leave it all behind and there's happiness

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Era injusto que isso fosse posto à prova por minha volta. Mesmo que Travis tivesse falado a coisa errada, eu não o culpava totalmente. Aqueles eram seus sentimentos, os traumas que eu suspeitava que eu mesma tinha causado, e a demonstração deles talvez fosse apenas uma resposta ao medo que ele sentia de perder o amor que passou tanto tempo cultivando. O amor da filha.

É por isso que, quando Autumn não responde o pai, eu intervenho, já que sei que ele não pode ser o bandido mau sozinho. Sou mãe agora, e por mais que eu me divirta muito em passar momentos bons com a minha filha, também preciso saber em como reagir naqueles em que tenho a necessidade de repreendê-la – em situações onde ela foge da casa do pai sem me contar, por exemplo –. Não sou muito boa nisso, admito; nunca dei uma bronca de verdade em alguém. Mas, se tem uma coisa que eu sei fazer bem, essa coisa é improvisar.

É, portanto, um improviso que sai da minha boca logo em seguida. Ainda estou em um processo de formação na universidade imaginária da maternidade, portanto, preciso encontrar uma base de referências nas frases seguintes que profiro, encontrando suporte nos anos de convivência que tive com a minha própria mãe. Eu mordo os lábios com firmeza, me acomodo ao lado de Trav e, limpando a garganta, digo, virando-me para a minha filha e torcendo para que ela não veja o quanto estou nervosa:

— Autumn, seu pai tem razão. – Meu tom é severo com resquícios de uma decepção implícita, e quase dou um gritinho por acertá-lo em primeira mão. — Você saiu de casa e fugiu dele, sem me contar tudo o que aconteceu. Sabe o quanto seu pai ficou preocupado?

Novamente, a pestinha dá de ombros. Travis suspira.

— Eu estava brava.

— Não estou dizendo que você não estava. – Eu rebato, e só então percebo que estou mantendo a postura de mãe, meu corpo indo em direção ao dela. Com cuidado, eu me abaixo na frente da cama, olhando minha filha nos olhos, e então, com um suspiro, continuo meu ponto de vista — O que o seu pai falou não foi legal, mas, quando alguém que amamos nos magoa, não é seguro fugirmos desse alguém sem razão nenhuma.

Eu engulo em seco. Tenho medo de que as construções "alguém que amamos", "nos magoa" e "não é seguro fugir" me comprometam no cartório, mas, se elas fazem algum sentido em sua pequena mentezinha brilhante, Autumn não menciona.

— Mas eu estava aqui o tempo todo!

— Sim, querida. – Limpo a garganta, me mantendo firme e ignorando o olhar de Travis, que agora se volta para mim com um resquício de devoção. Ou eu pelo menos acho que é isso que reflete em suas orbes verdes. — Ainda bem que você estava e não acabou indo para um lugar mais perigoso. Mas você já imaginou o que seria do seu pai se eu não estivesse aqui para receber você na minha casa? Para onde você teria ido?

Autumn não responde. Ao invés disso, ela olha para mim e para o pai com uma expressão culpada, pequenas lágrimas começando a se acumular em seus olhinhos absurdamente azuis. Eu me sinto mal por ter parecido um pouco rígida, e é exatamente por isso que coloco minhas mãos sobre os seus joelhos, tirando uma mechinha de cabelo do seu rosto e posicionando-a atrás da orelha.

— Você é especial para nós, furacãozinho. – Digo, me lamentando com meu tom contido, alisando seu rosto devagar quando Kelce também se posiciona bem ao meu lado, confortando a filha da mesma maneira. — E eu sei que você ficou chateada, mas não faça mais isso, está bem? Com nenhum de nós dois. Nós amamos você e não podemos suportar a ideia de perdê-la.

O quarto fica em silêncio – não por completo, uma vez que a televisão com a animação que a criança está assistindo ainda ressoa atrás de nossas vozes, mas nenhum de nós presta atenção. Depois de um tempo em uma quietude um pouco melancólica, finalmente, Autumn cede e choraminga baixinho, pulando nos braços do pai inesperadamente logo que ele a encara.

invisible string (taylor swift)Where stories live. Discover now