Capítulo 23

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Marília.

Com que cara eu irei explicar ao meu marido tudo que aconteceu? Na verdade eu nem sei se ele notou algo, ou se viu algo. Somente entrei, com o semblante relaxado, tentando não transparecer os turbilhões de sentimentos que se oprimem em meu peito. Murilo ainda estava onde permaneceu assim que sai atrás de Maiara. Ele estava com o meu celular na mão, e assim que notou minha presença, me olhou.

Confesso que temi o seu olhar, mas sabia que não havia nada que pudesse trazer desconfiança. Soltei o ar, levemente.

— Maiara já foi? Por quê? - questionou ele.

— Não sei, disse que estava se sentindo mal. Acompanhei ela até seu carro.

— Quando você iria me contar, Marília?

Eu gelei, completamente. Inspirei o ar, e como estava de costas para ele, apenas segurei na borda da cadeira e fechei os olhos por alguns segundos. Eu não sei do que ele se refere, mas quem esconde segredo teme a qualquer tipo de ameaça que te coloca em risco.

Queria não estar nesse barco. Queria não ter que remar. Porém, não quero recuar, não sabendo que estou prestes a tê-la. É tudo muito confuso; eu sou casada, mas desejo arduamente minha aluna. E isso é muito complicado. Adulterar não estava em meus planos; ademais, me apaixonar também não estava.

— Contar o quê? - Me virei para olhá-lo, seus olhos transbordavam de indignação.

Murilo se aproximou de mim, ficando a poucos centímetros do meu corpo. Seu corpo transpirava, e ocasionalmente o meu suspirava em tensão. Seu silêncio estava me agoniando, mas não podia demonstrar inquietude. Ergui meu rosto, agora com os braços para trás apoiando meu corpo.

— Que você estava planejando viajar sozinha. Por que "sozinha" e não comigo? - Seu rosto está franzido, inquestionável.

Tentei não demonstrar alívio, apenas engoli a saliva e molhei meus lábios levemente. Sorri para a sua indignação e peguei meu celular de suas mãos.

— Ah, amor. Me desculpa. Essa viagem seria após a reinauguração da S'tilus. Acho que mereço, né? Sou mãe, professora, administradora - falava, enquanto me aproximava do meu marido — e esposa de um cara extremamente atencioso, que vai me proporcionar esse luxo, hum?

Murilo se retrai, sentindo meu corpo chocar-se com o seu. Ele não precisou falar nada, apenas alcançou os meus lábios e me beijou. Meus olhos estavam fechados, eu sentia seus movimentos, mas meu pensamento buscou Maiara. E por instinto, imaginei-a enquanto beijava o Murilo. Não queria uma barba roçando meu rosto, mas sim aquela pele macia grudada ao meu rosto.

Maiara.

Estava seguindo o caminho de casa, até sentir meu celular vibrar constantemente em meu bolso. Atendi e ergui-o até a minha orelha. A voz fina e marcante falava do outro lado da linha. Não estava com paciência, tampouco com ânimo para encarar uma noite em uma boate, com música e bastante álcool, mas mesmo assim fui.

Estacionei meu carro e desci, do mesmo modo que estava na casa de Luiza, ainda estou. Entre os dedos, joguei meu cabelo para o lado que escorreu como cascata, ficando exatamente do jeito que queria. Em meus lábios, contornei-o com um batom extremamente vermelho.

Luiza, vez ou outra, me convence de que não há nada de errado em se viver. Ela me buscou na porta da entrada da boate. A música era ritmista, o que já liberou uma onda de endorfina em meu corpo. Não prestei muito atenção nela, até sentir seus braços puxando-me violentamente pela cintura. Nossos corpos se colidiram fortemente, não esperava essa atitude dela.

Seu hálito exalava álcool, o que explicava sua ação inusitada. Afastei ela com as mãos, mantendo certa distância. Achei que ela fosse questionar, mas apenas sorria enquanto mordia os lábios.

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