Eu os entendo. De verdade. Sei que eles a querem de volta na vida de Autumn, mas não na minha. Sei que para todos é difícil me ver ao lado da mulher que me abandonou e me deixou sozinho por dez anos, tomando conta de uma criança que nós dois fizemos juntos. Mas a questão é que eles não conhecem Taylor; não sabem da sua disposição para ficar, não confiam nela tanto quanto eu porque não estão convivendo ao seu lado. Eu a enxergo pelo que ela é, e estou tentando fazer isso de uma maneira que enterre de uma vez por todas os erros do passado que nós dois cometemos. Sem amarras, sem arrependimentos. Estou com ela agora, e não preciso ficar me relembrando das coisas que já se passaram.
Ainda assim, não quer dizer que eu não me ressinta. É claro que sim. Gostaria que Jason e Kylie não tivessem me ligado assim que eu postei a foto em meus instagram privado, como também gostaria que eu não precisasse ter que recusar a chamada. Gostaria que eu não tivesse visto as milhares de mensagens que chegaram do meu irmão, explicando que aquela seria uma má ideia e que "a mamãe está prestes a ter um troço". Honestamente, gostaria que eles não se metessem tanto na minha vida, apesar de saber que fazem isso porque me amam.
— Você está ótima, Tay! – Mahomes cumprimenta a minha namorada, que lhe dá um abraço rápido de ombros. Tenho vontade de lhe expressar a minha gratidão dizendo o quanto amo aquele filho da puta, mas me contenho e decido fazer isso quando estivermos ambos bêbados. — Espero que eu seja o padrinho dessa vez, hein?
— A gente ainda não decidiu. Talvez a melhor amiga da Tay vá ficar com essa. – Digo, só porque quero provocá-lo e fazer a mulher que amo feliz na mesma proporção.
Eu a aperto na cintura quando ela se volta em minha direção, rindo e balançando a cabeça em negativo.
— A gente ainda não falou sobre isso. – Mais uma vez, testemunho sua expressão brincalhona se voltar para Brit e Patrick, segundos antes de seu corpo se dirigir à esposa de Mahomes e abraçá-la como se as duas fossem velhas amigas. — Olá. Como você está? E você, lindinha?
As duas mulheres travam um diálogo curto por alguns segundos, o qual eu e meu melhor amigo apenas observamos, como os velhos camaradas apaixonados que éramos. Refletindo em silêncio, enquanto admiramos as nossas mulheres sendo as protagonistas da conversa, reconheço que senti falta de me sentir daquela forma saindo com Patrick; de ter alguém, de fazer coisas do trabalho com alguém me esperando em casa, de saber que a minha filha está bem acompanhada e sendo extremamente bem cuidada enquanto eu não consigo estar presente.
— De qualquer forma, como vai se chamar essa? – Mahomes pergunta, criando uma rodinha entre nós quatro (e Sterling, claro), analisando com o canto do olho quando Taylor volta para mim, enroscando-se em meus braços. Eu a abraço por trás e beijo seu pescoço, sentindo o cheiro maravilhoso dos cabelos dela reverberarem pelo meu organismo. Perfeita. — Se for menina, Winter?
— Você é doente. – Falo, especialmente quando me dou conta de que todos nós estamos rindo, inclusive eu. — A gente ainda não sabe. Foi bem surpresa, na verdade.
— Travis acha que é uma menina. – Tay dá de ombros, e eu tento não ficar impressionado com o quanto ela parece uma pessoa comum ao conversar, como se não fosse a porra da mulher mais poderosa do planeta. — Ele tem certeza absoluta disso.
— De qualquer forma, a gente ainda pode ser padrinho de duas. – Brit murmura, escondendo a boca com a mão livre e dando uma risadinha. Ela olha para Patrick quando o faz, como se esperasse que o marido captasse a piada. — Vocês vão ter que fechar as quatro estações, né? Autumn, Winter, Spring e Summer.
— Bom, não sabemos sobre isso. – Taylor brinca, a mão parada em minha nuca na nuance de fazer um breve carinho no local, o sorriso estampando seu rosto enquanto ela fala. Gosto da ideia de termos muitas crianças; sempre quis um lar cheio delas, mas entendo se ela não quiser. — Estou redescobrindo a maternidade, e tenho medo de não dar conta de tantas. Mas vamos ver...
— A gente ainda não contou para a Autumn. – Explico para nosso casal de amigos, que balançam a cabeça em uníssono, como se quisessem dizer que entendiam. — E a Taylor também não anunciou nada oficialmente, o que é meio assustador, mas queremos fazer isso assim que falarmos para o furacãozinho.
— Ela vai ser uma irmã mais velha incrível. – Comenta Brit, e quase tenho a sensação de ouvir Taylor suspirar de alívio, com o corpo colado no meu. Eu imagino o quanto ela deve se apavorar com a ideia da nossa filha rejeitá-la por ter outra criança, mas, como já disse, não acho que Autumn vá reagir mal. Eu conheço minha garotinha; e, acima de tudo, ela foi amada demais a vida inteira para sequer imaginar que não é.
— Tenho certeza que sim. – Confirmo e, bem nessa hora, como se tivesse ouvido seu nome ser chamado, o furacãozinho aparece, correndo em nossa direção. Ela se agarra nas pernas de Taylor e desequilibra um pouco a mãe, que se segura nos meus braços por meio segundo antes de abaixar a cabeça para vê-la.
— Mãe, mãe, mãe! – A garota repete em um chamado só, segurando na cintura de Tay com alegria, puxando-a para frente e para trás. Eu acho engraçado, mas seguro seu ombro, pedindo que ela se acalme um pouco.
— Ei, ei. Calma. Já deu boa noite pro tio Patrick e pra tia Brit?
Parecendo se dar conta pela primeira vez da presença dos nossos amigos, Auts levanta a cabeça e, com um sorriso infantil, acena para os "tios".
— Oi, tio Patrick! Oi, tia Brit! E, oi, Sterling!
— Muito bem. – Ouço Taylor rir e brincar com o cabelo da nossa menininha, os olhos brilhantes de satisfação ao vê-la voltar a atenção novamente para seu corpo. Autumn torna a abraçar pela cintura e a olhar para cima, procurando pelas orbes azuis que eram tão parecidas com as suas. — O que era que você queria me contar?
— Posso fazer pintura de rosto?
Olho para Taylor de relance. Ela pausa um pouco, aparentemente se esforçando para processar a credibilidade do momento, cada sílaba da pergunta parecendo se dissolver em seus olhos até se assemelhar com uma informação completa. Autumn pediu uma permissão para ela, reconhecendo a sua autoridade como mãe, e por mais que aquilo devesse ser algo corriqueiro, diante da relação das duas, é meio novo para ela. Acho que a sensação que percorre seu estômago é a de que Auts está segurando a sua mão e dizendo, como uma voz tranquila: "sei que você é a minha mãe, e preciso da sua aprovação para isso, assim como precisarei de você por toda a minha vida".
Imediatamente, assim que meus olhos têm o prazer de admirar o corpo da mulher que amo, assim como sua expressão e seus lábios, sei que ela está fazendo um grande trabalho para não demonstrar sua emoção. Mas eu a conheço bem; os olhos dela estão úmidos, vívidos, alegres e preenchidos de um êxtase perceptível apenas aos olhos de quem ama profundamente. Seus lábios se abrem na direção de Autumn, que ainda segura a cintura da mãe com devoção e expectativa, as duas mãozinhas unidas em um formato oval ao redor da saia da mulher. Taylor sorri.
É engraçado como deixamos de dar significado aos pequenos momentos, quando nossas vidas são quase completamente feitas e iluminadas por eles. São nos breves feixes de minutos do dia a dia — um café passado porque a pessoa amada gosta, uma anotação em um livro, um pedido de permissão — que nos fazem refletir sobre a beleza que é viver. Depois que Taylor voltou, passei a dar mais valor a estes breves respiros do cotidiano; gestos que são aparentemente simples, mas que preenchem a nossa existência de significado.
Vejo quando a mãe da minha garotinha segura seu rosto, esforçando-se para deixar um beijo na ponta de seu nariz. Auts parece envergonhada, especialmente porque sei que um de seus amigos fiéis — o Chris Jr., obviamente — a observa de algum lugar. Ele provavelmente vai usar o "beijo da mamãe" como material para zoá-la mais tarde (como se eu não soubesse que faz isso porque gosta absurdamente dela), mas minha filha ama Tay demais para se esquivar do gesto. Eu e a pequena temos consciência do quanto ela aguardou por aquele momento, e o quanto o celebra em seu interior.
— Claro que pode. — A cantora finalmente diz, ajustando alguns fiozinhos da trança que saem do lugar e ocasionando o soar de um grito infantil de alegria no ambiente da festa. É alto o suficiente para se sobressair diante dos músicos e do DJ que toca no palco, aliás. — Mas só se vier me mostrar depois, combinado?
Autumn agarra a mãe com força antes de ir embora. Ela ri, o som de sua gargalhada preenchendo todo o ambiente, e desaparece segundos depois, exatamente da mesma forma como surgiu. Do nada.
Ainda assim, mesmo com a rapidez da cena, enquanto vejo seu corpinho se afastar com pulos frenéticos e me viro para olhar para a mãe dela, me pego pensando no quão sortudo eu sou por tê-las. Por tê-las.
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invisible string (taylor swift)
FanfictionOnde Autumn vive com seu pai, uma estrela em ascensão no time vice-campeão do maior evento de futebol americano do país. Crescendo sem nunca ter conhecido sua mãe, a menina mantém a certeza de que um dia elas se encontrarão, mesmo que o destino as r...
on a wednesday, in a cafe, i watched it begin again
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