— Desculpa... – Limpo a garganta, de repente achando meus cabelos muito interessantes. Sem perceber, eu me afasto do pai da minha filha depressa, dando passos para trás, procurando urgentemente por um sinal no andar de cima. — Eu não posso, Trav. Isso não é mais sobre a gente.
Ele parece hesitar. Fica em silêncio, o rosto indeciso entre rir ou lamentar-se. Não posso culpá-lo, embora esteja surpresa por vê-lo se sentir da mesma forma que eu.
— Tem razão. – Diz, por fim. — É sobre a Auts.
Balanço a cabeça, sentindo de novo a presença do silêncio pairar entre nós. Agora, apesar de ser um pouquinho constrangedor, ele não parece algo promissor, que nos guarda acontecimentos inesperados. É só um silêncio de aceitação, algo que perdura enquanto esperamos Autumn descer, e que aparenta ser dissipado com alívio quando a figurinha arrumada e penteada surge no topo da escada, com o exato vestido que comprei para vê-la usar e que mencionei minutos antes.
— Nossa! – Exclamo, fugindo da presença de Travis e indo até o degrau mais baixo da escada, esperando minha filha chegar até mim. — Que menina mais linda! Sua mãe vende você?
— Mãe! – Autumn exclama, mas ri, e o som da sua risada é extremamente reconfortante. Tão reconfortante que tenho vontade de chorar.
— Essa é a menina mais estilosa que eu já vi na vida! – Trav brinca, ao passo que a nossa filha rodopia nos braços dele quase que imediatamente, numa clara demonstração de que, de fato, tudo está muito mais do que bem. Travis arqueja quando coloca a garotinha no colo, fingindo fazer um esforço que eu sei que ele não está, um sorriso surgindo em seus lábios quando ele finalmente ajusta a nossa filha no chão de volta, depois de rodopiá-la segurando em suas costas. — Você não acha, Tay?
Tento não me sentir mal pelo apelido. Tento dizer a mim mesma que fui eu que estipulei essa distância, porque sabia que seria melhor assim.
— Claro que sim. A mais perfeita do mundo.
Todo mundo ri, e embora eu não ache que seja algo forçado, Travis parece cansado. Ele arruma o cabelo de Autumn com os dedos, tocando em suas costas para guiá-la na direção da porta e então, com uma piscadela, pergunta para ela:
— E então, mocinha? Qual vai ser o prato principal do nosso banquete?
O furacãozinho parece entrar num dilema interessante. Ela dá pulinhos, animada por ter tido a própria opinião levada em consideração, e não consigo evitar de me sentir triste por não poder participar daquele programa.
— Frutos do mar! – Exclama, toda cheia de si.
Travis ergue os olhos para mim, uma piscadinha tomando conta daquele rosto prepotente pelo qual eu havia me apaixonado.
— Parece que você escolheu bem o vestido, no final das contas.
— Eu nunca erro. – Devolvo a expressão galanteadora. — Bom, divirtam-se. Vou estar aqui quando voltarem, então, Auts, caso você queira vir para continuarmos o fil-
— O quê? – O jogador de futebol americano, que a esta altura já segura na mão da nossa filha com carinho, agora me encara com a testa franzida e as sobrancelhas brevemente erguidas, como se não pudesse acreditar em minhas palavras. — Do que você está falando? Você não vem com a gente?
Hesito. Na verdade, no momento sou eu que quase pergunto "o quê?", usando o mesmo tom incrédulo que Trav expressou.
— Hã... Eu pensei que vocês... Que vocês fossem almoçar só os dois...
Ele bufa.
— Essa é a coisa mais idiota que eu já ouvi na vida.
— Hum... É?
— Claro que é. – Travis parece brevemente impaciente, soltando a mão de Autumn para cruzar os braços e virar-se diretamente para mim. — Qual o sentido de irmos almoçar em família se não temos a nossa família completa?
Franzo as sobrancelhas. Não sei o motivo de um calafrio percorrer o meu estômago, mas isso acontece, e então eu me dou conta do que Travis está dizendo, porque, no fim das contas, ele está certo.
Nós somos mesmo uma família. Pode não ser o modelo com o qual ambos sonhamos quando Autumn foi descoberta, com a minha presença se tornando inexistente praticamente no momento em que ela nasceu. Mas ali, enquanto Travis Kelce me encara como se eu fosse a pessoa mais maluca do mundo por ter pensado que não íamos almoçar todos juntos em uma quarta-feira comum de verão, percebi que o conceito de uma família não é sobre a forma perfeita. É sobre a intenção.
É provável que nunca mais tenhamos um envolvimento romântico, porque é mais seguro assim. Que o momento na entrada de casa, e até mesmo ali, naquela sala, tenha sido apenas uma faísca do que um dia fomos, um reflexo de um sentimento que, apesar de ainda vivo, precisa ficar guardado em algum canto do passado. Mas o que temos agora... é real. É sólido. É compromisso.
Travis é o pai de Autumn. Eu sou a mãe. E juntos, mesmo com nossas falhas, somos o que ela precisa. Não um conto de fadas. Não um final feliz de filme. Mas uma família de verdade. E isso... é o suficiente. Mais que suficiente.
— Tem razão. – Murmuro, dessa vez sem disfarçar o sorriso. — Então, esperem aqui. Preciso encontrar algo que combine com o vestido dela.
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invisible string (taylor swift)
FanfictionOnde Autumn vive com seu pai, uma estrela em ascensão no time vice-campeão do maior evento de futebol americano do país. Crescendo sem nunca ter conhecido sua mãe, a menina mantém a certeza de que um dia elas se encontrarão, mesmo que o destino as r...
leave it all behind and there's happiness
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