14 - Pretendente surpresa...?

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Sabe aquele momento em que você odeia ser crente? Odeia ter que tomar a sua cruz e seguir? Odeia ter que olhar nos olhos mais bonitos que já viu em toda a sua existência e dizer não?

Não foi assim que me senti.

Entrei naquele elevador, com um sorriso que reluzia satisfação. Eu estava orgulhosa de mim mesma, afinal, havia vencido a tentação. Ajeitei o terninho e girei o corpo, fitando as portas que se fechavam à minha frente, percebendo a feição estupefata de Giulio me acompanhar com os olhos, ainda sentado no sofá. Dei um tchauzinho com os dedos e fingi ignorância, até que o elevador fechou. Puxei o ar e soltei satisfeita. Seria maldade? Giancarlo era conhecido por sua má índole e eu não colocava a minha mão no fogo pelo seu secretário atrevido. Almoço à sós? "Não consigo tirar os olhos de você?" Ora, por favor. Mal nos conhecíamos. Na verdade eu conhecia o tipo dele: homem elegante, bem trajado e cheirando a perfume italiano. De certo não ia querer nada com uma simples estagiária, além de entretenimento. E sim. Eu me deixei levar pela a aparência. Deus do céu, ele era a perfeição em forma de homem. Mas ouvir o Espírito Santo me repreender na noite anterior, dizendo para que eu, literalmente, me comportasse, ah isso foi o suficiente para me colocar no meu lugar.

Fiz meus passos até o banheiro e enquanto lavava as mãos, fitei o espelho à minha frente, emitindo um sorrisinho presunçoso.

- Jesus, o Senhor deve está muito orgulhoso de mim não está? O diabo pensou que ia levar essa - estalei a língua - ah mas ele está muito enganado. Quem manda aqui - apontei para o meu próprio coração - é Jeová! - deixei ele confuso, não deixei? - perguntei ao meu reflexo no espelho - deve está tontinho com essa bicuda. E dá-lhe bicuda na cara do cão... - comecei a cantar entre sorrisos, enquanto começava uma dancinha desengonçada. De repente ouvi a descarga e uma das portas dos sanitários se abriu. - Dá-lhe bi... - Estaquei com a imagem de Cíntia no reflexo do espelho. O rosto perplexo encarando-me por alguns instantes. Eu, claro, com uma mistura de surpresa e vergonha. Ela se aproximou e apertou a torneira ao meu lado começando a higienizar as mãos.

- Espero que esta empresa não esteja te deixando louca.

- Ah... - balbuciei com um sorriso nervoso - não, eu estava apenas...

- Tudo bem, fique tranquila. Eu não vi nada, não estou nem aqui - completou, secando as mãos no papel toalha. Olhou para mim com aquela afeição típica no olhar e emendou - eu sei que a gente coloca você para trabalhar feito burro de carga, minha querida. Mas, saiba que me preocupo com a sua saúde mental.

- Oh! Não é isso, Cíntia - balancei uma mão, atordoada - é que...

- É que...? - encorajou, erguendo uma sobrancelha.

- Estou feliz. Sinto que fiz o que era certo.

- Sobre o quê?

- Sobre o secretário do senhor Martinelli - suspirei, num misto de alívio e dever cumprido - eu o dispensei.

- Então ele estava mesmo dando em cima de você? - indagou, demonstrando incredulidade e indignação.

- Ele disse que estava interessado em mim - e no fundo eu também estava.

- E o que você disse?

- Que sou diferente e que acredito que nós dois não combinamos - mais ou menos isso. Eu acho.

- Mas como tem tanta certeza de que não combinam? Você nem o conhece - sorriu.

- Bem, eu... apenas sinto. Pela forma que ele se comporta.

- Você não disse que ele foi cortês?

- Sim, mas...

- Então ele não faz seu tipo.

- Não, pelo contrário! - argui, mais depressa do que pensei, sentindo o rosto queimar em seguida. Cíntia me devolveu um sorriso e olhos estreitos.

- Hm... então, deixa eu ver se entendi. Você o dispensou por acreditar que ele não queria nada sério com você, certo? - assenti, meio incerta - mas não deu uma chance para que ele prove o contrário, mesmo gostando dele?

- Eu não disse que gosto dele - rebati incomodada.

- Mas também não desgosta - Cíntia começava a me deixar confusa e eu a fitei desnorteada.

- Então... você acha que eu deveria ter aceitado o convite do almoço?

- Não é isso o que eu quis dizer - apoiou uma das mãos na pia de granito e prosseguiu - Se vocês mal se conhecem e acha que seria constrangedor almoçarem sozinhos, você não tem obrigação de aceitar. Também achei o convite um tanto ousado da parte dele. Mas, queira ou não, hoje em dia os homens estão acostumados à mulheres fáceis. Talvez ele tenha pensado que fez o que era certo. Mostre a ele que é diferente, mas não dispense o cara assim, sem mais nem menos. - "okay. Eu tinha feito certo, ou não? Meu Deus, eu nem dei a chance dele responder se era crente!" levei uma mão à testa, sentindo-me uma tola, até que senti o toque suave de Cíntia em meu ombro, chamando a atenção de meu olhar - querida, eu sou uma solteirona convicta por opção. Mas não é por isso que desacredito nos homens. Também não gosto de incentivar namoro em local de trabalho e pretendo ter uma dura conversa com Giancarlo, a respeito desse rapaz. Mas, se você gosta dele, seja firme em seus princípios e coloque as cartas na mesa, mas não dispense o rapaz sem ouví-lo.

- Bom, temo que eu já tenha feito isso...- sorri nervosa.

- Bom, então, vida que segue! - deu dois tapinhas em meu braço - homem é o que não falta por aí, não é? E queira ou não, por experiência própria, melhor sozinha do que mal acompanhada - abafou uma gargalhada, enquanto caminhava em direção à porta - ah e não esqueça do meu café expresso, Nora, já estou vendo estrelas sem meu café.

***

Alguns dias se passaram e o final de semana chegou, trazendo consigo afazeres que me fizeram esquecer os galanteios e o 'quase' pedido de namoro de Giulio. Passei o dia de sábado estudando para as provas de direito, à noite assistindo à doramas obrigatórios com minha mãe e minha irmã. Eu as via chorar como bezerras desmamadas todo final de Dorama e eu meneava a cabeça em discordância. Para mim, um final de Dorama era feliz. "Enfim acabou esse tédio", pensava todas as vezes, só para vê-las começar outro. Até que o dorama em questão me chamou atenção: o CEO de uma empresa estava obcecado para casar com a funcionária.- Detalhe: ele não sabia que ela era sua funcionária. - Até que ele conseguiu a encurralar, fazendo-a assinar um contrato que a faria ter um relacionamento falso com ele

- Ai, mas que ridículo! - Atalhei com a boca cheia de pipoca.- ele é burro, ou o que!? Não vê que ela é a cara da funcionária da empresa dele!?

- Ai, cale a boca, Elô! Eu quero assistir - retrucou Elaza.

- Mas que parafernalha...- bufei com um sorriso sardônico, jogando mais pipoca na boca, enquanto me obrigava a manter as pálpebras abertas em prol da convivência.

Noite de domingo

Local: Assembléia de Deus

Após longas horas de arrumação, eu e Elaza chegamos à igreja parecendo duas princesas indianas, cuja carruagem era o Transcol. Deixa em off. Eu vestia um vestido Branco em Laise, com furinhos formando desenhos pelo tecido. O de Elaza era exatamente igual, exceto pela cor esverdeada.

- Pazsenhô...- Elaza respondeu ao irmão do portão e eu dei-lhe uma cotovelada.

- Elaza! Pare de palhaçada, já está falando coreano agora? - ela riu, levando a mão à boca. Entramos na igreja e eu estiquei o pescoço para procurar o pessoal da banda. Até que, depois de alguns instantes, senti Elaza me cutucar.

- O que foi? Estou procurando o pessoal da banda, Elaza, vai atrás da sua turminha de adolescentes vai...- ouvi um pigarrear em resposta. Era um som comum, mas, definitivamente, não era a voz melodiosa de Elaza, então virei-me para ver quem me chamava e estaquei no mesmo instante.

- Você!?

Se Não Marchar... Não Tem Cortejo (Romance Cristão)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz