Capítulo 07

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Resolvi sair com o Henrique para espairecer a mente. A faculdade tem me consumido pouco a pouco, e eu sinto que a relação minha para com o meu pai não está muito favorável. Henrique pediu um capuccino e um croissant, por não estar com fome acabei por pedir somente uma água. Encostei minha cabeça em seu colo, com as pernas em cima da cadeira. Ele me contava sobre a sua paixão avassaladora por instrumentos, e é uma delícia ouvir suas composições seguidas por um instrumental criado por ele.

Aninhei-me ainda mais, sentindo o celular vibrar em meu bolso. Minha irmã estava à minha procura, então somente avisei onde estava e enviei a localização em tempo real. Sentia o carinho do meu namorado em meus cabelos e é sempre prazeroso ter a sua atenção.

– E as aulas, amor? - Henrique perguntou e eu respirei um pouco chateada com os últimos acontecimentos.

– Ah… Tive outro desentendimento com a Marília.

– De novo? Mas por quê?

– Ela ouviu uma fala imprudente minha enquanto conversava com o meu pai. Foi sem querer, não sou tão ruim como ela acha que sou…

Apesar de não gostar dela, não costumo ser mal educada com as pessoas. Falei sem pensar no momento e obtive consequências que me feriram.

– E como ficou essa situação?

– Ela é educada, mas é rude com as palavras. Um poço de frieza.

– Às vezes é só impressão, amor. Vai ver você só não teve uma oportunidade para conhecê-la bem.

– Eu não quero ter uma oportunidade para conhecê-la. Não me dou bem com ela. Prefiro apenas o nosso contato profissional, como ela afirmou mais cedo… - Suspirei chateada e abracei o meu corpo, lembrando das últimas falas da professora. – Eu sou uma pessoa ruim, amor?

– Não mesmo! Você é incrível e possui uma alma pura. Tenho certeza que vocês vão se dar bem a longo prazo. Atritos acontecem. - afirmou Henrique.

– Talvez eu seja um pouco mimada… - Dramatizo.

– Isso aí eu tenho certeza que você é.

– Poxa, amor, era pra você discordar. - Rimos juntos e nos beijamos.

Marília.

Prendi o meu cabelo, os meus alunos já haviam ido e estava sozinha na sala de dança. Alongava o meu corpo enquanto pensava na minha aluna. Nunca reparei com detalhes, mas algo em seu rosto chamava a minha atenção de uma maneira diferente. Inspirei profundamente e fui soltando o ar aos poucos enquanto alongava as pernas, com o tronco curvado. Como um insight, seu nome ecoa em meus pensamentos e o ar é cessado, causando-me uma sensação totalmente desconhecida. Tento, mas falho, retirá-la da cabeça. Talvez o estresse que ela me causou nos últimos dias, fez efeito por agora. Caminho até o banheiro e limpo o meu corpo com alguns lenços. Noto a curvatura do meu quadril e me frusto um pouco.

Alcancei todos os meus pertences e busquei Marcela na sala, de sempre. Minha filha estava completamente pintada, em todas as partes do seu rosto. Ri da situação, mas por dentro quis chorar porque eu quem teria que limpar toda a sua bagunça.

– Filha, você deitou em uma poça de tinta?

Marcela olhou para o seu vestido completamente pintado por cores diferentes e sorriu, mostrando os seus dentinhos banguelos. Eu realmente não consigo sentir raiva desse serzinho.

– Mamãe, a titia brincou comigo. Não briga com ela.

Fiquei à sua altura e beijei uma de suas bochechas.

– Mamãe não vai, ok? - Apesar dela estar suja, não me incomodo com o prazer de pegá-la em meus braços. Marcela continua segurando sua bolinha feita por massa modeladora.

Na ponta do Salto - MAILILAWhere stories live. Discover now