can we always be this close?

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Kansas City está em polvorosa. Consigo ouvir enquanto me escondo do outro lado da cortina do palco, minhas mãos tremendo, meus olhos ameaçando irromperem em lágrimas. É quando, por sorte, a música começa, e as pessoas passam a gritar ainda mais ao mesmo tempo em que o Sol se põe no céu, todos muito ansiosos pela minha entrada. Se eles estivessem aqui, eu me pergunto, masoquisticamente, também estariam?

Respiro fundo. A música instrumental de abertura, que introduz todos os meus álbuns e é uma marca registrada da turnê, toca ao fundo. Os bailarinos começam a entrar em suas roupas estampadas em laranja e rosa, balançando as enormes plumas, e, só por um momentinho em que estou esperando meu tempo para subir ao palco e levantar uma multidão de pessoas, me permito imaginar.

Penso em como seria se Travis e Autumn fossem a minha família. Se eu não tivesse desistido do meu papel de mãe e tivesse sido corajosa o suficiente para assumi-lo junto à tudo. Se eu tivesse ponderado que talvez a ameaça da exposição dos paparazzi e do declínio da minha carreira não eram tão importantes quanto a falta que eu sentia da minha filha. Minha única filha.

Eu a imagino no meu show, localizada na tenda VIP, no colo de seu pai. Imagino Travis apontando cada um dos meus passos no palco, e dizendo com orgulho para a nossa filha "Olha o que a mamãe está fazendo!". Eu os vejo cantarolando as músicas felizes juntos, numa perfeita sincronia durante as letras, e então nós três indo embora do estádio, Autumn adormecida em meus braços e Travis segurando a minha mão livre.

Eu fui tão burra. A mulher mais burra da Terra.

Chega a hora de cantar. Eu ouço a sinalização em meu ponto do ouvido, e então levo o microfone à boca, reproduzindo os versos de "Miss Americana and The Heartbreak Prince" no automático. Quando os fãs me acompanham, todos berrando minhas letras em resposta, eu me sinto tão perdida que começo a perceber as lágrimas em meus olhos. Quero estar feliz por essas pessoas, mas não consigo.

Finjo que estou tomada pela emoção. "Nossa, como vocês estão barulhentos, Kansas City, isso me deixa verdadeiramente emocionada". E então dou um sorriso de orelha a orelha, sabendo que fui treinada para aquilo – para fazer o que fosse preciso, mesmo com um coração partido.

Por consequência, a hora passa. As pessoas gritam ao mesmo tempo que eu me envolvo na música, ignorando o zumbido baixo que sai de meu coração. Me concentro nas notas que preciso acertar, nas caras que tenho que fazer e nos passos de dança que é meu dever executar. É mais fácil enganar meu cérebro dessa maneira; focando em outras coisas para não ter que pensar na filha que abandonei, e que agora provavelmente nunca mais terei a chance de ver.

Ultrapasso o bloco inicial de músicas entorpecida, me despedindo da era Lover. Em Fearless, eu rodopio um pouco sem rumo, fazendo as coisas tão no automático que Paul, meu guitarrista, acaba notando sem querer. Ele troca um olhar comigo, claramente preocupado, mas não verbaliza nada. Deve estar estampado em meu rosto que não me sinto muito bem.

Passo pelo bloco de evermore com um pouco de dificuldade. Engulo em seco durante "champagne problems", e preciso fingir emoção extrema para não cair em um choro copioso quando todos começam a me aplaudir. No fundo, quero gritar que não mereço as palmas; que sou uma pessoa de merda, que, debaixo da imagem de cantora perfeita, existe uma mulher que abandonou sua filha quando ela era um bebê. E que ela não é digna daquela adoração.

Mas é somente dois blocos depois, quando finalmente chegamos à era RED, que desabo. Não de início, porque já estou acostumada, e mesmo que abraçar uma criança durante o show – quando, debaixo dos panos, destruí a vida da minha própria criança – faça de mim uma hipócrita, consigo enfrentar. São apenas segundos, uma interação boba geralmente com uma garotinha aleatória até o final da música. Depois, a vida dela muda para sempre e a minha continua a mesma, esperando por uma mesma criança no dia ou na semana seguinte.

invisible string (taylor swift)Where stories live. Discover now