Capítulo 53

4.8K 352 29
                                    

Miguel

Uma tempestade surge a medida que me aproximo de Juancho, é uma chuva muito forte. É possível ouvir o barulho das gotas de água contra o teto de metal do galpão.

Pego uma cadeira, posiciono-a de frente para meu primo e me sento, mas antes tiro minha jaqueta e a jogo no chão. Aproveito para acender mais um cigarro enquanto o encaro esperando que fale ou faça alguma coisa. No entanto, Juan Alberto apenas me observa com seus olhos carregados de frieza e desafio ao mesmo tempo.

- O gato comeu a sua língua? Fez tantas merdas para me prejudicar e agora que estamos frente a frente, você não fala nada? - Minha sai fria e cortante. - Sempre soube que era um covarde.

Para minha irritação, ele solta uma risada debochada.

- Fiz o que deveria ser feito. O seu lugar sempre foi meu por direito. - Meu primo fala com dificuldade por conta dos ferimentos, mas não perde a postura irônica.

- Seu por direito? - Agora é minha vez de rir. - Que eu saiba meu pai foi chefe e passou seu lugar pra mim, assim como meu filho vai ocupar meu lugar se for da vontade dele.

Por instante sua postura muda completamente e assume um ar de incredulidade.

- Filho?

- Ah, você não sabia? Pois é, minha mulher está grávida, cabrón. E esse fato só me deixa com mais ódio de você, porque foi um dos responsáveis pelo seu sequestro. - Seus olhos arregalados me deixam com vontade de rir. - Vai pagar muito caro, hijo de puta.

Ele fica em silêncio. Acredito que a noticia de Violet grávida o impactou mais do que gostaria, mas é claro que Juancho nunca vai demonstrar fraqueza. É um bastardo orgulhoso.

- Por que fez tudo isso? - Pergunto um pouco mais calmo. - Sempre o considerei meu irmão e...

- Faça-me o favor, Miguel. Não quero saber desse papinho de família, fiz o que tinha que fazer e pronto.

- Fez o que tinha que fazer? - Forço uma risada. - Você fodeu com nossos negócios, se aliou ao inimigo e ainda por cima sequestra minha mulher. E tudo isso por nada?

Ele apenas me encara, sem expressar nenhuma reação e isso me incomoda.

- Você traiu sua comunidade, Juancho, traiu seu povo. É um homem sem honra e sem caráter. Acha mesmo que seria um bom líder? - Provoco-o.

- Com certeza seria melhor que você, primo. - Diz com ironia. - Você é um fraco e depois que se envolveu com a patricinha ficou mais ainda. Violet precisa de um homem de verdade ao lado dela e não um sentimental que nem você.

Começo a entender onde ele quer chegar. Sei exatamente como provocá-lo.

- Eu sou o chefe dessa merda, Juan Alberto. Eu que mando nessa porra quer você queira ou não. Violet é minha mulher, a primeira dama e é meu filho que está em seu ventre. - Me aproximo e digo bem próximo ao seu rosto. - Você não é nada. Você não tem nada. Tudo que fez a sua vida inteira foi viver em minha função e mesmo assim continua sendo um nada. Posso ser um fraco e sentimental, mas eu continuo sendo o chefe e Violet continua ao meu lado, e você?

Seus olhos demonstram a ira que está sentindo no momento. Pouco me importo. Esse cabrón vai ter que se revelar em algum momento.

- Você está aqui na minha frente, a minha mercê. Posso fazer o que eu quiser, sabe por quê? Porque eu sou Miguel León Herrera, o chefe de Tijuana, e você Juan Alberto Herrera, é ninguém.

Meu primo se descontrola completamente e começa a se debater na cadeira em que está amarrado.

- Seu filho da puta! Era pra eu ser o chefe e não você, ele sempre me disse isso. Ele me preparou a vida toda. Ele me disse que você não aguentaria o fardo...

- De quem você está falando, carajo?

- Ele era o irmão mais velho, o certo seria que ele fosse o chefe e eu o sucederia. - Juancho continua delirando. Fico completamente perdido. - Eu sempre vivi a sua sombra, assim como ele viveu a sombra do seu pai.

No início acreditava que meu primo estava louco e delirante, soltando palavras e frases aleatórias. No entanto, quando fala de meu pai começo a encontrar um sentido.

- Tio Germán nunca quis se envolver com a gangue. - Solto a informação para ver se ele fala mais alguma coisa.

- É mentira, meu pai sempre quis ser o líder, mas nosso avô não deixou. Tio Juan Pablo sempre foi mais forte e inteligente, se destacou diante do meu pai. Isso o enfureceu. Enquanto ele te preparava para se tornar o novo chefe, fazia o mesmo comigo. Enchia minha cabeça dizendo que eu era muito melhor e mais inteligente que você, e que merecia muito mais ser o líder. Eu era o verdadeiro chefe de Tijuana e tinha que tomar seu lugar antes que fosse tarde. Chegou a me apresentar o desgraçado do Terence...

Minha mente está um turbilhão de informações.

- Espera, não foi você que matou meus pais a mando de Chase?

- Claro que não, eu era um pouco mais velho que você. Não sabia segurar nem uma arma direito.

Se não foi Juancho o responsável, isso só me leva a acreditar que foi... não é possível.

- Germán sempre odiou seus pais. Na cabeça dele, Juan Pablo roubou tudo que pertencia a ele, tanto Tijuana quanto Ella. - Meus olhos se arregalam. - Seu pai só conheceu sua mãe por conta do meu pai. Ele trabalhava como mecânico dos Chase e conheceu Ella Rose, se apaixonou a primeira vista. Um dia seu pai foi visitar o irmão no trabalho e acabou conhecendo minha tia. Os dois se apaixonaram logo de cara, deixando Germán ainda mais furioso.

Sempre quis descobrir quem matou meus pais, mas agora que sei a verdade, o ódio que achei ia sentir, se tornou decepção. As pessoas que mais confiei a minha vida inteira traíram a mim e a minha família.

- Filho da puta. - Sinto ódio misturado com frustração. - Por que está me dizendo tudo isso?

Ele dá um pausa dramática e me encara.

- Porque acabou, primo. Você vai me matar de qualquer forma, está tudo acabado. - A princípio seu olhar está vazio, mas em seguida se transforma para um olhar sombrio. - Se eu fosse você terminava logo com isso, porque sua mulher está sozinha em casa e isso não é seguro.

Seguro-o pelo colarinho e balanço seu corpo.

- O que quer dizer com isso, cabrón?

- Meu pai pode estar fazendo uma visitinha para Violet nesse instante. - Ele solta uma risada sarcástica. - Será que ela e o feto vão ter o mesmo destino dos seus pais? Afinal, acho que você nasceu para estar sozinho, primo. Órfão, sem sua mulher e filho. Apenas você.

Puta madre! Deixo Juancho rindo sozinho na sala e saio correndo em busca de Pedro. Enquanto corro, tento acionar o radinho para me comunicar com os chicos que tomam conta da minha casa, mas eles não respondem.

Pedro está do lado de fora fumando e conversando com Alfonso.

- O que foi, Miguel? - Ele pergunta quando me vê transtornado.

- Temos que ir para minha casa urgente. Aciona todo mundo agora. - Grito.

A Mulher do ChefeWhere stories live. Discover now