Meu corpo para diante das palavras inocentes, minha respiração se transformando em algo brevemente caótico de uma hora para a outra. Acho que tenho alguma ideia do que Auts pode vir a perguntar, e apesar de querer responder a verdade sobre isso para ela, tenho medo de colocar as coisas a perder. Sei que Travis e eu combinamos que ela em breve saberia sobre o nosso status de relacionamento – o qual ainda nem sabemos como definir –, mas com a notícia da gravidez e nossos sentimentos se tornando um grande bolo de coisas confusas, tenho a sensação de que acabamos chegando a conclusão de que tudo – o suspense, a indecisão, os sentimentos – era meio desnecessário diante da obrigação que teríamos: o de criar outro filho, daquela vez, inteiramente juntos.
Ainda assim, seja o que for, nossa menininha merece uma explicação. Depois de todo o tempo que passei sumida, ela merece saber que eu gostava — e que ainda gosto, exageradamente — de seu pai; que nós dois estamos tentando alguma coisa, mas que ainda temos um pouco de medo de enfrentar nossos sentimentos do passado. Acho que há algo de bonito em afirmar para a minha filha que não sou perfeita, apesar de querer encontrar a minha melhor versão para ela. Por causa disso, dessa percepção que tenho, eu acabo afirmando vagarosamente, depois de sair com o carro por causa de uma buzina que toca atrás de nós. O semáforo tinha aberto, mas eu não vejo em um primeiro momento.
— É claro que pode. - Respondo, por fim, virando uma rua. — Você pode me perguntar qualquer coisa, bonequinha. Talvez eu nem sempre saiba de tudo - Faço questão de reiterar, forçando uma risada quando caio na armadilha de refletir sobre o quanto eu não sei, especialmente sobre a minha filha. —, mas vou estar disposta a descobrir. Por você.
Autumn assente, um sorriso verdadeiro e genuíno, os tipos que eu mais gosto, estampando seu rosto. Ela parece convencida com a minha força de vontade em tentar ajudá-la, rindo quando passamos por uma rua de Kansas City e avistamos o restaurante onde almoçamos juntos, eu, ela e Trav, pela primeira vez.
— É sobre o papai. - Diz, quando a placa do estabelecimento provavelmente evoca as mesmas memórias que temos, possivelmente em perspectivas diferentes. — Você dorme na cama dele, né?
Eu coro imediatamente. Quero perguntar para aquele furacãozinho de onde ela teve aquela ideia, mas, pensando um pouco mais afundo, acho que é meio óbvio. Em primeiro lugar, eu estaria sendo cem por cento injusta e superestimando a nossa capacidade — a minha e a do pai da minha filha — se dissesse que nós nos esforçamos o suficiente para esconder o nosso "caso secreto" de Autumn. Agora, refletindo as coisas com afinco, tenho a sensação de que tudo estava muito perceptível, especialmente para uma criança de dez anos, não uma de quatro. Além do mais, para completar, aquela garota era uma gênio ambulante. Eu tinha a certeza de que ela encontraria a cura do câncer se se esforçasse o suficiente um dia, quem dirá o fato de que seus pais estavam saindo.
— Bom - Suspiro, um pouco derrotada, mas exibindo um sorrisinho envergonhada, o qual é completamente visível através do retrovisor. —, você não deveria saber, mas durmo. Quase toda noite, na verdade.
— Ninguém dorme na cama do papai. Só eu, mas isso era só na época em que eu tinha pesadelos. E agora você.
— Bom, isso me consola bastante. - A minha voz carrega um tom brincalhão, mas o que digo é cem por cento verdade. Estou aliviada em ter aquela reafirmação, mesmo que a minha filha a tenha me dito diversas vezes antes que seu pai não tinha o hábito de ter namoradas. Agora, Autumn parece me repassar a informação com seriedade e não em tom de súplica, como costumava ser. — Obrigada.
— Você gosta dele?
Eu poderia fingir. Dizer que estamos tentando, que é complicado, que as coisas são mais profundas do que simplesmente "gostar"e "não gostar". Mas qual seria o sentido? Eu amava Travis. Não só pela filha que nós dois compartilhávamos, o fio invisível que nos unia, mesmo quando nossas comunicações anuais eram escassas e ele parecia me odiar. Eu o amava pelos nossos anos de juventude, pela primeira vez que ele me viu em um clube de praia em Palm Springs, pelo amor que fizemos no Chateau Marmont. Especialmente, eu o amava porque, dentre todas as pessoas que me conheceram durante uma vida inteira - os músicos, os outros artistas, os atores e os poetas torturados — ele, o jogador de futebol americano deslocado de um mundo de arte com milhares de reflexões diárias, me vira como eu verdadeiramente era. Durante os meses que passamos juntos, ele captara a minha essência, aprendera a lidar com os meus demônios e jogara cartas com eles. Nada o assustara. Nada em mim o assustara, e aquilo, unido ao fato de que ele não parecia querer mudar nada em quem eu era, era simplesmente tudo.
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invisible string (taylor swift)
FanfictionOnde Autumn vive com seu pai, uma estrela em ascensão no time vice-campeão do maior evento de futebol americano do país. Crescendo sem nunca ter conhecido sua mãe, a menina mantém a certeza de que um dia elas se encontrarão, mesmo que o destino as r...
you can hear it in the silence, you can feel it on the way home
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