Capítulo 26

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Bati com as mãos sobre o volante, estava completamente atrasada e o trânsito continuava um inferno.

Que merda! - grito, firmando as mãos sobre o volante.

Senti o suor escorrer pela minha testa enquanto meu carro avançava centímetros de cada vez, preso no engarrafamento que parecia não ter fim. A reinaguração da Stilus era um evento que eu não queria perder por nada no mundo, e isso incluía enfrentar o caos do trânsito. Meu nervosismo aumentava a cada minuto perdido, e eu sabia que estava atrasada.

Finalmente, após o que pareceram horas, consegui chegar ao local do evento. Desisti de procurar uma vaga e parei o carro na primeira oportunidade que surgiu, ignorando o risco de multa. Corri em direção à entrada dos fundos, sabendo que o evento já estava em pleno andamento. As batidas da música e os risos da multidão aumentavam minha ansiedade.

Ao entrar pela porta dos fundos, senti todos os olhares voltados para mim. A sensação de que estava encrencada se intensificou. Meu cabelo ruivo era inconfundível, e não havia como passar despercebida. Tentei agir com naturalidade, apesar da minha pressa, e deslizei pela multidão em direção ao palco onde as dançarinas estavam se apresentando.

Caminhei pelo corredor lateral, tentando evitar chamar ainda mais atenção, e me misturei à plateia. Os olhares curiosos dos presentes ainda se fixavam em mim, mas eu continuei minha jornada até ficar perto do palco. Lá, eu me espremi em um canto escuro, observando as dançarinas com um sorriso nervoso nos lábios.

Play: [FOCUS - H.E.R]

A música encheu o ambiente, vibrando em consonância com o coração acelerado de todos os presentes. A reinaguração da Stilus estava prestes a atingir o auge, e eu, estava no centro do palco, pronta para iniciar a dança que havíamos ensaiado tão arduamente. A ousadia e a elegância eram o cerne dessa apresentação, e eu estava determinada a brilhar.

Com a postura ereta, comecei a mover-me suavemente ao ritmo da música, meus quadris balançando com uma graça que hipnotizava a plateia. Meus olhos, maquiados de forma sedutora, percorriam a multidão em busca de Marília. Eu sabia que ela estava ali, observando cada movimento meu.

Levantei meus braços acima da cabeça, esticando-os em direção ao teto, enquanto meus pés se deslizavam pelo chão. Os movimentos sensuais de meus quadris e a fluidez de meu corpo criavam uma atmosfera eletrizante. Os espectadores estavam em êxtase.

Em seguida, desci ao chão, ajoelhando-me e deslizando minhas mãos por minhas pernas, enquanto minha cabeça inclinava para trás. Com um movimento grácil, ergui-me novamente, girando no lugar e estendendo minhas pernas na direção da plateia, como se estivesse tocando as estrelas.

Cada passo, cada curva, cada movimento do meu corpo era calculado para impressionar. Meus olhos finalmente encontraram Marília na multidão, e eu sorri de forma provocadora enquanto nossos olhares se conectavam. Era como se a dança nos aproximasse, como se ela fosse uma mensagem codificada de desejo.

Marília.

A raiva e a frustração ainda estavam frescas em minha mente enquanto observava Maiara no centro do palco. Tentava conter a minha raiva apertando meus dedos fortemente, porém a irresponsabilidade e os últimos acontecimentos dominavam toda a minha mente.

Apoiei minha mão direita em meu antebraço e com a esquerda levei a taça até os meus lábios, bebendo singelamente um pouco do álcool que invadia lentamente o meu corpo, dominando-o por completo. Até o final daquela noite, muitas coisas estavam previstas para acontecer. Eu sabia e sentia.

Porém, agora estou fissurada na ruiva que desliza seu corpo em movimentos pensados e milimetricamente calculados. A elegância de seus primeiros passos hipnotizou a todos nós, incluindo a mim. A cada movimento, ela expressava confiança e paixão de forma tão impressionante que era impossível não ficar cativada. Meus olhos, inicialmente nublados pela raiva, agora estavam grudados nela, acompanhando seus movimentos com uma espécie de fascínio.

Maiara procurava por mim, seus olhos vagavam pelo salão. A plateia estava um pouco escura, já que as luzes voltavam-se para o centro do salão: o palco. E eu evitava olhar diretamente em seus olhos. Não queria correr o risco de ser flagrada babando na filha do Cesar.

Quando Maiara ergueu os braços e começou a deslizar pelo chão, minha raiva deu lugar à excitação. Sua flexibilidade e sensualidade eram uma manifestação de sua maestria na dança. Cada curva de seu corpo parecia estar em perfeita sintonia com a música, e eu me senti arrepiar com a cena. Prontamente virei todo o álcool em minha garganta e ergui a taça, desviando os meus olhos de quem tanto me tinha. Cambaleei um pouco para trás, segurando-me firmemente em uma das cadeiras.

A apresentação de Maiara me envolveu completamente. Esqueci momentaneamente todos os ressentimentos enquanto me perdia em seu corpo. A cena em que ela se ajoelhou e deslizou as mãos por suas pernas foi tão provocativa que eu sentia o meu corpo arder em resposta, e eu não pude evitar o suspiro ofegante que escapou dos meus lábios, e admirar a destreza com que ela o fez.

Quando nossos olhos finalmente se encontraram, foi como sentir seu corpo eletrizante colado ao meu. E me entreguei naquele momento, deixei que ela me sugasse com os olhos. Já não respondia mais por mim, não diante do meu declínio.

Fechei os olhos rapidamente e inspirei, voltando a minha atenção para as demais dançarinas que ali se encontravam, e por mais que eu tentasse admirá-las, meus olhos me traem e acham a ruiva que dançava eloquente, porém a nível elegante.

Aplaudi efusivamente, junto com os empresários que sussurram as mais puras baixarias.

Maiara pegou o microfone com graça e dirigiu seu olhar ao público que ainda estava efervescente após a performance. Sua voz, suave e firme, preencheu o ambiente. Ela sabia como falar e envolver a audiência, e isso era algo que eu admirava nela, mesmo com todas as nossas diferenças.

Ela deu início ao discurso, agradecendo a presença de todos e falando sobre a importância da reinaguração da Stilus. Sua fala era eloquente e inspiradora, e eu não pude deixar de notar como ela controlava a atenção de todos com maestria. Enquanto olhava para a plateia, percebi que ela estava falando não apenas com palavras, mas com paixão, um amor pela dança que transcendia qualquer conflito pessoal.

— Procurei você pelo salão inteiro, Marília. - ouvi a voz de Bruno atrás de mim, porém não respondi e ele me cutucou. — Cê tá babando na Maiara? - ele pergunta, direcionando o olhar para ela também.

— E você não? Olha como ela ficou nessa roupa. - aponto com os olhos.

Bruno ri e me puxa na mesma intensidade. Assustada com seu movimento, ele me encara e respira fundo.

— Uma fofoca chegou até os meus ouvidos.

Senti meu coração gelar, e confesso que inúmeras histórias passaram-se pela minha cabeça, mas eu sabia a qual ele se referia.

— Amiga, ela está espalhando pro salão inteirinho que você e a Maiara estão se pegando. Que história é essa?

Respiro fundo, erguendo a cabeça para trás, tentando não surtar.

— Óbvio que não, essa mulher é louca, chegou me intimidando falando que era namorada da Maiara… - Só de citar essa afirmação, meu coração se reprime ligeiramente. — Ela é sobrinha do Cesar.

— Sobrinha? Ela é… prima da Maiara? Que maluquice é essa?

— Pois é, eu mereço essa pirralha! - Reviro os olhos. — Cesar vai palestrar agora, vou para a minha sala e logo, logo desço, tá? Qualquer coisa, me liga!

Antes de ir para o meu escritório, passo em um dos balcões onde há bebida e levo comigo uma garrafa de champagne. Preciso acalmar-me um pouco, não posso deixar com que as minhas frustrações fiquem explícitas em meu rosto.

Na ponta do Salto - MAILILAWhere stories live. Discover now