invisible string (taylor swift)

i can tell that it's gonna be a long road

Só que, enquanto estou pensando nisso, o jogador de futebol anda na direção de onde os meus pais estão e, devagar, posiciona a nossa menininha nas almofadas do pequeno móvel, balançando-se em um movimento positivo. Ele faz carinho nos cabelos dela, que resmunga, e então a assiste virar-se no lugar confortável, sob os olhos de todos os adultos na sala.

— Obrigado, Scott. – Kelce deixa escapar de seus lábios, as palavras provocando uma onda amarga em minhas entranhas. A interação entre o homem que amei e os meus pais me deixa certamente ainda mais arrependida do que já me sinto, e preciso segurar as minhas lágrimas quando percebo, pelo canto de olho, a minha mãe afagar os ombros enormes dele com um carinho maternal. Quase como se dissesse "senti a sua falta".

— Por aqui. – Interrompo o momento com a voz trêmula, dando uma última olhada em Autumn, que agora está completamente cativada pelos avós. Meus pais a pastoram com devoção quando Travis vira-se para mim, indo na direção da porta interna que abro em meu camarim. A porta do lugar privativo em que estamos prestes a começar uma conversa sobre como posso entrar na vida da criança adormecida no sofá a poucos metros de nós.

O clique da maçaneta quando ele entra é surdo. Eu engulo em seco, tentando controlar a respiração, e sinto o olhar questionador dele pairar sob meu corpo quando ficamos frente a frente no cômodo onde costumo me arrumar – e desarrumar – para os shows.

Não sei o que devo falar primeiro. Com certeza pedir desculpas por ter sumido por nove anos não é uma boa deixa, então apenas suspiro para segurar as lágrimas que ameaçam cair. Sei que não parece justo que eu chore; claramente foi Travis quem mais sofreu com as minhas escolhas ao lado de Autumn. Mas, conforme a presença dele se torna real perto de mim, eu sinto que provavelmente não terei escolha em alguns minutos.

— Taylor. – A voz do homem a poucos passos do meu corpo sai grave e um pouco rígida, como se ele soubesse que está prestes a entrar em uma briga. Engulo em seco. Ele não parece nada com o Travis por quem me apaixonei; imagino que eu tenha perdido essa versão ao escolher fugir.

— Trav.

Odeio a forma como o apelido que eu costumava usar escapa sem querer. Ainda assim, se este surte algum efeito no tight-end de braços cruzados que me encara como se eu fosse a última pessoa que ele gostaria de ver, não há nenhum indício em seu rosto.

— Espero que você saiba que estou aqui pela Autumn.

Balanço a cabeça, querendo não parecer tão vulnerável. Ele deve saber que estou arrependida; deve perceber a dor em meus olhos, mas parece tão impenetrável que, se eu pudesse escolher um sentimento apenas para nomear o que eu imagino que ainda sente por mim, diria que é ódio.

— Também estou aqui pela Autumn.

— Que bom. Espero que você continue aqui por ela e não fuja como da primeira vez.

Eu encosto na parede do camarim, liberando o ar pelo nariz. É claro que, em algum momento, Kelce provavelmente partiria para as alfinetadas – eu só não imaginei que fosse ser tão cedo.

Atrás de nós, ouço o som dos fãs indo embora do show. As pessoas gritam o meu nome do lado de fora do camarim, provavelmente na espera de que eu saia para ir embora e os cumprimente, como costumo fazer. Não sei se Travis percebe o que acontece, mas ele parece ouvir, e a expressão de impaciência que envolve o seu rosto diz que sente muita raiva de mim por aquilo.

Mais uma vez, por incrível que pareça, não posso culpá-lo. Eu desisti da vida ao seu lado, da vida com a nossa filha, exatamente por mais reações como aquela. Porque, diante da escolha entre a minha carreira e a minha família, eu escolhi a minha carreira.