41 Anger

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Natasha Dunkis

Deitada na cama, abraço uma das camisas de Fióri e observo o lado de fora da janela. Os primeiros raios de sol começam a desenhar o amanhecer. A escuridão cede espaço à luz, mas por dentro de mim, a dor permanece, inabalável.

Enquanto a tristeza continua a pesar em meu peito, ouço passos e vozes se aproximando do quarto, lembrando-me de que o mundo ao meu redor continua em movimento, mesmo que o meu próprio pareça congelado no tempo. Com um suspiro, decido me levantar e caminhar até o banheiro. 

Acendo as luzes e encaro meu reflexo cansado no espelho, percebendo o quanto as últimas horas de angústia e insônia haviam marcado minha expressão. Meus cabelos estavam desalinhados e as profundas olheiras sob meus olhos contavam a história de uma noite não dormida, carregada com o peso insuportável da dor que parecia consumir todo o meu ser.

Abro os armários e deparo-me com as coisas de Fióri, objetos que ele costumava usar, como desodorante e gel de cabelo, cada um deles agora uma lembrança viva de sua presença naquele lugar. 

Enquanto escovo os dentes, sinto o gosto amargo do creme dental e a escovação mecânica faz com que eu me sinta mais desconectada do mundo. Cada movimento para cima e para baixo parece mais lento do que o normal, como se o tempo estivesse passando em câmera lenta. Enxáguo a boca e coloco a escova de dentes de volta no lugar. Olho meu reflexo no espelho, e há uma tristeza profunda nos meus olhos, uma dor que parece insuperável.

Retorno ao quarto e percebo um vestido preto, botas e um casaco cuidadosamente dispostos na cama, acompanhados de um bilhete de Sasha. Ela havia separado as roupas para mim e saído com Iam para buscar algo para comer, deixando café pronto na cafeteira. Deixo o bilhete de volta ao lugar e removo as roupas que usei para dormir. 

Meu reflexo no espelho revela as marcas da última noite de amor com Fióri, marcadas em minha pele como lembranças dolorosas. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, e um nó na garganta ameaça me sufocar. Caio de joelhos no chão, sentindo o impacto reverberar por todo o meu corpo, como se cada fibra estivesse gemendo em agonia.

Começo a gritar e gritar, como se através dos meus gritos pudesse liberar a dor intensa que sento. As lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto deixo que a angústia se expresse em gritos desesperados.

De repente, ouço um barulho vindo de algum lugar da casa, como se algo tivesse sido derrubado ou caído. Meus instintos entram em ação, e eu me apresso para me levantar do chão. Com uma toalha enrolada ao meu corpo, vou até a porta do quarto, a respiração ainda ofegante devido aos gritos. Abro a porta com pressa e corro pela casa até chegar à cozinha.

Na cozinha, encontro tudo em ordem, mas a porta de entrada está entreaberta, deixando a luz fraca da rua entrar e criando uma trilha de poeira no chão da cozinha. Parece que alguém entrou na casa e depois saiu rapidamente. Meu corpo treme de apreensão, enquanto tento processar o que pode ter acontecido. Quem poderia ser o intruso?

Decido voltar para o quarto, ainda segurando a toalha firmemente ao meu corpo, e verificar se tudo está como deveria.

Penduro a toalha de volta em seu lugar e pego o vestido preto que Sasha deixou para mim. Visto-o rapidamente, e ele se ajusta ao meu corpo de maneira apropriada. Coloco a meia calça e, em seguida, calço as botas. Com a escova de cabelo em mãos, passo-a pelos fios, tentando deixar meu cabelo o mais arrumado possível.

Ao me deparar com o espelho, percebo que estou razoavelmente apresentável para o funeral de Fióri. Respiro fundo e saio do quarto, seguindo em direção à cozinha. Sirvo-me de uma xícara de café, apreciando o amargor da bebida quente enquanto ela desce pela minha garganta. 

O ASSASSINO DA NAVALHAWhere stories live. Discover now