Meu Mafioso (Romance Gay)

O Julgamento

   Todo mundo tem aquele pensamento intrusivo onde já desejamos a morte de alguém ou até mesmo imaginamos como seria matar uma pessoa. Eu não fui diferente, desde pequeno quando sofria bullying dos outros eu já desejava que algumas delas estivessem mortas. Porém, eu sempre achei que iria ficar bem caso isso acontecesse algum dia, como quando eu vi o Ricardo estourar a cabeça de um homem que estava em cima de mim. Aquela vez eu não fiquei chocado, mas agora eu definitivamente estava surtando. E o meu único medo era por esse homem ser alguém da máfia, talvez alguém que Ricardo conheça e tenha crescido junto.

   Me aproximei do homem, seu rosto paralisado em uma expressão vazia e sem vida. O sangue agora formava uma poça enorme em volta de sua cabeça. Meus olhos se encheram de mais lágrimas, minhas mãos tremiam e meus joelhos fraquejaram quando me abaixei. Para me manter firme, coloquei a mão no chão sujo e isso não me ajudou em nada, pois o sangue me fez deslizar e eu caí de cara. Meu choro agora era mais alto, mas ainda abafado pela música alta que tocava do lado de fora. Me arrastei para longe do sangue, não me importando em sujar minhas roupas, eu só precisava ficar longe. Encarei a porta, decidindo me levantar e procurar ajuda.

   Quando saí para fora, a música alta invadiu minhas orelhas com força. Minhas lágrimas deslizavam por meu rosto, se misturando ao sangue que escorria por minhas bochechas. Eu não sei bem ao certo que direção eu tomei, apenas trombei com algumas pessoas, as empurrando do caminho. Vez ou outra eu pude escutar alguém perguntando algo sobre sangue. De alguma forma, consegui achar Ricardo. Ele estava conversando com V e JP, um sorriso grande em seu rosto. Senti o desespero me abater, apertei meu passo e a primeira pessoa que me viu, foi V, que apontou na minha direção e atraiu a atenção de Ricardo.

   Eu estava no meio da pista de dança, havia luzes por todos os lugares e provavelmente todo mundo estava vendo meu estado. Ricardo arregalou os olhos, se preparando para correr na minha direção. Minhas pernas novamente fraquejaram, me fazendo cair de joelhos. Como eu suspeitava, todo mundo estava me olhando e cochichando coisas. De longe pude ver que Nadia e Adriano também vinham em minha direção. Ricardo foi o primeiro a chegar, segurando meu rosto para encará-lo.

   — Danilo, de quem é esse sangue?— Havia desespero em sua voz, medo e até mesmo angústia.— Por favor, me diga que esse sangue não é seu.

   — Mio Dio, o que aconteceu?— Perguntou Nadia, se abaixando.

   — Eu matei. Eu matei. Eu matei.— Repeti, ainda encarando os olhos de Ricardo.

   — Quem você matou?

   — Eu não sei.— Respondi, minhas lágrimas escorrendo.— Banheiro.

   — Filho, leve ele para dentro e limpe-o, sua mãe e eu cuidamos de tudo aqui.

   Ricardo não precisou de mais nenhuma sugestão, simplesmente me pegou no colo e me carregou para fora. Nadia chamou por V e gritou algumas ordens para as pessoas que estavam no salão. Ninguém seguiu a gente, mas eu ainda sentia que haviam vários pares de olhos me encarando com julgamento. Ricardo não conversou durante o trajeto, então eu não sabia o que se passava na cabeça dele. Quando chegamos em nosso quarto, ele me levou direto para o banheiro e me colocou sentado no vaso sanitário. Finalmente pude encarar os olhos dele, que estavam vazios e cheios de perguntas. Se afastando, ele ligou o chuveiro da banheira e voltou ao meu lado.

   Sem dizer uma palavra, ele se aproximou com a mão e por mais que eu soubesse que era ele, esse movimento me fez ficar desconfortável. Acho que ele percebeu, pois parou a meio metro de minha cintura. Sua mão se fechou e seus olhos me encaravam com um silencioso pedido de desculpas. Ricardo se levantou, me encarando com uma expressão de dor e se movimentou em direção a porta. Meu coração disparou, apenas com o pensamento de ficar sozinho, sem ele por perto, foi o bastante para que eu o segurasse pela mão. Nossos olhos se encontraram e em uma súplica silenciosa, eu pedi para que ele ficasse.