Soltei uma risada nervosa, porque eu e ela sabíamos que aquilo era impossível, pelo menos, verdadeiramente falando. Sim, eu tinha guardado muitas mágoas dela depois que ela partiu das nossas vidas - minha e de Auts -, mas nunca, definitivamente jamais cheguei sequer perto de odiá-la. Como eu poderia, quando a amava tanto, mesmo quando ela destroçou meu coração?
"Acho que você está louca." Murmurei, tentando não me fazer parecer tão tenso quanto eu me sentia. Depois da conversa que tivemos, eu não achava que havia alguma chance dela querer ir embora de novo, por mais que soubesse que talvez pudesse surgir a possibilidade. "Foi algo grave? Algo com a Autumn?"
"Está tudo bem com a Autumn." Swift se adiantou, voltando a morder os lábios, ansiosa. "O problema é... bom, eu só queria que você soubesse que o que aconteceu não fui eu tentando acelerar as coisas. Eu nunca faria isso, especialmente depois de tudo o que a gente passou com..."
"Meu amor" Eu a interrompi, com um sorriso, soltando um suspiro de alívio quando Tay mencionou as palavras que usara diante da menção da primeira festa da vitória do Chiefs. "Isso é sobre aquela festa boba? Você não está acelerando as coisas, Tay, para de pensar nisso. Você..."
"Não, Trav, você não entende." A voz dela pareceu chorosa, prestes a se quebrar, quando seus olhos piscaram. Através da imagem pixelada da tela, ainda mais alterada pela escuridão da penumbra da sala durante a noite, consegui ver um vislumbre de lágrimas acumuladas nos cantos das lindas orbes azuis, e mais do que nunca senti uma vontade indecifrável de ir até ela e limpar a umidade com meus lábios. Beijá-las até que a sua angústia passasse, porque vê-la triste era extremamente perturbador para mim. "Eu não sei como aconteceu. Eu só... Me senti daquela forma, na madrugada de sábado, quando você viajou e..."
"Taylor." Meu tom assumiu uma forma sóbria e controlada, ainda que gentil. "O que é que você está tentando me dizer?"
Já passei por algumas situações que, como homem, nunca imaginei que alcançaria na vida. Acho que a primeira delas foi realizar o meu sonho de menino e jogar futebol na liga profissional, numa posição boa em um time de prestígio. A segunda, definitivamente, foi a sensação de encontrar uma estrela da música pop, provavelmente a mais poderosa de sua geração mesmo naquela época e, não satisfeito em namorá-la e torná-la o grande amor da minha vida, também fazer uma filha com ela. Honestamente, como o fanfarrão que eu era, sequer imaginei que um dia eu criaria uma criança com tanto carinho e, modéstias a parte, cuidado. Com zelo. E, de acordo com esse meu raciocínio, a sensação de ser um pai bem sucedido também foi algo que nunca pensei que fosse conquistar. Mas eu conquistei. E todos esses sabores, esses sentidos que despertavam em mim uma alegria sem tamanho, eram deliciosos.
Voltar a beijar o amor da minha vida era delicioso. Formar uma família ao lado dela era delicioso. E, sem dúvidas, reviver todos os acontecimentos bons do passado, quando Tay me beijava até de manhã completamente nua, ou passávamos o dia inteiro conversando sobre coisas que só nós dois entendíamos — porque éramos exatamente iguais —, também era completamente delicioso. E eu amava.
No entanto, absolutamente nada me preparou para a explicação seguinte que saiu da boca dela, agora com os olhos completamente encharcados, os lábios tremendo e as bochechas vermelhas por não conseguir segurar as lágrimas.
"No sábado, Autumn e eu aproveitamos a piscina. Mesmo sendo o início do Outono, ela queria muito, então eu a aqueci e nós entramos. E aí os meus..." A loira limpou a garganta. "Meus seios ficaram... Hum, da mesma forma que eles ficaram quando eu..."
Ela respirou fundo.
"Quando eu descobri sobre a Auts."
Nós dois ficamos em silêncio. Eu desejei poder dizer alguma frase que lhe desse apoio, mas a única coisa que fiz foi permanecer estático, maluco para que a minha boca reagisse diante do rosto angustiado dela, que começou a tomar forma quando eu apenas me mostrei nada muito além de chocado. Meu cérebro processava a notícia aos poucos. Lentamente, eu me lembrava das reações dela diante das coisas que estavam acontecendo conosco — seus nervos à flor da pele, Taylor passando mal enquanto eu afagava seu cabelo no chão do banheiro. A maneira como havíamos transado loucamente, quase todas as noites e nas horas em que estávamos livre durante o dia, sem nos preocuparmos com as consequências.
Ainda assim, foi só quando ela me contou tudo que eu me prestei a acreditar no que estava acontecendo.
"Pedi para a Danna que comprasse um teste, só para me livrar da suspeita. Eu o fiz assim que ela chegou, me sentindo angustiada, completamente desesperada com a ideia de colocar o que estamos vivendo à prova, mas..."
De repente, eu a olhei de perto. Tay parecia prestes a desabar. Ela me encarava como se estivesse completamente perdida, os olhos baixos e cansados revelando que, muito provavelmente, tinha passado toda a madrugada de sábado para domingo sem dormir. Sua boca estava quase inteiramente mordiscada, como se procurasse uma maneira de punir a si mesma pelo que estava acontecendo e, pelo movimento que o telefone fazia, eu tinha quase certeza de que ela tremia. Tremia muito.
"Deu positivo. E-eu estou grávida, Travis."
Pensei nela sozinha, lendo aquele teste. Pensei no quanto ela pode ter acabado por se lembrar do dia em que leu o teste de Autumn, também sozinha, mas num contexto completamente diferente. Pensei nas decisões que Swift tomou anteriormente, na forma como ela me contou que sumiria de nossas vidas, e pensei em como nós dois choramos copiosamente, um com muita raiva do outro, mas se apoiando no meio do caos.
Imediatamente, senti uma vontade fora do normal de vê-la. Eu queria estar perto dela, envolvê-la em meus braços, fazê-la discutir aquilo comigo. Ao mesmo tempo, desejava implorar que, pelo amor de Deus, ela não fosse embora de novo, que pensasse em Autumn, no bebê que agora tínhamos, e na maneira como íamos lidar com aquilo. Juntos.
Abri minha boca para reforçar que a amava. Ao invés disso, só fiquei parado, assistindo-a soluçar sem parar em um desespero quase palpável, mesmo que através da tela do meu celular, tocando em seu rosto pelo pequeno quadradinho do canto superior da tela em um determinado momento, como se pudesse tê-la ao vivo comigo naquele mesmo segundo.
"Papai, olha!" Bem na hora que minha boca se preparou para pronunciar algo, Taylor e eu sobressaltamos com a voz que surgiu do topo das escadas da casa, numa animação completamente alheia ao que estava acontecendo. Forcei um sorriso quando assisti a mãe da minha filha — das minhas filhas, aparentemente, porque eu tinha um sexto sentido bom para saber o sexo de bebês e os homens da minha família costumavam ter meninas, com exceção do meu pai — limpar os olhos com o dorso das mãos, os dedos esfregando o rosto para conseguir parecer meramente menos chorosa diante da nossa pestinha. Auts chegou bem na hora que Taylor suspirou. "Mamãe fez uma pulseira com o nome 'Autumn', e outra com... 'Summer'!"
A pequena correu para o colo da mulher, colocando os joelhos nas coxas de Taylor e mostrando as pulseirinhas feitas em miçangas amarelas e vermelhas para mim.
"Opa, filha." Eu a repreendi um pouquinho, ainda que com a voz mais doce que consegui, já que ela não tinha feito por mal. "Toma um pouquinho de cuidado pra não machucar a mamãe, tá bom?"
Pela tela do celular, consegui analisar os olhos da loira mais velha se encherem de esperança, como se ela tivesse entendido o cuidado por trás da minha colocação. "Agora" Me esforcei para completar logo depois, com medo de que Autumn percebesse qualquer movimentação suspeita entre nós dois, mas sabendo que aquele era um tópico que, muito provavelmente, só conseguiríamos discutir plenamente pessoalmente. E eu não via a hora de poder vê-las pessoalmente. "Me deixa ver essas pulseiras, depois me dá boa noite e cuida da mamãe pra mim na hora de dormir, combinado?"
"O que aconteceu? A mamãe tá doente?"
"Não, bonequinha." Foi Tay que respondeu à nossa garotinha, com uma voz rouca e brevemente chorosa saindo de sua garganta. Ela usou a mão que não segurava o celular para alisar os cabelos da pequena e, com um sorriso triste, olhou nos meus olhos através da tela. "Estou bem."
"Então por que eu preciso cuidar dela?"
"Porque nós amamos a mamãe." Eu disse, por fim, sabendo que aquela provavelmente seria uma declaração que faria Auts encher as nossas paciências pelo resto da vida, mas consciente de que ela simplesmente precisava ser dita. "E precisamos cuidar de quem amamos, lembra? Família em primeiro lugar?"
Autumn piscou de repente. E, por mais surpreendente que parecesse, como a menina maravilhosa que ela era, entendeu. Pelo menos parcialmente.
"Sim, papai, eu me lembro." Disse, sorrindo. "Família em primeiro lugar."
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invisible string (taylor swift)
FanfictionOnde Autumn vive com seu pai, uma estrela em ascensão no time vice-campeão do maior evento de futebol americano do país. Crescendo sem nunca ter conhecido sua mãe, a menina mantém a certeza de que um dia elas se encontrarão, mesmo que o destino as r...
we could get married, have ten kids and teach 'em how to dream
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