invisible string (taylor swift)

i can tell that it's gonna be a long road

O que me leva à primeira coisa que ele me diz quando testemunha a confusão e o terror em meus olhos.

— Olha, desculpa. – Sussurra, colocando uma mão discretamente sobre a orelhinha de Autumn, quase inteiramente coberta por cachos loiros. Ela tem um furinho discreto ali, e usa um brinquinho de flor cor de rosa que me faz reprimir um soluço. Me sinto exausta. — A babá cancelou de última hora. Eu tentei te mandar mensagem pelo número que você me deu...

— Eu não... – Limpo a garganta, tentando recuperar o rumo enquanto lido com as botas do figurino que ainda estou vestindo. Elas pinicam agora. — Não checo os celulares antes de entrar no palco.

É mentira, e Travis deve saber. Ele sempre foi muito bom em ler as minhas expressões, em ter a consciência exata do momento em que não estou falando a verdade.

— Achei melhor vir. Se você quiser fazer isso dar certo...

— Quero. – Eu o interrompo, sentindo imediatamente todos os olhares do camarim sobre mim. Meu pai parece assistir a uma partida de tênis, apenas movendo os olhos enquanto Travis e eu conversamos, embora a sua expressão pareça um pouco desesperada para ver a neta. A minha mãe,  por sua vez, não tira as orbes da garotinha suspensa no colo de Travis; na verdade, ela mais parece prestes a colocar Autumn em seus próprios braços do que qualquer outra coisa. — Quero dizer, sim, eu quero fazer dar certo, e fico feliz que você esteja disposto a ceder.

— Não estou fazendo isso por você.

Ai. O tom na voz do tight-end deixa claro que não nos encontramos em um estágio de bandeira branca, e me sinto ingênua por ter sequer pensado isso. O fato dele estar exatamente ali, no lugar onde eu estou me apresentando, aparentemente não quer dizer nada. Sendo assim, esforçando-se para propositalmente desviar o seu olhar do meu, Kelce ajusta a criança no seu ombro, o simples movimento fazendo a minha filha choramingar alguma coisa, o que me coloca em pânico. Eu dou um passo para trás; o pai dela, no entanto, apenas lhe sussurra algumas palavras gentis e ela parece adormecer de novo.

Não percebo o meu suspiro aliviado até a minha mãe erguer a voz, ainda que em um tom contido:

— Não acho que seja seguro conversar... – Ela pensa um pouco nas palavras. — O que quer que seja que vocês dois possuem para conversar, com essa criança podendo ouvir.

Travis penetra os olhos nela. Quando namoramos, ele costumava se dar bem com a minha mãe. Acho que é isso que lhe faz confiar em seu rosto lotado de boas intenções, depois de alguns segundos hesitando ao encará-la, como se quisesse ter a certeza de que Autumn não seria roubada.

— Ela pode dormir no sofázinho enquanto vocês dois... Pensam na melhor solução no quarto ao lado. – Sabiamente, o meu pai aponta com os olhos para uma pequena poltrona disposta no meio do camarim. Com um balançar de cabeça longo, Travis concorda, parecendo um pouco assustado em simplesmente deixar a menina ali.

Eu posso entendê-lo, por mais doloroso que seja. Somos estranhos para ele; todos nós – pessoas que ele costumava conhecer, que lhe viraram as costas num momento crucial e que, agora, estavam tentando voltar para a sua vida e para a vida de quem ele mais amava no mundo.

Quero deixá-lo confortável. Quero derrubar as barreiras que eu mesma ergui há nove anos, tentando fazer Travis acreditar que pode confiar em mim, embora saiba que é algo inútil a se fazer. Ele só está aqui por Autumn, porque não quer tirar dela a chance de conhecer a mãe que a procurou. Porque acha que estará agindo de modo egoísta se simplesmente me mandar embora quando eu insisti tanto para participar da vida da nossa filha.

Ainda assim, por mais que queira, não consigo dizer nada. Abro a minha boca, só que, quando meus lábios se afastam um do outro, nenhuma palavra sai deles. Me sinto um pouco tonta, chorosa, e então olho para a minha filha tão confortável no colo de seu pai com algo pesando em meu peito. Ele a ama. Ele esteve com ela durante todos esses anos enquanto eu fugi. Ele tem todo o direito de não querer Autumn perto de mim ou de qualquer pessoa da minha família.