Capítulo 06

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Marília.

Estava concluindo o penteado de Marcela, quando Murilo entrou em nosso quarto e me beijou. Sorri para o meu marido e instantaneamente ele mostrou o buquê que escondia em suas costas. Segurei o gesto tão lindo demonstrado em um buquê, e o abracei, beijando repetidas vezes os seus lábios. Nossa filha bateu palmas, o que fez Murilo a pegar em seu colo. Beijei ambos.

– Obrigada pelas flores, meu bem! - Sorri para o homem que retribuía com um largo sorriso. – Sou a pessoa mais feliz do mundo por tê-lo!

– Eu quem sou, querida. Amo-te!

– Também amo. Amo a nossa família.

Jantamos um pouco mais cedo hoje, teria que dar aula com algumas horas prorrogadas. Despedi-me do meu esposo e sai de mãos dadas com a pequena Marcela. Ela sempre vinha comigo, detestava não levá-la. Marcela fez amizade com as tias da limpeza, o que facilitou em meus cuidados e revezamento.

Cheguei um pouco mais cedo, queria organizar a playlist e repassar alguns passos para a fixação da dança. Marcela ficou na recepção, junto com a recepcionista e mais alguns colaboradores.

Maiara.

Não trouxe roupa adequada, estava decidida a quebrar o contrato e pagar seja lá qual fosse o preço da multa. Com as mãos em meu cabelo, prendi-os em um coque mal feito. Inaliei o ar e segui em direção à recepção.

Pediram para aguardar, então prontamente me sentei. Não demorou muito para que a adorável Marcela me avistasse.

– Oi, laranjinha. - Ela acenou com a mãozinha e eu quis mordê-la.

– Oi, Marcela! Tudo bem com você, anjinho? - Apoiei meu antebraço em meus joelhos e tentei ficar com o rosto mais próximo o possível.

– Eu tô dez.  - Ela mostrou os dez dedinhos.

– Dez? Como assim dez?

– A minha mamãe disse que dez é bom e eu tô bom.

Ri e apertei suas bochechas.

– Genial! Nota dez pra sua mãe então!

– Por quê está sozinha aqui? - Ela olhou para os lados e voltou a me olhar. – Você tem namorado? A minha mamãe disse que eu não tenho idade.

– E não tem mesmo. Você é muito bebezinha.

– Não, nada disso! - Ela cruzou os braços. – Eu já sou uma mocinha!

Estendi os braços e para a minha surpresa ela veio até eles. Acolhi a pequena em meu colo e apertei ela com delicadeza.

– É, realmente, você é uma mocinha mesmo. Está cedo pra namorar, namorar dá dor de cabeça.

– O papai deu flores pra mamãe hoje. - Marcela balançava suas pequenas pernas.

– Hum, flores?

Ergui o olhar quando notei a presença irritante da sua mãe. A pequena saiu do meu colo e pediu colo para sua mãe.

– Você está adiantada para a aula. Ainda falta 40 minutos para darmos início.

Não respondi, apenas virei o rosto e alcancei o celular.

– Te espero! -

Antes que ela saísse, proclamei.

– Não irei mais participar de suas aulas, professora Dias.

Marília recuou e me olhou, sem entender nada. Ela colocou sua filha no chão e caminhou até mim. Calmamente olhou em meus olhos e desvendou a minha chateação.

– Você pode me acompanhar até a minha sala? - Concedi com a cabeça e a segui até uma sala totalmente diferente da que costumamos. – Sente-se, por favor!

Fiquei em total silêncio, e o clima era repugnante. Conseguia, com calma, controlar a minha respiração agitada e o tremor das minhas mãos. Estranhamente a sua presença me causa calafrios persistentes.

– Acredito que devemos conversar, não acha?

– Não temos nada para conversar, professora.

– Senhorita Maiara, não é do meu caráter fingir que algumas pendências não aconteceram. Pode jogar as cartas na mesa, estou aqui para ouvir coisas boas ou ruins.

– Eu realmente não tenho nada para falar contigo, Dias.

– Certo. Eu tenho! - Ela se pôs de pé e encostou seu corpo na soleira da mesa. Uma perna ficou na frente da outra e delicadamente ela subiu as mangas do seu blazer. – Tenho por mim que você não curte muito a minha presença, mas isso não interfere em nada na minha vida. - Suspirei irritada e ela prosseguiu. – A única coisa que interfere é o nosso comportamento dentro e fora da sala de aula, tal como também na empresa da sua família. É de praxe alguns alunos não curtirem a minha vibe de imediato, não sou transparente além do necessário, mas, não costumo prosseguir com essa imagem depois da primeira aula.

– Hum… e? - Não estava entendendo absolutamente nada. – Você acabou de mencionar que eu gostar de você não interfere em nada na sua vida, o que está tentando dizer?

– O que estou tentando dizer, Carla, é que, pelo menos, em ambientes familiares para nós duas, é necessário, pelo menos, um comportamento adequado para não ocorrer desencontros esperados, entende? Não quero que um clima como esse - Ela gesticulou com as mãos. – permaneça em todas as ocasiões existentes.

– E o que você sugere?

– Sugiro que, ao menos, se tens algo contra mim, fale. Não sou tão má quanto pareço. - Marília caminhou até a cafeteira. – Aceita um café? - Fiz que não. – Pelo menos na frente do seu pai. Tenho pra mim que ele não adoraria ver duas pessoas tão importantes para ele, discutindo.

Ela realmente acha que é importante, a esse nível, para o meu pai?

– Certo, professora Dias. Se me der licença, preciso concluir o cancelamento da minha inscrição.

– Maiara, antes que saia… - Ela segurou em meu antebraço e os nossos olhares se encontraram, causando-me uma explosão de friagem em meu estômago.

Sua voz cessou quando os nossos olhares se encontraram. É estranho explicar a sensação de inconstância que a minha respiração encontrou, e mais estranho ainda é sentir essa diferença tão detectável.

– Não cancele, vá pra casa e pense mais um pouco. Tenho certeza que você vai gostar das minhas aulas.

Inspirei fundo e separei o contato sutil dos nossos corpos.

Como ordenado, vim para casa e não cancelei. Não sei porque concedi a sua fala, mas achei melhor pensar mais um pouco.

Na ponta do Salto - MAILILAWhere stories live. Discover now