invisible string (taylor swift)

help me hold on to you

Fiquei pensando se esse era o meu caso. Eu nunca disse para a senhora Jules, mas a imagem do menino fazendo nada além de chutar uma bola em uma rede durante todo o seu dia me deixou pensativa. Porque eu também era assim. Passava o dia inteira enfiada no ginásio, pulava de aparelho em aparelho e sempre, sempre mesmo, tentava focar os meus pensamentos na única coisa que importava para mim: ser perfeita. Executar a manobra perfeita e cair de pé da maneira perfeita.

Com certeza evitar encarar as outras meninas com suas mães. Com certeza desviava os olhos quando Hailey recebia um cumprimento da tia Lindsay, ou quando, durante as competições, minhas amigas sempre chegavam com suas mães segurando bolsas com seus nomes, todas muito bem equipadas com água, barrinhas de proteína e uma dúzia de gritos de guerra para motivá-las.

Não me entenda mal, meu pai sempre foi esse pai também. Ele não perdia nenhuma das minhas competições importantes – com exceção de uma ou duas classificatórias que aconteceram no mesmo domingo de seus jogos, mas meus avós estavam lá por mim, de qualquer maneira –. Ainda assim, quando estava em seu alcance, papai levava água e me animava do mesmo jeito quando algo não saía conforme o meu planejamento, mas, por mais que ele se esforçasse, bem lá no fundo, eu me pegava secretamente desejando poder experimentar aquilo que as minhas amigas e a minha prima tinham.

Mães orgulhosas. Presentes.

É claro que não admito isso para o papai. Eu não quero; só causaria um problema enorme e, acima de tudo, o deixaria triste – um sentimento que ele definitivamente não merece sentir. Meu pai, o famoso campeão do SuperBowl para a maioria das pessoas, sempre esteve por perto como o grande herói da minha vida, e seria injusto com ele expressar que o meu desejo mais secreto na verdade era ter a presença de uma mulher que nunca fez muita questão de mim em meus dias.

Sendo assim, eu vivo constantemente calada quanto a estes sentimentos. E me concentro no que sou boa de verdade.

Fui o centro das atenções nesta manhã, durante o treino. Todas as meninas queriam ver o chapéu que ganhei no show da Taylor Swift, acessório que levei com orgulho na parte de trás do carro até o ginásio, para o grande desgosto do meu pai. Para ser sincera, o fim de semana entupido pelos shows dela provavelmente ficou marcado como o ponto alto da minha popularidade entre minhas colegas de time, e eu e Hailey tagarelamos tanto sobre as duas noites em que pude estar lá para ver a cantora que fomos obrigadas a pagar uma multa de cinquenta flexões por desatenção no treino.

Só para constar, valeu a pena.

É por isso que estou concentrada agora. Parada em cima da trave de equilíbrio prestes a executar uma sequência acrobática quando sei que faltam só alguns minutinhos para o nosso horário da manhã acabar. Daqui, eu provavelmente vou almoçar no refeitório, trocar lipgloss com a Hailey e a Olive e, depois de uma hora, voltar aos tablados. A competição nacional é daqui a um mês e meio, e quero poder subir de nível até lá. Preciso mostrar para Bex que estou pronta.

Falando em Bex, ela está me enxergando de longe, vindo em minha direção. Sinto uma adrenalina subir em meu estômago, que sempre surge quando estou impressionando algum adulto ao meu redor, e fico ainda mais hiperfixada na ideia de arrasar nos movimentos quando percebo que minha professora olha direto para mim. Ela guarda em seu rosto jovem uma expressão satisfeita, um sorrisinho surgindo em suas linhas faciais, e quando seu corpo chega perto do aparelho onde estou treinando, eu zarpo para terminar de deixá-la orgulhosa.

Termino a sequência em segundos. Como era de se esperar, minha professora bate palmas instantaneamente.

— Muito bem, querida! – Ela exclama quando eu paro os pés impecavelmente na espessura mínima da trave. — Os ombros estão maravilhosos. Mas vou precisar de você por um minuto.