9 - Laço?

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Depois de um almoço, um tanto estranho, em que o senhor Martinelli não proferia palavra alguma e Giulio, em contrapartida, pairava o seu olhar sobre mim com afinco, nosso chefe levantou-se afobado, olhando várias vezes para o relógio enquanto dizia precisar sair. - F-fique para pagar a conta, G-giulio - titubeou, direcionando-o seus olhos puxados sob as lentes dos óculos, que nem se deu ao trabalho de levantar, apenas direcionou-o uma sobrancelha arqueada, voltando o olhar em seguida para mim.

- Tudo bem, já estou acabando. - Percebi, que os dois já haviam acabado e Giulio dedicara-se a me encarar obsessivamente, ora de soslaio, fingindo olhar para qualquer outro lugar, hora com os cotovelos sobre a mesa, sustentando queixo com os polegares. "Eu e minha mania de comer devagar" pensei, desesperada para terminar o prato. Eu havia insistido em comer o prato mais barato do Coco Bambu, mas por algum motivo que eu não sabia, Giulio acertara em cheio a minha comida preferida, insistindo que eu deveria comer moqueca. Percebi que o senhor Martinelli era um tanto calado, proferindo apenas o necessário à sobrevivência. Giulio quem falara um pouco mais. Não o suficiente para me deixar confortável por comer com, nada mais nada menos, que um dos donos da Martinelli Corporation e seu secretário enigmático. Eu tentava manter minha boca comendo, pelo medo de soltar alguma bobeira e ser demitida instantâneamente, enquanto Giulio falava sobre comida, como um verdadeiro mestre culinário.

- Deveria sair para comer mais vezes, Nora. A comida capixaba é, definitivamente, uma das melhores do mundo. - "ha! como se o salário de estagiária, desse para bancar restaurantes luxuosos", pensei comigo - a forma como são preparados os frutos do mar aqui, não se vê em lugar algum.

- E você já esteve em outros países, Giulio? - perguntei, despretensiosamente, como que querendo me inteirar do assunto. Percebi, porém, que ele ficara empertigado com a minha pergunta.

- Sim... a passeio... claro - titubeou, mexendo no nó da gravata, como se estivesse sufocado. Gesto este que se repetiu em alguns momentos do almoço.

Minutos depois, ele pagou a conta na mesa e saímos em seguida pelas portas de vidro do restaurante. Eu, totalmente encabulada por estar saindo sozinha com um homem, algo que nunca me ocorrera, ao passo que ele demonstrava a maior naturalidade do mundo.

- Eu agradeço por se preocupar com meu bem estar e me presentear com a graça da sua companhia - Gracejou em tom jocoso, depois de sairmos do restaurante - para mim é um martírio ter que comer sozinho com o senhor Martinelli.

- Não exagere! - tive que rir de sua formalidade, percebendo-o sorrir de volta, enquanto caminhávamos pela calçada. - Aliás como anda a sua saúde?- ele lançou um olhar surpreso para mim.

- Bem... que eu saiba, por quê?

- Nada. Lembro-me de que tossia bastante a primeira vez que te vi. - respondi, vendo-o esticar o canto dos lábios.

- Então, além de recordar-se da primeira vez que nos vimos, ainda preocupa-se comigo?

- C-como? - me odiei por ter gaguejado, porém tal gesto pareceu tê-lo incentivado.

- Não precisa ficar nervosa - brincou, sorrindo largamente, exibindo as covinhas nas laterais das bochechas.

- Ha - bufei, incrédula - eu não tô preocupada!

- Ah, então não se preocupa comigo? - fingiu ultraje.

- Não tenho porquê, já é bem crescidinho.- Atalhei cruzando os braços, presenciando sua gargalhada abafada sair pelo nariz. Ao chegar em frente ao prédio, prestes a atravessarmos ele me impediu, pousando gentilmente os dedos em meu cotovelo coberto pelo terninho.

- Nora...- titubeou, mirando a própria ação de seus dedos. O percebi hesitar, até que me direcionou o olhar de safira - Será que poderia almoçar comigo novamente amanhã? - os olhos azuis eram suplicantes e cheios de expectativa. Pisquei várias vezes tentando entender.

Se Não Marchar... Não Tem Cortejo (Romance Cristão)Where stories live. Discover now