22 - Passeio à beira mar

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Nora

“Jesus o que eu faço?” Era a pergunta que martelava em minha cabeça, enquanto encarava o espelho do banheiro, com ambas as mãos sobre a pia. Giulio permanecia na sala da minha casa, conversando com minha mãe e irmã. Enquanto isso, eu me martirizava no banheiro, por não conseguir extrair de Giulio mais informações sobre quem ele era e o que queria comigo. Pelo contrário, sentia que alguém havia extraído o meu cérebro e batido em um liquidificador, para só então colocá-lo de volta na minha cabeça. E o meu rosto atordoado era o retrato dessa confusão, juntamente com o saltitar enlouquecido do meu coração. 

Desde que me lembro, jamais havia me sentido tão confusa. A minha vida toda fui a decisão em pessoa, desde o momento em que minha mãe me encontrou naquele casebre na Índia e me perguntou se eu queria ir com ela. Lembro-me de ter-lhe dito “sim” prontamente. Sempre tive a resposta à ponta da língua, desde a cor de esmalte à escolha do curso na universidade. O “não” também era vívido e sem resquícios de dúvida, quando algo não era do meu agrado. Principalmente no quesito relacionamentos.

Mas agora, sentia-me uma farsa: rejeitei inúmeros pedidos de “oração”, no entanto não consiguia repelir a presença incômoda e ao mesmo tempo instigante de Giulio, um homem misterioso que aparecera na minha vida de supetão. Eu sabia absolutamente nada sobre sua vida pessoal, no entanto ele fora audacioso o suficiente para brotar na minha casa, como quem não quer nada. Ou melhor, como quem quer tudo. 

O que, afinal, sentia por ele? Atração por aqueles belos olhos azuis que atenuava a perfeição de seu rosto másculo? Não poderia ser apenas isto, visto que as minhas mãos permaneceram trêmulas por todo o momento perturbador em que ficamos sentados no banco do quintal. Por que cargas d’água eu não conseguia ser firme e incisiva com ele? O tempo na cozinha preparando sobremesa, serviu-me para colocar os pensamentos no lugar e eu formulei inúmeras perguntas mentais, para então, esquecer até mesmo o meu nome, ao sentir o perfume amadeirado de Giulio subindo em minhas narinas e o toque sutil de seus dedos em meu rosto. Ah, e não posso esquecer de seu coração galopando sob a palma da minha mão. Que raios minha mão foi fazer sobre seu peito?!

— Arg, Nora!  Ponha a cabeça no lugar, pelo amor de Deus! — fechei os olhos apertando-os com força e respirando fundo, emendei — lembre-se do que papai lhe disse, aquela noite: comporte-se como uma princesa! — Lembrei-me de toda aquela conversa sobre igualar o jugo e sorri, descrente do que ouvi. Afinal, ele era ou não crente? Ele queria me cortejar ou me confundir? Eu precisava de respostas e as teria, contudo, para isso precisava controlar minhas reações. Precisava vigiar e orar. 

***

— O que é isso, Elô? Por que trocou de roupa? — Elaza me analisava confusa à soleira da porta. Já era umas três da tarde, quando Giulio me chamou para uma caminhada no calçadão da praia de  Camburi. Era óbvio: ele queria um momento a sós, e conversinhas rápidas, sob os olhares da irmã e da mãe, não lhes seriam suficientes. Sorri ao pensar nisso, enquanto fitava o meu reflexo no espelho do quarto. 

— Ele me chamou pra sair, Elah. Estou vestindo algo pra sair, é claro. 

— Mas o macaquinho estava perfeito!

— Estava curto.

Não, não estava. Eu é que não estava à vontade, sentindo o olhar de Giulio sobre os meus joelhos. 

— Curto!? está louca!? — deixou cair o queixo, olhando-me com indignação. Revirei os olhos, enquanto terminava de ajeitar o vestido com estampa de verão que ressuscitei do fundo do guarda roupas — Elô, não pode sair com esse vestido!

— Por que não? — Icei as sobrancelhas. 

— Porque vai à uma praia? — cruzou os braços, numa pergunta retórica repleta de escárnio. 

Se Não Marchar... Não Tem Cortejo (Romance Cristão)Where stories live. Discover now