you can hear it in the silence, you can feel it on the way home

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— Tudo bem. Vamos lá? O motorista vai levá-la da escola para o ginásio, e eu e seu pai vamos te buscar lá. Combinado?

Minha filha balança a cabeça, um pouco triste. Ela parece prestes a chorar, com os olhinhos baixos e o rostinho meio sentido, e sei que é porque não quer se separar de mim.

Apesar de saber que não é saudável uma criança se comportar desse jeito, imagino que seja temporário. Travis e eu ainda não conversamos sobre isso com profundidade, mas ele acha que, se for algo que acabe perdurando, talvez seja melhor procurarmos uma terapeuta, cuja capacidade profissional será capaz de entender melhor essa ansiedade de separação que nossa garotinha parece estar desenvolvendo. De qualquer forma, eu também estou me sentindo da mesma maneira, e por mais que não entenda muito o significado dessas coisas, quando mencionei para Dana – a cozinheira de Trav e minha fiel escudeira nos últimos dias, que me acolheu na casa dele como se eu fosse a sua filha –, ela disse que é por causa da gravidez.

"Criança sente a presença do bebê, dona Taylor." Afirmou, diante do meu medo, me chamando pelo pronome de tratamento o qual eu já insisti várias vezes que não era necessário. "Ela tá querendo ficar perto da senhora porque tá sentindo algo diferente. E a senhora quer ficar perto dela pelo mesmo motivo."

Agora, sentindo a presença de Autumn no banco de trás do carro, vendo-a através do retrovisor – feliz por estar fazendo uma atividade tão normal quanto levar a minha filha para a escola, sem me preocupar com uma enorme parcela da imprensa me perturbando –, eu meio que entendo o que Dana disse, sentindo vontade de chorar só por perceber aqueles olhinhos se esgueirando em minha direção. Eu amo a forma como ela cantarola a canção que está tocando no rádio da minha SUV, uma letra de uma das minhas bandas favoritas que esboça o sentimento de ter alguém como seu próprio raio de sol. Ou pelo menos é assim que eu a interpreto.

— Não sabia que você conhecia essa música. – Digo, surpresa, aumentando o volume enquanto escondo a tristeza por ainda não saber tantas coisas sobre ela; e mais ainda por perceber que nunca explorei a música na nossa relação crescente. — É uma das minhas favoritas, sabia?

— O papai cantava essa música pra mim. – Auts me responde, parecendo viajar no tempo, mais uma vez me fazendo experienciar a saudade por algo que nunca vivi. — Mas ele canta muito mal, mãe.

Rio, virando a cabeça de soslaio para olhar para ela. Se eu bem me lembro, Travis não é um cantor tão mal assim, mas acho que Auts não aceita performances medianas. Ela acrescenta:

— Prefiro quando você canta.

— Acho que eu estabeleci padrões altos demais para você avaliar o coitado. – Dou uma piscadela, finalmente torneando um pouco o corpo para conseguir enxergá-la, sentada no banco de trás, porque o carro está parado graças ao semáforo. Quando a vejo, não consigo acreditar em como ela parece crescida com o cinto assegurando seu corpinho no assento, as tranças caindo pelo colo e as perninhas balançando. — Ouça, a gente tem a festa hoje, está lembrada? O evento com todo mundo do time do seu pai?

Autumn balança a cabeça em afirmativo.

— Estava pensando em usarmos roupas combinando. – Limpo a garganta. — Um vestido que uma amiga próxima desenhou. Mas só se você quiser, não é obrigada.

— Eu quero. – Minha filha responde, angelicalmente, mas num tom animado o suficiente para mostrar que ela realmente gosta da ideia, e não que está confirmando só para me agradar. Em seguida, parece hesitar, a vozinha tremendo diante da melodia que toca entre nós, enquanto um pequeno suspiro quase imperceptível deixa o seu nariz perfeitamente desenhado. — Mãe... Será que eu posso... Perguntar uma coisa?

invisible string (taylor swift)Where stories live. Discover now