Ano novo

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Cruzei os braços abaixo do peito, escorando na parede do meu quarto e observando minha namorada que dormia serenamente em minha cama. Seu corpo estava coberto apenas por uma lingerie e parte do lençol fazendo com que as marcas que lhe fiz ontem a noite estivessem visíveis. Soltei um suspiro baixo, mordendo meu lábio inferior ao vê-la se remexer e soltar um pequeno ronco.

Ela costumava roncar quando já estava amanhecendo. Ela não fazia isso durante a noite, mas no fim da madrugada e começo da manhã o som ficava audível. Ela também tinha a mania de puxar a coberta enquanto dormia, e de colocar seus pés gelados perto dos meus ou apenas jogava suas pernas sobre as minhas - as vezes todo seu corpo - e, algumas vezes, só faltava me jogar para fora da cama. Quando transávamos a noite ou de madrugada, tínhamos o costume de tomar banho, como ontem a noite, e dormir apenas com nossas roupas íntimas. Só que as vezes o cansaço era tanto, que apenas dormíamos como estávamos. Nessas vezes, Marília corava pela manhã ao notar sua nudez e enterrava o rosto no travesseiro.

Mas em todos os dias ela abria os olhos devagar, bocejava e os fechava por alguns segundos antes de os abrir novamente junto com um sorriso manhoso que saía de seus lábios.

Eu sabia todas essas coisas, algumas pequenas e idiotas, e todas me faziam ficar cada vez mais apaixonada. Eu sabia tudo isso porque reparava em cada detalhe quando dormíamos juntas. E eu sentia falta de toda pequena coisa quando estávamos longe uma da outra. Eu sentia falta até da forma como ela ria quando eu acabava caindo da cama ou como ela tacava travesseiros em mim quando eu a acordava cedo demais apenas para conversar.

Eu odiava dormir longe dela. Era por esse motivo que eu não entendia porque Marília não queria morar comigo.

Ela ainda não tinha confiança em nosso relacionamento?

Respirei fundo, querendo tirar esses pensamentos da minha cabeça. Mas sei que era apenas porque ainda não havia tido a chance de conversar com Marília nestes dias. Com Sofia e Fairy em casa era difícil achar um tempo para realmente conversamos.

Ou talvez estivéssemos apenas evitando essa conversa.

Encarei o relógio próximo a cabeceira e soltei um suspiro, era melhor eu buscar minha filha antes que ela chorasse e eu escutasse pela babá eletrônica.

Me aproximei da cama, beijando delicadamente o rosto da minha namorada, notando o rosto calmo enquanto ela dormia e me afastando em seguida. Saí no quarto, me espreguiçando e caminhando até o quarto temático da minha filha. Acabei sorrindo ao entrar.

- Hey! - falei surpresa ao ver Sofia ali dentro com a sobrinha no colo.

- Estava indo pra sala e vi essa coisa tentando ficar em pé para sair do berço - contou em um tom risonho - Então ajudei ela - completou, me fazer rir baixo.

- Acho que você tem uma tia babona, Fairy - beijei o topo da cabeça da pequena e ouvi minha irmã rir - Então, café da manhã?

- Sim, por favor - Sofia concordou e logo estávamos na cozinha.

Sofia insistiu para dar a mamadeira de Fairy enquanto eu fazia nosso café da manhã, e não me importei. Achava um tanto fofo como minha irmã adorava a sobrinha. Admito que ficava com um pouco de ciúmes de como Fairy nem queria chorar no colo dela.

- E então, Marília não tem mais casa não? - ouvi Sofia comentar divertida e franzi o cenho, antes de fechar a máquina de waffles - Ela dormiu aqui todos os dias.

- Ah sim - dei ombros, despreocupada - Achamos mais fácil já que passamos dias sem nos vermos e hoje já é a festinha de ano novo - expliquei enquanto colocava o leite e suco no balcão.

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