leave it all behind and there's happiness

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Travis hesita, mas passa por mim na porta, encarando a escada. Acho que posso ouvi-lo sussurrar um breve "obrigado", no entanto, ele é orgulhoso o suficiente para deixar este resquício de agradecimento quase imperceptível.

Depois do constrangimento inicial, o beijo nem parece ter existido. É claro que ainda sinto os resquícios dos lábios dele nos meus, e tenho quase certeza de que a parte inferior da minha boca está formigando enquanto meus joelhos tremem. Mas o tight-end parece tranquilo e, justamente por isso, eu me forço a aparentar tranquila, também. Nesse ritmo, subo a escada principal da mansão em Leawood devagar, chamando o pai da minha filha com a mão e, com uma respiração tranquila e fingida, eu o guio até o corredor do andar de cima, parando na frente da porta do meu quarto.

De onde estamos, é possível ver Autumn. Ela está deitada na cama com a barriga para baixo, os pézinhos para cima e as mãos apoiadas no queixo, assistindo a uma animação na televisão. Imediatamente, assim que a vejo, sinto meu coração palpitar em um lampejo de amor incodicional, e concluo que eu faria qualquer coisa para protegê-la. De repente, sinto raiva de mim mesma por ter um dia deixado-a acreditar que a sua presença não fazia diferença em minha vida.

— Autumn. – Eu a chamo, bem baixinho e com medo de assustá-la, os nós dos meus dedos batendo na madeira da porta até que ela erga os olhos para mim. Quando minha filha me avista, ela arregala as orbes azuis em reflexo, especialmente ao perceber que não estou sozinha. — Alguém gostaria de falar com você.

Imediatamente, Auts faz bico. Ela olha para Travis desconfiada, e tenho um palpite de que ele se sente profundamente mal com a reação da garotinha, porque suspeito que essa talvez seja a primeira vez que eles se desentendem de uma maneira tão intensa. Num ímpeto de fazê-lo se sentir melhor, de uma forma totalmente inconsciente, eu dou alguns passos para ficar mais próxima dele e, em um gesto rápido, toco seu braço.

O jogador hesita, mas não se afasta.

— Você deveria ter falado que o seu pai não sabia que estava aqui, querida. – Repreendo a minha filha de leve, olhando dela para Travis e de Travis para ela, tentando entender as emoções dos dois. Está meio claro que eu sou a verdadeira intrusa ali, mesmo que esteja tentando mediar uma briga que claramente não pertence a mim. Eu não tenho esse direito depois de ter passado anos fora.

— Auts – Kelce, com a voz rouca, praticamente confirma a teoria, finalmente se desvencilhando de meu braço e indo na direção da pequena, que agora está inteiramente sentada na cama, sob os próprios joelhos. —, por que você fez isso, filha? Eu fiquei maluco pensando que você tinha fugido.

Autumn apenas dá de ombros.

— Não é assim que resolvemos nossos problemas. – Diz ele, e posso notar um pingo a mais de severidade em seu tom. Ele não quer brigar com ela, e está sendo cauteloso, mas se coloca de uma forma autoritária ao seu lado. — Eu sei que eu errei, e estou aqui para pedir desculpas, mas você não pode me dar um castigo do silêncio como esse e simplesmente sair de casa sem dar mais explicações. É muito perigoso.

Observo os olhos do homem que amei – que amo, ainda não sei ao certo – encararem a criança que colocamos no mundo como se ela fosse o seu bem mais precioso. Que inferno, eu sei que ela é o seu bem mais precioso, e é por isso que eu o odeio tanto; porque o fato dele amá-la incondicionalmente me faz amá-lo incondicionalmente.

Quando saí da vida de Autumn, eu sabia que Travis seria a escolha certa. Não hesitei em nenhum instante com relação a este fato: aquele rapaz amoroso, que crescera em uma família estruturada e gentil, seria o melhor pai do mundo para ela. Ele criou Autumn com todo o amor e carinho que pôde sozinho, dando o amor que recebera de seus pais de uma maneira que eu jamais seria capaz.

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