19 - Stalker

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Nora

— Por Deus, mamãe! O que a senhora fez?! Por que o convidou para almoçar!? Eu mal o conheço!

— Como não o conhece? Não trabalham na mesma empresa? E ainda frequentam a mesma igreja! — mamãe jogou-se no sofá da sala, apoiando os pés calçados em pantufas no puff. Era a figura estampada do desdém. Eu bufei incrédula.

— Não tem um mês que entrei na empresa mãe! E quanto à igreja, ele mentiu! Ele não é membro, só foi visitar. — Fiquei aguardando sua reação de braços cruzados, porém ela nem piscou. 

— Querida, dê licença está na frente da TV — disse pegando o controle ao seu lado. Eu abri a boca, estupefata com o descaso. 

— Mamãe? — Inquiri. Ela respirou fundo e deu três tapinhas no sofá, para que eu me sentasse ao seu lado.

— Filha — iniciou hesitante, depois que me sentei — eu sei que você é uma moça muito especial e Deus sabe que seu pai ficaria muito orgulhoso em ver a mulher que se tornou — ela tomou minhas mãos nas suas e continuou  — mas a mamãe não vai estar nessa terra para sempre e você precisa começar a pensar em construir uma família. 

— Mãe, não diga isso, a senhora vai viver muito ainda. Além do mais, eu... eu não tenho tempo para isso. Quero terminar os estudos primeiro e esperar em Deus a pessoa certa.

— Sim e quando terminar isso tudo, já estará na idade de ser avó — brincou

— Mãe, eu só tenho vinte e três anos! — retorqui, indignada com o comentário. Ela sorriu.

— Ah, você realmente é uma pérola, filha. Eu e seu pai éramos tão loucos — sorriu, olhando para o nada — namoramos num mês e casamos no outro, eu ainda tinha dezenove anos.

— Mas a senhora deu sorte de encontrar um homem bom. Eu não posso contar com a sorte. 

— Querida, não estou dizendo que você está errada. A questão é…— hesitou — eu não quero que fiquem sozinhas quando eu me for. Quero que encontre um bom homem, que cuide de você e que lhe dê uma família.

— Mamãe… — tentei articular algo, mas meus olhos se encheram de lágrimas — por que está dizendo isso tudo? A senhora não vai morrer, misericórdia! — ela me abraçou, colocando minha cabeça em seu ombro. 

— Eu não vou morrer filha, só estou sendo precavida, certo? — percebi que Elaza acompanhava a conversa, encostada no batente, já vestida no pijama de short. A mamãe também percebeu, talvez por isso pôs-se à mudar de argumento — afinal de contas, sua irmã já me contou que você dispensa todo bom rapaz que se aproxima de você. Por acaso tá querendo ficar pra titia?

— Eu só não achei a pessoa certa. E também acho que não é o momento certo — funguei, esfregando o nariz da coriza que já queria se formar.

— Tá, eu sei que você é uma moça temente à Deus, e dou graças à Ele por isso. Sei o quanto é estudiosa, dedicada à obra de Deus, recatada… 

— Mas…?— instiguei.

— Mas — afastou-se para me encarar — vinte três anos já é idade para pensar em se casar.

— Mamãe…— protestei, esfregando a testa.

— E não vai conseguir um só pretendente se continuar sendo um porco espinho que repele todo bom moço. 

— "Bom", mamãe? A senhora nem os conhece!

— Nem você! Não se dá a oportunidade de conhecer ninguém, só vive trabalhando e estudando! Precisa pensar que a vida é mais do que isso. Precisa conhecer pessoas! Precisa sair, fazer a rota da amizade com alguém e quem sabe se apaixonar! — ela ergueu uma sobrancelha e esboçou um sorriso, que me fez sorrir de volta. Vê-la falar assim, aquecia meu coração, pois era quem ela sempre foi. Uma mulher pra cima, brincalhona e às vezes brigona. Meu pai era apaixonado por ela.
— E foi por isso que eu tive que tomar as rédeas da situação e EU chamar o rapaz para um almoço, porque se eu fosse depender de você, nunca teria netos! Você viu que rapaz bonito? Imagine se ele casa com você, Elô querida? Os netinhos todos moreninhos com olhos azuis.

Se Não Marchar... Não Tem Cortejo (Romance Cristão)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon