invisible string (taylor swift)

you can hear it in the silence, you can feel it on the way home

Sendo assim, falo a verdade. Minha filha merece a verdade, penso, essencialmente, quando a reflexão me consome e percebo que estou em silêncio por um tempo considerável. A voz do meu furacãozinho me chama, e eu percebo que ela está rindo antes mesmo de virar para enxergá-la, as duas mãos presas no volante como se ele pudesse me levar para qualquer lugar no mundo - inclusive para o passado.

Ah, o passado. Quanta coisa eu mudaria se pudesse voltar até ele? Era até irônico que, com todo o dinheiro que eu havia ganhado ao longo da vida, graças aos shows e a música, não tinha conseguido comprar uma máquina do tempo para alterar os erros que cometera.

— Gosto. — Eu respondo, finalmente, em um sussurro quase inaudível. Engulo em seco como se não tivesse dito aqueles sentimentos antes; como se Travis e eu não tivéssemos confessado que ainda nos amávamos no chão de seu banheiro, poucos dias antes de eu descobrir que estava grávida de novo. — Na verdade, eu o amo. Há bastante tempo, Auts.

Olho para o GPS na central multimídia do meu carro, que fora comprado especialmente para ter a função a qual estou lhe fornecendo agora: a de dirigir até a escola da minha filha. Estamos quase chegando, mas eu não sinto vontade de encerrar minha fala agora, por isso, desvio a rota. Trav provavelmente ficaria irritado se soubesse, porque ele é bem rigoroso com horários, mas ainda faltam vinte minutos para as aulas começarem, e acho que Autumn e eu merecemos um café. Mesmo que a minha presença no drive-thru do Starbucks provavelmente vá causar um alvoroço, e mesmo que eu tenha consciência de que uma criança de nove anos provavelmente não deveria consumir cafeína, ignoro as regras um pouco. Estou grávida, tenho uma filha e quero passar um tempo com ela antes de mandá-la para a escola.

Sendo assim, eu simplesmente me viro na direção do banco de trás:

— Que tal a gente tomar um café antes da sua aula, no estacionamento do Starbucks?

Imediatamente, a loirinha assente, seus olhos azuis iguais aos meus brilhando. Ela adora toda a atenção que tem ganhado dos paparazzi, especialmente porque eles parecem, surpreendentemente, me respeitar mais quando tem uma menor de idade por perto. Provavelmente só sentem medo de receberem um processo enorme, mas, independente, fico satisfeita com o fato de que fornecem a privacidade que a minha filha merece — e os holofotes, quando ela assim almeja, também.

— Você vai me contar a história de como conheceu meu pai? — Pergunta ela, quando eu passo direto da rua onde deveria entrar para chegar ao seu colégio particular e sigo em frente, procurando o Starbucks mais próximo. Geralmente não sou fã de cafeterias de rede e prefiro um café feito em casa, com o carinho que apenas alguém que ama muito a bebida quente sabe preparar. Ainda assim, sei que aquela ocasião de mãe e filha pede algo mais diferente e simbólico, como um cappuccino cheio de chantilly e cake-pops de chocolate branco. — Todinha?

— Ele nunca te contou?

— Não. - Minha filha soa triste de repente. — Acho que a história deixava ele triste. Quando eu perguntava de você, ele quase sempre desviava do assunto. — E, logo em seguida, porque deve ter perceber a cara de decepção comigo mesma que acabo exibindo, ela acrescenta: — Não fica assim, mãe. Isso já passou. Estamos bem agora.

Subitamente, me sinto um pouco angustiada. Autumn é pequena o suficiente para se agarrar em meu colo, implorar para ficar comigo e não se separar de mim o dia inteiro; no entanto, também é crescida e forte o suficiente para dizer que superou a minha ausência durante quase toda a sua existência. Mais do que nunca, quero protegê-la. Abraçá-la para que ela nunca mais tenha a sensação de que não é amada pela própria mãe — a qual eu tenho a terrível impressão de que, por minha culpa, a assombrou por muitos anos.