invisible string (taylor swift)

one single thread of gold tied me to you

"Eu reconheci você." Expliquei, finalmente, tomada por um feixe de coragem que provavelmente veio do olhar calmo do jogador ao meu lado, o qual guardava um breve sorriso em seus lábios vermelhos. Eu amava aqueles lábios. "É claro. E então fiquei muito nervosa, porque eu tive medo que você me reconhecesse. Ou, pior, que me reconhecesse como a artista que eu era, e não como a sua mãe."

"Você me reconheceu?" Minha filha pareceu surpresa, o tom de sua voz beirando a incredulidade e me ocasionando uma dor meio repentina no peito. Respirei fundo, chamando-a para perto, querendo colocá-la em meu colo. Mais uma vez, a necessidade de tê-la o mais perto possível de meu ventre me deixava tonta. "Mesmo?"

Eu engoli em seco. Ouvi quando a cadeira de Travis se remexeu, mas fiquei um pouco mais calma quando Auts caminhou até mim e se ajustou horizontalmente nas minhas pernas, enlaçando os braços em meu pescoço.

"Claro que sim." Sussurrei, próxima ao seu ouvido e lhe deixando um beijo calmo em seus cabelos, que cheiravam à baunilha. "Eu te reconheceria em qualquer lugar, Autumn. Você era o meu bebê. Sempre foi."

Ela ficou em silêncio. Mais uma vez, presenciei o fantasma da dúvida em seus olhos, provavelmente assombrando-a com a sensação de que eu não estava falando a verdade. Por isso, e porque começava a sentir saudades de tê-la ainda mais perto de mim, puxei Autumn até que as costas dela se encostassem na região do meu colo e transpassei os braços ao seu redor, fazendo-a olhar a festa de frente.

"Não sou mais um bebê." Foi tudo o que a minha filha disse, um quê de mágoa deixando sua vozinha infantil e vulnerável. Aquilo me fez hesitar, me deixou brevemente incomodada e com um nó na garganta que não vinha mais surgindo com tanta frequência. Acima de tudo, eu a entendia. Ainda existia nela a insegurança por eu ter partido, por tê-la deixado sem mais explicações. Quando ouvia o sentimento e a confirmação de que a amava saindo da minha boca, muitas vezes, minha pequena ainda sentia dificuldades em acreditar em ambos.

"Sempre vai ser o meu." Voltei a sussurrar, beijando a sua orelha como uma mãe zelosa. Autumn se mexeu no meu colo, virando-se pra mim, o corpo colando no meu como um ímã até que ela parecesse completamente presa ao meu ventre, como já tinha sido, há tantos anos antes. "Mesmo que você esteja adulta."

Na ocasião, eu a puxei mais para perto, tentando fazer com que nós duas nos fundíssemos — eu, Autumn, e a neném que estava em minha barriga. Minhas meninas. Eu me sentia um pouco mal em fazer aquela distinção de gênero tão cedo, com medo de que, no final das contas, o bebê acabasse se sentindo preterido caso viesse um menino. Ainda assim, acho que era contagiante a maneira como Travis estava convencido de que Autumn seria irmã mais velha de outra menininha, outro pequeno furacão de olhos azuis e cachinhos dourados capaz de virar a nossa casa de cabeça para baixo.

Fechei os olhos. A festa continuava a toda ao nosso redor; pessoas dançando, homens brindando, famílias animadas com o início da temporada. Uma ou duas pessoas me ofereceram bebidas, as quais eu recusei, e, à medida que o tempo começou a passar, fui percebendo o movimento se dissipando, Travis ficando cada vez mais perto de mim e de Autumn.

Quando chegou perto da hora de realmente irmos embora, ele estava com o braço transpassado pelos meus ombros enquanto a nossa filha dormia em meu colo. Eu conseguia ouvir seu coraçãozinho bater, o som ritmado dando ainda mais vida ao tum-tum do meu.

"Sabe" Ouvi ele sussurrar contra minha orelha, seus lábios fazendo um movimento engraçado e quente em meu ventre, com Autumn ainda grudada em mim. "Ano passado estive nessa mesma festa. Quase as mesmas pessoas, mesmas comidas, mesmas bebidas. Até o cara que contrataram para cuidar da música é o mesmo, eu acho."

"É um DJ." Brinquei, dando um sorrisinho para Trav ao mesmo tempo em que alisava os cabelos da nossa garotinha. Ele também riu; seus olhos verdes, mesmo sob a precária iluminação da festa, eram duas orbes penetrantes e vívidas, que me engoliam mesmo diante do breve refletir dos holofotes vindos do palco à frente de onde estávamos. "Ele tocou duas músicas minhas."