19 Monster

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Fióri Smirnov

Por que será que aquela imagem me perturbou tanto? Só posso estar perdendo a cabeça. 

Pego meu celular, tentando distrair minha mente da vontade insana de voltar àquele salão e interromper os flertes entre Natasha e nosso funcionário. Desbloqueio a tela do aparelho e digito a senha para acessar as câmeras da minha boate. 

Entretanto, o vídeo que se desenrola diante de mim é, sem dúvida, intrigante. 

Trata-se de um homem que venho observando há algum tempo, um político acusado abusar sexualmente e depois de demitir injustamente uma jovem de apenas 16 anos que estagiava no congresso. O maldito pedófilo, até foi levado as autoridades, mas conseguiu ser inocentado, e o cretino escolheu justamente minha boate como destino. 

Ele está pedindo por isso.

Decido dar um basta. 

Com passos firmes, me aproximo do meu carro estacionado na garagem em frente ao complexo e entro no veículo, determinado a seguir em direção à boate. Acomodo-me no banco do motorista e ligo o motor, enquanto a estrada se estende à minha frente como um caminho incerto.

Enquanto dirijo pelas ruas da cidade, meus pensamentos estão em confusos, oscilando entre raiva e indignação. Minha mente é um caos de emoções, e o nome de Natasha, minha futura cunhada, reverbera em meus pensamentos. Maldita hora em que permiti que a obsessão me dominasse, maldita hora em que a segui e a vigiei. 

A lembrança de entrar naquela casa de penhores, logo atrás dela, retorna vívida. Vi o colar que ela deixou ali, o mesmo colar que costumava segurar com tanto carinho enquanto mergulhava em suas leituras. Ela tinha o costume de abrir um livro, colocá-lo sobre as pernas e, com uma mão, segurar as páginas enquanto a outra brincava com o pingente de luz. Uma pedra discreta, mas que ganhava vida no contorno do seu pescoço. 

Por que permiti que ela invadisse meus pensamentos dessa forma?

No entanto, também há Sara, a noiva que deixei para trás. Uma sensação de culpa pesa em meu peito enquanto penso nela. A pobre garota não tem culpa alguma e será obrigada a um destino cruel, um casamento sem amor, me sinto um monstro. Minha ânsia por vingança parece ter tomado conta de mim, eclipsando qualquer outro sentimento. O desejo de fazer justiça se sobrepõe à compaixão, e é uma batalha interna que não posso vencer.

Com o pé pressionando firmemente o acelerador, meu veículo rasga o asfalto e, num piscar de olhos, estou diante do meu destino: o Pub/Museu. Este local, notório para todos, carrega consigo a aura decadente de um antro de pecados.

Decidido, retiro a jaqueta de couro que estou usando e, com um gesto ágil, pego minha maleta de debaixo do banco, dela retirando o moletom que recuperei da casa de Natasha. Visto a peça de roupa, ergo o capuz para sombrear meu rosto, e, com um toque na maçaneta da porta, a abro cuidadosamente. Desço do veículo e fecho a porta com suavidade, caminhando alguns passos até me camuflar entre os jovens presentes.

Aguardando pacientemente, cenas grotescas desenrolam-se à minha volta. Jovens perdidos, entregando-se a seringas e substâncias duvidosas, procurando uma fuga, um alívio da realidade cruel que é a vida. Outros enrolam cigarros, tentando desesperadamente iludir a dura realidade. Casais se entregam a prazeres carnais sem cerimônia, numa exibição de decadência em plena rua, que desafia todos os limites morais. Não julgo, cada um tem a sua terapia, a minha com certeza é a mais sórdida delas. 

Meu celular persiste em exibir o nome Alexei. Sem hesitar, recuso as chamadas incessantes.

Após um breve intervalo que parece se estender como uma eternidade, meu alvo finalmente sai da boate, acompanhado por uma jovem loira. Seu vestido tubinho rosa cria um contraste marcante com suas botas brancas vistosas, enquanto ela balança as pernas de maneira desajeitada, provavelmente devido à embriaguez. Com um gesto brusco, ele a empurra para dentro de um carro cinza, um Chrysler de última geração, e a cena toma um rumo ainda mais repugnante.

O ASSASSINO DA NAVALHAWhere stories live. Discover now