CAPÍTULO 24 - Há tempo para tudo

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Fevereiro de 1986

     Desde que foi apresentado no início desta narração, muitas coisas mudaram na vida de Teofilo Lombardi. Durante esse período de 1 ano e alguns meses, ele finalmente percebeu que sua vida poderia sim ganhar sentido, e de fato, ganhou.

     Lombardi abriu mão, por conta própria, e por não sentir-se tão bem como antes, do costume de usar somente roupas pretas, que em sua maioria, remetiam ao estilo gótico. Para ele, isso lhe lembrava um tempo obscuro do qual ele não queria voltar nunca mais, e o qual ele já não se identificava.

     Nesse período, o ítalo-americano começou a pregar e a estudar Teologia. Seu intuito até então era ter formação como teólogo, e ter a oportunidade de dar aulas como tal. O homem já estava muito bem encaminhado.

    Certa vez, ele deu o seu testemunho pessoal em uma convenção de jovens, alertando-os sobre o banquete oferecido pelo mundo como forma de escape. Nisso, ele falou sobre os problemas com as drogas e como isso o afetou drasticamente.

     Também não deixou de falar sobre os períodos obscuros de sua vida, e como Jesus chegou dissipando toda escuridão, trazendo luz para sua vida.

    — Não há satisfação maior quando encontramos Aquele que preenche todo o vazio da alma, e nos dá a paz por completo — costumava dizer em suas ministrações.

     Recentemente, em Saint Paul, ao sair da universidade, ele não pôde deixar de se entronizar em uma conversa acalorada enquanto esperava o trem na estação ferroviária, de dois homens que estavam discutindo sobre Calvinismo e Arminianismo.

     Apesar de sentir-se envergonhado para falar com desconhecidos, e ainda por cima de uma forma que ele se intrometeu em uma conversa onde não foi convocado, Teofilo não conseguiu conter aquilo que ele compreendia como verdade — e nem as suas mãos trêmulas, nervoso —, e deu sua opinião a respeito, buscando falar de uma maneira mais tranquila possível.

     A questão que estava sendo debatida era sobre a “Graça irresistível”, defendida pelos calvinistas, e a “Graça Resistível”, teoria aceita pelos arminianos.

     Teofilo, assim como todos de sua denominação, defendia os preceitos do Arminianismo, autodenominando-se como arminiano. Diante desse posicionamento, e buscando apresentar provas através dos textos bíblicos, ele expôs a sua opinião sobre o assunto. O outro homem mais velho, que assim como ele, defendia a mesma causa, o parabenizou, enquanto o outro não cedeu e pareceu ficar ainda mais chateado.

     A conversa estava ficando acalorada até demais, beirando à uma discussão. Teofilo interviu:

     — Rapazes, quero lhes fazer a seguinte pergunta: Quem morreu na cruz, foi Jacó Armínio, ou João Calvino?

     Eles se entreolharam e o clima de disputa fora aliviado. Os homens compreenderam o grau da pergunta feita por Teofilo, e o que ela significava.

     — Quem nos une é Cristo, pois foi Ele quem morreu por nossos pecados na cruz do Calvário, e ressuscitou ao terceiro dia — Lombardi continuou. — Eu sei que haverá falta de concordância em alguns momentos, mas isso não pode ser maior do que a necessidade de estarmos unidos no Senhor.

     — Você tem razão — disse um deles, o mais jovem.

     — Você me fez refletir, rapaz. Qual é o seu nome?

     — Teofilo.

     Os dois homens apresentaram-se como Christian e Kevin.

     — Quão bom e agradável é que os irmãos vivam em comunhão — disse Kevin, o mais velho dos três. — Como filhos de Deus, devemos estar unidos, e passar adiante a mensagem do Evangelho, assim como nos foi ordenado por Jesus.

Dos Escombros à OlariaWhere stories live. Discover now