como se estivesse prestes a chorar, eu a vejo, jogando o cabelo na lateral e soltando o ar devagar.

Não sei o que acontece. Nunca fui bom em leitura labial, para ser sincero, portanto, considero tudo o que vem depois da minha breve olhada um grande milagre - principalmente se levarmos em consideração que nós dois estávamos a bons metros de distância.

Mas o fato é que, bom... Acontece.

A noite está simplesmente gélida, apesar de jogarmos em casa. Ainda assim, o frio não é capaz de acabar com a intensidade do momento que se estende em minha cabeça quando eu avisto, do topo do camarote que um dia comprei para que minha família dos sonhos me assistisse jogar, a minha mulher dizer, próxima ao ouvido da criatura que colocamos no mundo: "O papai resolve".

Bem nessa hora, foi como se nada mais existisse. Nada além de mim e de Patrick, da nossa conexão inabalável em campo, do sentimento que compartilhávamos em conseguir simplesmente ir em frente pelas posições. A torcida não existia mais nas arquibancadas, seus gritos não eram mais audíveis, o jogo já não se desenrolava mais na frente de milhares de pessoas.

Apenas de duas.

As duas - tudo bem, três, desculpe Summer, se você estiver ouvindo isso - pessoas mais importantes de toda a minha vida. No final do último quarto da partida, enquanto meu coração pulsava em comunhão com o placar impiedoso de CHIEFS 27 x BILLS 30, a minha partida só era feita por elas. Para elas.

É agora ou nunca.

Guardo minha respiração e desvio meu olhar para procurar por Patrick. Bem na hora, ele ajusta o capacete, nosso sinal secreto de que estamos prestes a massacrar alguém. Meu quarterback me observa com confiança, possivelmente depois de identificar alguma vulnerabilidade em nosso adversário que o faz se preparar para o som perturbador do snap.

O estádio de repente se mostra em silêncio, sem qualquer confiança de que aquilo pode acabar bem. Algumas pessoas possivelmente já desistiram do Super Bowl diante da linha defensiva extremamente bem posicionada do Bills, pronta para arrancar toda e qualquer fagulha de esperança de nós. Ainda assim, ao invés do snap, tudo o que consigo ouvir em minha mente quando a jogada começa é a voz da mulher mais poderosa da América, seus lábios vermelhos delicados quase chegando até a orelha de nossa filha e dizendo, docemente: O papai resolve.

E então eu corro.

Corro minha rota em uma precisão quase cirúrgica, cortando para a direita no momento exato em que alguém da defesa adversária me esperava ir para a esquerda. Tenho a sensação de que estou invisível por um instante, o breve prazer de que sou um fantasma entre os defensores do Buffalo Bills me fazendo querer gritar em êxtase. Ainda não.