— Atenção, pessoal – Jason faz uma concha com as mãos e grita, o tom da sua voz deixando claro que ele vai fazer alguma piada. — Vamos todos fingir surpresa quando Trav for escolhido!
Todo mundo solta pelo menos uma risadinha, porque meio que sabemos que a Autumn vai mesmo me escolher. É uma tradição nossa, como uma comprovação da força que a nossa relação de pai e filha tem.
Sempre fomos Autumn e eu. Desde que ela nasceu, nunca procurei a ajuda de ninguém para criá-la, nem muito menos fui um desses pais ausentes que deixa a filha nas mãos de um desconhecido enquanto sai para trabalhar. Naquele período, tudo o que eu sabia era que não poderia deixá-la na mão, e que o meu dever como pai dela era mantê-la segura; por isso, assim que ela tomou as primeiras vacinas e a minha curta licença paternidade acabou, comecei a levá-la comigo nos treinos dos Chiefs.
Nós dois íamos ao centro de treinamento juntos; eu com todos os meus aparatos de futebol americano – uniforme, ombreiras, capacete e afins –, ela deitada num carrinho que também funcionava como bebê conforto. Surpreendentemente, Autumn ficava bastante calma assistindo-me pegar os lances de meus colegas de equipe na beira do campo, tornando-se a mascote do time nos momentos de pausa, quando os caras iam beber água ou receber instruções do nosso treinador.
Quando finalmente atingiu a idade suficiente, eu a coloquei na escola, onde ela passava metade do dia interagindo com outras crianças e brincando de soltar a sua imaginação, que sempre foi aflorada. Às vezes, quando eu a escutava contar histórias e inventar músicas brincando sozinha, me perguntava se tinha herdado isso da mãe, mas sempre afastava o pensamento como se fosse algo proibido.
Posteriormente, no período em que ela completou quatro anos, eu a coloquei na Ginástica Artística. Isso aconteceu porque, em um certo dia daquele ano, nós estávamos assistindo ao campeonato mundial na televisão da sala de estar da nossa casa, e Autumn acabou testemunhando Simone Biles executar uma de suas acrobacias quase desumanas no solo, sem qualquer erro visível a olho nu. Ela ficou maravilhada, e passou o resto do dia girando sob os móveis espalhados pelos cômodos, dizendo que um dia iria para as Olimpíadas.
Talvez ela tivesse herdado aquela parte de mim.
"Papai" Disse, na ocasião, no tom de voz angelical reservado à época, que aos poucos foi mudando com o passar dos anos. Eu ainda sentia falta dela naquela idade. "Eu quero ser que nem ela."
"Você pode ser melhor que ela, se quiser." Foi o que eu disse, porque, como pai, nunca dispensava uma chance de aplaudir a minha filha alto. Às vezes eu me perguntava se agia daquela forma por causa da ausência da mãe dela; se tentava suprir de alguma maneira o fato de Taylor tê-la deixado sozinha comigo para nunca mais voltar. Autumn não mencionava a mãe – não naquele tempo, pelo menos –, mas o fantasma do abandono sempre acabava voltando ao meu estômago, me fazendo questionar se não faltava nada para a minha menininha enquanto ela rodopiava feliz pela sala de estar de casa.
— O meu primeiro pedaço de bolo não vai para o papai! Ele vai para... – Sou arrancado da onda de nostalgia quando a minha filha anuncia, os pés saindo do chão de animação e as mãos segurando firme o pedaço de bolo que ela mesma colocou no prato descartável azul. A decoração do aniversário consiste em borboletas de cor turquesa sobrevoando um jardim verde, e atrás de nós um painel brilhante destaca as palavras "FELIZ ANIVERSÁRIO, AUTUMN!" junto a alguns balões com pequenas bexigas dentro. — O campeão do SuperBowl LVIII!
A sala inteira irrompe em gritos e em gargalhadas, e sou obrigado a comemorar com toda a alegria que está em meu coração quando a vejo me estender o pedaço de bolo, toda feliz. Imediatamente posso sentir meus olhos recebendo uma boa gama de lágrimas, e então, emocionado, eu coloco o bolo na mesa de doces e me abaixo para abraçá-la.
Ela pula no meu colo como fazia quando era uma criancinha. Seus cabelos tão parecidos com os de uma certa pessoa balançam e minha filha encosta a cabeça em meu ombro, rindo quando eu a giro no ar. Ao fundo, Jason exibe reclamações dedicadas de "É marmelada! É marmelada!" em um ritmo cantado, e todos entramos em um clima conjunto de celebração de verão.
Exatamente como acontece todo ano.
— Ei, mocinha. – Eu chamo Autumn quando ela finalmente volta ao chão, preparada para cortar as fatias de bolo restante e distribuí-las entre as pessoas que mais ama no mundo. — Obrigado por me escolher. Estou honrado.
— Você é o meu melhor amigo, papai. – A sua voz ressoa, e sou obrigado a conter as lágrimas que voltam em uma velocidade impressionante. Autumn só ri; ela vive dizendo que sou uma manteiga derretida e que choro demais, mas a verdade é que apenas fico emocionado ao vê-la crescer. — Eu te amo.
— Eu também te amo.
***
À noite, somos só eu, Rambo e Chauncey. Depois que a festa acabou, levei Autumn para a cama, e ela me confessou, como faz todo ano, que aquele foi o melhor aniversário de sua vida, porque todos estávamos reunidos. Esse é um legado que sinto orgulho em dizer que passei para a minha filha; o legado de valorizar a família, de saber que tudo fica mais especial porque estamos todos juntos.
Posteriormente, embalada em suas cobertas cor de rosa, ela me contou um pouco sonolenta que Ellie e Wyatt a convidaram para que passassem o fim de semana juntas, acampando na Filadélfia, onde o meu irmão mora. Concordei com os termos do passeio, que ocorreria em algumas semanas – Kylie já tinha me passado todas as informações antes –, e, logo em seguida, falei que estava na hora de dormir.
Meu irmão, minha cunhada e minhas sobrinhas estavam ficando num hotel, mas a minha mãe e o meu pai se encontravam a apenas alguns cômodos de nós, em um dos quartos de hóspedes da mansão. Assim que fiz menção de apagar a luz, no entanto, Autumn pediu em um tom suplicante que eu chamasse a avó, para que ela lhe contasse uma história.
"Então é assim?" Eu lhe perguntei, em um tom de brincadeira. "Acabou de completar nove anos e já não quer mais ouvir as histórias do seu velho?"
"Sem ofensas, papai, mas as suas histórias são muito pouco criativas. A vovó sabe contar umas melhores, e eu tenho que saber aproveitar enquanto ela está aqui."
Ri porque foi engraçado, logo depois de lhe fazer cosquinhas que com certeza lhe deixariam um pouco agitada demais para ir dormir – um fato que, a partir daquele momento, seria problema da minha querida senhora Donna Kelce.
"Bem, já que eu não sirvo mais..." Fiz um falso drama, depois que dei a oportunidade para Autumn se recuperar do ataque de cócegas. Ela ainda sorria, os pés enfiados no cobertor e os olhos brilhantes voltados para mim.
"Pai!"
"Estou brincando." Sorri, e então me inclinei em sua direção, pronto para proferir o nosso mantra de toda noite. "Minha bebêzinha preferida teve um bom dia?"
"Pai." Minha filha fez uma cara de reclamação, revirando os olhos quando eu lhe deixei um pequeno beijo na testa. "Eu já fiz nove anos. Não sou mais bebêzinha."
Pisquei um pouco, olhando para Autumn com minhas orbes verdes um pouco chocadas por aquela revelação. Eu sabia que ela estava crescendo, e tinha muito orgulho da garota que ela estava se tornando dia após dia; dedicada na escola, cheia de amigos, simpática com os mais velhos e, sem dúvidas, uma pequena atleta talentosa. A minha filha se destacava nos tablados da ginástica, chamando cada vez mais a atenção dos técnicos da academia, que discutiam se ela não merecia subir para o time de competições em breve.
Só que, por outro lado, em momentos como aquele, em que a colocava para dormir depois de um dia divertido e cansativo, eu a sentia aos poucos se despedindo de mim. Como se soubesse que aqueles nossos dias alegres e juntos não durariam para sempre.
O que eu faria quando ela já estivesse no mundo, voando como eu sempre quis que ela fizesse?
"Talvez não cronologicamente." Falei, com a voz embargada, expulsando aqueles pensamentos e de repente me lembrando da mensagem que surgiu no meu celular naquela manhã. Não, Travis. "Mas, para mim, você sempre será a minha bebezinha."
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invisible string (taylor swift)
FanfictionOnde Autumn vive com seu pai, uma estrela em ascensão no time vice-campeão do maior evento de futebol americano do país. Crescendo sem nunca ter conhecido sua mãe, a menina mantém a certeza de que um dia elas se encontrarão, mesmo que o destino as r...
and even know you want to, just try to never grow up
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