Capítulo 1

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 Se eu não tivesse nascido pobre, eu não teria que me mudar de cidade para fazer faculdade e nem mesmo para conseguir um emprego — acho que não precisaria fazer absolutamente nada. Às vezes eu me odeio por ser pobre, mas já que a vida me presenteou com essa maravilhosidade, o que me resta é reclamar, chorar e sofrer.

Decidi que iria morar na casa do meu amigo — nos conhecemos desde a infância —, pois assim eu conseguiria fazer algum curso e trabalhar, tendo em vista que a cidade onde vivíamos é tão grande quanto a bunda de uma minúscula formiga.

Por que tive que nascer pobre, meu senhor... Eu poderia estar agora em uma ilha paradisíaca ou até mesmo sendo laranja de algum político corrupto..., quem sabe um funcionário fantasma, mas não...

Antes de ir para a sua casa, pois vim realmente de mala e cuia, tive que passar na universidade onde eu me matriculei, para então finalizar todo o processo de pré-matrícula, feita um tempo antes de forma online. Felizmente consegui um bom desconto graças ao vestibular — já que ser pobre e ter cara de pobre não foi o suficiente.

Contudo, só consegui passar primeiro na universidade, porque ele fez o grande favor — e eu vou agradecê-lo eternamente — de ir me buscar de carro na rodoviária, assim eu não precisaria pagar um táxi com a minha alma ou até com o meu corpo — literalmente.

— Está tudo certo — A atendente disse, assim que terminei de assinar todos os papéis — Seu acesso ao portal está escrito nesse papel. Quando fizer o seu primeiro acesso com esse login e senha, você pode alterá-la para uma senha pessoal por questão de segurança — Disse ao me entregá-lo.

— Certo... — Peguei-o.

— As aulas começam em algumas semanas. No seu portal, você terá todo o calendário, detalhadamente — Explicou — Seja bem-vindo a nossa universidade — Deu um largo sorriso.

Me despedi dela e agradeci e mais do que depressa, fui andando em direção ao estacionamento, pois eu não queria deixá-lo esperando. Acho que estou acabando com os seus dias de descanso.

Enquanto andava rapidamente, eu tive a brilhante ideia de colocar alguns papéis na mochila, pois assim pouparia tempo, mas o que eu não poderia contar é que — bem, talvez isso já seria o óbvio, bem óbvio, para falar a verdade — eu seria arremessado fortemente no chão, após ter esbarrado delicadamente em alguém.

— Ai meu Deus! — Ouvi um grito de alguém com uma voz tão... grave — VOCÊ ESTÁ BEM? — Senti suas largas mãos me ajudando a levantar.

— A minha bunda e as minhas mãos estão doendo — Reclamei. Depois de ter conseguido me levantar com a sua ajuda e me ajeitar um pouco.

Sinto minhas mãos doerem, por conta de todo o impacto no chão. Essa é uma bela maneira de começar uma ''nova vida'' em uma idade diferente.

— Sinto muito — Resmungou e então prestei atenção no belo homem que me jogou no chão — Eu estava um pouco desligado e nem vi você pelo caminho — Riu sem graça.

Ele é tão fofinho. Ao menos parecemos ter a mesma altura e ele parece ser alguém que não vai me bater.

— Também foi culpa minha... — Cocei a cabeça — Eh...

— Hm... você vai estudar aqui?

— Sim — Respondi, ajeitando a mochila nas costas e limpando as minhas mãos na calça.

— Quem sabe não nos esbarramos por aí — Disse sorridente — Me chamo Marcos — Estendeu a mão para mim.

— Me chamo Miguel.

...

— Se fosse eu, teria dado umas tapas nele — Rafael disse, assim que entramos em casa, depois de ele ter me ajudado a carregar as minhas malas para dentro.

Talvez eu possa ter trazido muita coisa — infelizmente não consegui trazer tudo o que eu realmente queria. Segundo a minha mãe, estou trazendo muita coisa, mesmo que eu tenha vindo de fato morar com ele.

— E do que isso iria adiantar, bocó? — O encarei — Por que eu iria bater em uma pessoa, do absoluto nada?

— Poderia dizer que foi um espasmo muscular — Se aproximou de mim e puxou a minha orelha — Ops, foi um espasmo! — Riu.

— Se fizer isso de novo, eu corto o seu pau! — Ri.

— Por que você cortaria fora algo que você gosta? — Puxou minha orelha novamente — Obviamente não do meu..., você entendeu.

Por conta de algumas brincadeiras, às vezes, eu acabo me esquecendo do fato de ele ser hétero. Mas de qualquer forma, isso é realmente algo de que eu não posso me esquecer, é algo que está sempre presente.

— Ah, que se dane!

— Por que todo esse estresse? No ensino médio você era mais legal — Se jogou no sofá.

— Acho que foi o cansaço da viagem — Bocejei.

— Toma um banho e descansa. A viagem realmente é longa. Quando vim morar aqui, eu cheguei igual um lixo..., todo amassado, podre e deprimente.

Olhei um pouco ao redor. É tudo tão diferente. Eu nunca fui para tão longe, sempre vivi no mesmo lugar e agora estou morando sozinho com o meu amigo. Isso é tão assustador para mim. De qualquer forma, isso será bom, são novos aprendizados e com isso, espero que as coisas possam finalmente começar a dar certo.

— Eu pedi uma pizza para jantarmos — Avisou, assim que saí do quarto depois de um longo banho e de ter organizado as minhas coisas.

— Vou comer só uma fatia — Bocejei e me aproximei do balcão e me sentei. O vi abrir a caixa de pizza e logo em seguida pegar dois pratos no armário.

— Vou adorar ter você morando aqui comigo, assim não me sentirei mais sozinho — Disse — É horrível viver sozinho. Obviamente tem as suas vantagens, mas é muito solitário.

— Ao menos você não está mais namorando aquela garota nojenta e sebosa..., assim não terei que olhar para a cara dela.

— Não vamos falar dela..., eu continuo traumatizado por ter sido traído — Ergueu as sobrancelhas — Isso ainda me dói.

— Eu...

— Tudo bem, acontece. Além disso, eu só conseguirei superar, convivendo com o fato.

— O importante é não se rebaixar e querer reatar o namoro.

— Vira essa boca para lá — Se benzeu — Não quero isso para a minha vida. Mas e você, não sai com nenhum cara? Por mais que a cidade onde a gente morava seja minúscula, acho que deveria ter alguém interessante e que você não quis me contar, mesmo eu te contando tudo.

— Ah, ninguém...

— Talvez na faculdade você consiga encontrar um cara bem legal — Me entregou um prato com uma fatia de pizza.

— É... quem sabe — Dei um sorriso forçado e logo em seguida dei uma mordida na fatia de pizza.

Por mais que o Rafael seja o meu melhor amigo e tenha me aberto as portas da sua casa, talvez tudo isso acabaria se ele descobrisse que nutro por ele uma certa paixão desde a adolescência. Não sei ao certo quando isso começou, a única coisa que tenho certeza é que não sei o que fazer para parar de sentir isso. E agora, vivendo sob o mesmo teto, será ainda mais difícil de controlar. 


N: 05/12/2023

Seguindo a modinha gringa, comentem aqui o dia e mês que estão iniciando a história e.e

Me sinto feliz por estar começando uma nova história, é sempre algo bem emocionante. Contudo, é possível que as atualizações demorem um pouco (ou não).

Espero que tenham gostado do capítulo e até logo

Então é... Amor (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora