Teofilo virava de um lado para o outro na cama, sentindo uma grande inquietação. Ele estava há dois dias na casa de Philip. Sentia-se agradecido pelo ato de bondade do policial, mas o sentimento de estar sendo um empecilho era maior. Ele havia falado para Spielberg que quando ele conseguisse se reerguer, daria o pagamento pelos dias em que ele ficasse por lá.
Levantando-se da cama, Teofilo olhou em seu relógio. Eram exatamente 2h40 da madrugada. O sono não vinha. Ele sentiu uma pontada no peito, e sua respiração ficou ofegante por cerca de 1 minuto. Uma vontade chorar brotou.
Ele observou os cortes profundos nos pulsos, e sentiu uma angústia ainda maior.
Veja só em que situação me encontro. Eu perdi tudo. Perdi minha honra, fui feito de tolo, e o futuro só me deve reservar o pior. Jamais imaginei estar assim aos 34 anos de idade.
Sorriu sem emoção.
Ele afastou a cortina da janela que dava vista a parte da frente da rua.
- Me aguarde, Itália, oh, linda Itália. Em breve estarei de volta.
Teofilo ficou em pé durante 1 hora. Por um momento pensou em descer e tomar um café, mas preferiu permanecer dentro do quarto. Em seguida, deitou-se na cama, e permaneceu olhando para o teto até que amanhecesse o dia. E o dia amanheceu. Ele levantou, olhou-se no espelho e começou a rir de si mesmo.
- Estou parecendo um doente. Um zombie. Estou ótimo para um filme de assombração.
Lombardi saiu para fora, e caminhou até o banheiro. Ele tomou banho, escovou os dentes e vestiu outra roupa. Teofilo sentia-se um verdadeiro estúpido por se encontrar em uma situação como essa, e por isso, nesse mesmo dia, estava pensando em agradecer a Philip pelo tempo em que ele o acolheu em sua casa, juntar o pouco que tinha, e buscar por um apartamento. Nem que fosse no meio do lixão. Àquelas alturas, ele não queria, em hipótese alguma, estar sob a responsabilidade de ninguém. Ele não era mais um rapazinho.
Se aconteceu o que aconteceu comigo, foi por minha própria falta de atenção e responsabilidade.
Teofilo desceu para a cozinha, onde Philip, já sentado à mesa e fardado, o aguardava.
- Pelo visto alguém passou a noite em claro - Spielberg comentou. - Sente-se, meu amigo.
- Amigo? Já? - Teofilo sentou-se. Ele observou o livro que Philip estava com a mão sobre. - Minha mãe tinha uma - disse, pegando uma xícara e pondo café para si mesmo.
- Foi a minha primeira Bíblia - Philip disse. - Você já leu a Bíblia alguma vez?
- Já li alguns capitoli di Vecchio Testamento (Capítulos do Velho Testamento).
- Me desculpe, Teofilo, mas eu nunca tive aulas de seu idioma.
- Li algumas partes do Velho Testamento.
- ''No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. Disse Deus: haja luz. E houve luz'' ( Gênesis 1:1-3).
- O livro do Gênesis, imagino.
- Sim.
- Eu não entendi absolutamente nada do que li. E sinceramente, não sei se me interesso.
- Escute: é necessário ter o discernimento espiritual para entender. A palavra de Deus em si já é clara, mas há coisas que só vamos entender se tivermos o discernimento. No momento, você está cego.
YOU ARE READING
Dos Escombros à Olaria
RomanceAnos 80, um tempo de muitas mudanças. Hadassah Montgomery, uma norte-americana do estado de Minnesota, é uma historiadora cristã apaixonada por literatura. Montgomery vai à casas antigas e abandonadas, com um grupo de colaboradores em busca de info...