can we always be this close?

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É um momento lindo e especial, no geral. Eu gosto. Por incrível que pareça, consigo ser boa com crianças enquanto, por outro lado, elas também me adoram. Nós trocamos palavras e abraços durante um curto espaço de tempo e, depois disso, eu geralmente me pego sorrindo sem ser de propósito. É uma maneira de conectar a minha imagem com os fãs, mas, ao mesmo tempo, comigo mesma. Com a garotinha que um dia eu fui.

Nesse momento, estou pensando nisso. No fato de que será um momento lindo, de que vou me abraçar com uma criança escolhida aleatoriamente na plateia e sentir minhas energias se renovando. Quando eu estiver próxima a ela, lhe perguntando se está se divertindo e se posso lhe abraçar para depois lhe presentear com o chapéu, vou parar de pensar em Autumn, em Travis e em tudo o que deixei para trás um dia.

Só que esse tudo surge em minha frente no segundo em que eu me encaminho na direção da criança em pé, próxima ao palco. Ela parece ter uns nove anos, e são seus olhos que eu vejo primeiro. Os meus olhos.

Preciso piscar para ter a certeza de que meu subconsciente não está me traindo. Na verdade, para ser sincera, quando a menina sorri para mim, numa animação que mal consegue esconder, meu estômago afunda e eu quero mesmo acreditar que estou sendo enganada pelos meus sentidos. Porque seria cruel demais.

Mas ela está ali, em carne e osso. Autumn. Seus olhos brilhantes se fixam em mim enquanto, de alguma forma, meu corpo consegue executar a tarefa de abaixar-se para iniciar a interação que preciso ter com ela, como se aquela fosse uma criança normal. Como se eu não estivesse vendo a minha filha pessoalmente depois de nove anos.

Ela me abraça imediatamente. Não preciso perguntar se posso, não preciso abrir a boca para me dirigir diretamente à ela; Autumn só se atira em mim, aconchegando-se em meu corpo como se ela o conhecesse. Ironicamente, ele foi seu lar por nove meses, mas parecia que não era mais. Nunca mais seria.

Quando nós nos soltamos, contra a minha vontade porque a música está passando e as coisas podem ficar estranhas, percebo que minha visão está embaçada. Eu toco em seu cabelo, seus cachos perfeitamente definidos – como os meus – quando ela me olha e, finalmente, disfarçando o embargo em minha voz, murmuro próxima ao seu ouvido, numa espécie de tentativa de confirmação:

— Oi, querida. Qual é o seu nome?

Ela me segura pelos antebraços. Chega perto de mim, me deixando um pouco tonta com sua voz infantil e seu cheiro familiar. Minha filha. Acho que vou desmaiar.

Autumn.

O sussurro da minha estação favorita é um lembrete de tudo o que perdi. Eu me contorço em meu lugar, ajoelhada no palco para alcançar a minha menininha – a menininha de Travis – e lhe dirijo uma resposta automática.

— Espero que esteja se divertindo hoje, Autumn.

Ela balança a cabeça e sorri. Eu visualizo cada movimento, tentando registrá-los em minha memória para guardar para a posteridade. Não sei como ela parou ali, quando Travis não me disse nada sobre vir, mas não o vejo em lugar nenhum.

Fico tentada a olhar por cima dela para procurá-lo, mas não consigo me desprender do momento. Ao invés disso, eu fico ali, vendo-a sorrir e cantar a minha música como se aquela fosse a primeira vez em que está me vendo. Como se fosse um privilégio e não um fardo me ter ali à sua frente, lhe dando um abraço. Sinto uma vontade ainda maior de vomitar.

E é então que ela me diz:

Eu te amo, Taylor.

Escuto esse tipo de "eu te amo" o tempo todo. Definitivamente, não é o "eu te amo" que eu esperava um dia ouvir da minha filha, mas concluo que é muito mais do que mereço receber. Balanço a cabeça, ajustando o chapéu em seus cabelos loiros bem no topo deles, tendo cuidado para não bagunçar as trancinhas lindamente amarradas, e então fixo meus olhos em Autumn, absorvendo cada uma das quatro palavras que ela pronunciou.

— Eu também amo você, querida. – Respondo, sabendo que meus olhos já estão cheios de lágrimas. Lágrimas que misturam remorso, saudade, dor e um amor incondicional, ao qual um dia achei que seria imune. Que nunca iria sentir, se fosse forte o suficiente.

Autumn me abraça de novo. Ela passa os braços pelo meu pescoço como se soubesse que a música está perto de terminar, e que o nosso tempo juntas está acabando. Me concentro na ideia de que ela está ali porque gosta da minha música, e não porque sabe que eu sou sua mãe. Fico subitamente triste com essa realidade, mas sei que é o mais provável, porque não teria como ela sequer desconfiar. Quando fui embora, Travis disse que nunca mencionaria mais o meu nome, e que se fosse para partir, que acontecesse de vez. Não me admirava, na verdade, que ele não tivesse respondido a minha mensagem. Aquele foi nosso trato desde o início.

Em um minuto, estávamos juntas. Eu entorpecida pelo que ouvi minha filha me dizer, mesmo sabendo que não era de fato a minha filha que me dizia isso. Era apenas uma garotinha, que me conhecia por quem eu era para todo mundo – uma pop star famosa. Não uma mãe extraordinária.

Ainda assim, no outro, o momento se desfez. Seguindo a coreografia, deixo que Autumn me solte para que eu volte para os meus dançarinos, a visão turva graças às lágrimas. Ela acena, deixando a minha mente presa em uma cena que jamais vou conseguir esquecer; seus olhinhos vívidos sorrindo na minha direção, a expressão de alegria extrema. Tonta, eu viro para trás e, de alguma maneira, quando a música acaba, quando é a hora de pularmos para a próxima faixa da era, eu consigo continuar. Consigo porque sou forte. Porque aguento todas as merdas que já fiz. Ou porque simplesmente sou boa em fingir.

Tudo, no entanto, se torna automático. Não aproveito nem mais um segundo do show. Eu apenas vomito as frases, as letras, os gestos. Quando as coisas acabam, me sinto aliviada. Chapada.

Meu primeiro ato é correr para Tree. Depois de checar os meus olhos pela plateia, desesperada, saio ao final de Karma em uma pressa monumental, e quando encontro a minha agente, eu a abordo com urgência. Toco em seus ombros e peço o que sei que é uma burrice enorme. Mas quero que ela faça isso, porque, enquanto eu estava lá em cima, revivendo em loop na minha mente o abraço que dei em minha filha, percebi que eu precisava. Eu precisava vê-la de novo. E se Travis não ia colaborar, talvez eu precisasse quebrar nosso contrato.

Minha mãe aparece depois que Tree sai para localizar "a garota do chapéu de 22", atendendo ao meu pedido inusitado. De início, a ruiva pareceu um pouco contrariada com a ideia, porque eu não lhe disse de quem se tratava, mas provavelmente ela acabou achando que se tratava de uma estratégia maravilhosa de humanização da minha imagem – isto é, convidar uma fã especial para curtir mais uma noite de show.

Fosse como fosse, no momento em que Andrea e eu ficamos sozinhas, eu lhe despejo a história, e mamãe me olha com suas orbes arregaladas sem acreditar.

— Então você a viu? – Ela segura meus ombros, seu rosto me remetendo a um sentimento parecido com pena. De repente, me sinto ainda pior.

— Sim. – Minha voz embarga, e, quando percebo, já estou desabando. — Ela é perfeita, mãe.

E então tudo se torna um borrão. Eu começo a chorar copiosamente enquanto penso em Autumn. Minha mãe, a minha melhor amiga de todos os tempos, me envolve em um abraço firme e me consola quando eu sinto que não vou ter mais como respirar. Os soluços continuam saindo dos meus lábios, mas eu fecho meus olhos, deixando que o meu corpo desabe no dela. De uma hora para a outra, Tree aparece e, apesar de não se intrometer, ela aparenta preocupação.

— Taylor, querida... – Diz, levantando uma sobrancelha quando eu me viro para encará-la, as bochechas e os olhos inchados graças às lágrimas que liberei. — A garotinha que você estava procurando está com uma mulher que se chama Lindsay. Eu a presenteei com os convites, conforme você me pediu. – Em seguida, minha empresária faz uma pausa dramática, e então, respirando fundo, libera o ar. — Ela pareceu bem animada. Disse que ia chamar o pai para vir para a noite de amanhã.

E é bem nesse momento que eu vomito no chão do meu camarim no Arrowhead Stadium.

invisible string (taylor swift)Where stories live. Discover now