Capitulo 32

413 65 15
                                    

29 dias desde que Marília viajou. E a única vez em que ela me ligou foi quando estava bêbada. 29 dias em que já não sei mais o que sinto. 29 dias em que recaio, repetidas vezes com o Henrique. E que escuto, quase sempre, pela Luiza, que Marília somente me usou. 29 dias em que Maraisa me pergunta todos os dias se estou bem.

Encho meus pulmões de ar, estou bêbada novamente. Meus braços estão ao redor do pescoço de Henrique, que dança comigo loucamente ao som do DJ. Nossos corpos estão grudados. É uma festa em família.

Meu pai decidiu festejar, então contratou alguns DJ e cantores para a festa. A empresa bateu o recorde essa semana, ultrapassando a meta estipulada pelo administrativo. E então decidimos comemorar. Meu pai é o mais novo bilionário da cidade. Antes, ele era milionário. Atualmente, ele é o segundo bilionário da cidade.

E eu, como uma boa herdeira, não pude não comemorar. Virei metade da garrafa de gin em minha garganta. Estou alterada o suficiente para dançar como a boa amante de pole dance que sou.

Há inúmeras pessoas na festa, todas espalhadas pelo salão. Os leds piscando, o som alto pra caralho e os corpos se movimentando entre si. Tudo que eu gosto em um só lugar.

— Já volto, amor! - Selo nossos lábios.

Me afastei de Henrique e, um pouco cambaleando, consegui chegar até o open. Pedi uma dose bem reforçada de Whisky. Estou sentada em uma das cadeiras, com as mãos emaranhadas em meus cabelos, sentindo o latejar constante da minha cabeça. Com o copo entre as mãos, apenas viro o líquido asqueroso em minha boca, fazendo uma careta de felicidade logo em seguida.

Olho para os arredores e noto que não há quase ninguém familiar ao meu lado. Meu pai deve estar bebendo junto com Maraisa. Aqueles dois são inseparáveis.

Quase engasgo ao sentir duas unhas afiadas em minha pele fina. Ergo o olhar, pronta para questionar o ato que me enfurece, e acabo engasgando com a própria saliva ao ver o par de olhos castanhos me fuzilando.

Franzo o cenho em negação, enquanto esfrego os dedos em meus olhos. Viro o rosto, buscando na olhá-la. Levanto de onde estou, esbarrando nela, mas ela me segura pelo pulso com força. Meus olhos a encaram em advertência, estou impaciente e bêbada o suficiente para aturá-la.

Tento me desprender das suas mãos firmes, mas Marília é bem mais forte do que eu. Ela me puxa até o canto da festa enquanto me olha em silêncio. A desgraçada passa 30 dias longe e se comunica comigo em um dia aleatório de vulnerabilidade, e acha que possui o direito de me intimidar em um momento como esse.

É a festa da minha família, não há motivos para ela estar aqui. Ela não possui esse direito, não agora. Semicerro os olhos. Não irei dar o gostinho de me estressar com ela. Passei os últimos dias tentando me restabelecer, tentando me recuperar do dano que ela me causou por ter se ausentado. Ela não tem esse direito, não mais.

Com seus olhos fixos em mim, ela tenta falar algo, sua boca se move em contrapartida mas logo ela se fala. Marília me puxa para si e me abraça, aninhando meu corpo no seu. Reluto, tento empurrá-la, mas o seu abraço é reconfortante o suficiente para fazer o meu corpo se entregar e me trair. Fecho os olhos, enquanto movimento minha cabeça para os lados em negação. Meus olhos estão lacrimejantes. Ela não possui a porra desse direito.

Marília emaranha seus dedos finos nos cabelos da minha nuca, fazendo com que eu a encare. Queria poder evitá-la, não queria vê-la, não agora. Não hoje. Não por alguns dias. Mas tudo que ela faz é me puxar pela nuca e selar os nossos lábios. Sem medo, sem receio, Marília me beija. Seus lábios me trazem à lembrança o que éramos.

Sinto vontade de chorar. Sinto vontade de sufocá-la com as palavras. Quero interrogá-la e perguntar o porquê da sua ausência, mas não é isso que eu faço. Eu a beijo, beijo como se nunca tivesse beijado os seus lábios. Beijo-a deliberando toda a saudade que outrora me sufocava.

Na ponta do Salto - MAILILAWhere stories live. Discover now