07 Threat

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Natasha Duskin

Eu me sentia como uma intrusa em um território hostil, onde cada olhar ao meu redor parecia perfurar minha alma, transformando-me em uma presença vulnerável e indesejada.

E no epicentro estava o enigmático Fióri. Sua postura dura e indiferente, com um semblante frio e misterioso, contrastava com sua aparência impecável: vestindo um terno preto que parecia feito sob medida, sapatos reluzentes, um relógio de ouro adornando seu pulso e olhos azuis penetrantes que não revelavam emoção alguma. 

Sob outras circunstâncias, sua beleza poderia facilmente enganar alguém, confundindo-o com um modelo ou até mesmo um ator famoso. No entanto, sua expressão austera e seus lábios rosados não escondiam sua verdadeira natureza.

Apesar de toda a tensão no ambiente, Fióri parecia alheio a tudo, mantendo sua atenção fixa no relógio como se minha presença fosse completamente insignificante para ele.

Reunindo toda a coragem que pude encontrar, respirei fundo e decidi enfrentar a situação de frente, apesar do tremor meu corpo, que traía o medo interior que lutava para ser controlado.

— Eu vim pagar a dívida de Seife Cooper — digo, tirando a mochila das costas e mostrando a eles. 

Um dos homens rapidamente empunha a arma e a aponta na minha direção, como se minha ação representasse algum tipo de ameaça.

Os olhos melancólicos de Fióri finalmente se reviram em uma expressão de desdém, como se minha voz o incomodasse. Pelo menos, era alguma reação, por mais negativa que fosse.

— Peguem a mochila dela e contem o dinheiro.

Um dos homens que acompanhava Alexei rapidamente agarrou minha mochila, e eles começaram a retirar todos os pertences de dentro, colocando-os sobre a mesa diante do herdeiro dos Bratva. O som metálico das joias se misturava com o suave deslizar do tablet e do notebook, enquanto o dinheiro, em notas de diferentes valores, era contado e organizado em montes sobre a superfície polida da mesa. 

Naquele momento, senti como se estivessem vasculhando cada aspecto da minha vida, expondo meus pertences mais íntimos em busca de alguma fraqueza que pudessem explorar.

— Contabilizamos aqui 300.000 rublos — informou um deles, seu olhar dirigido a Fióri.

Após um longo suspiro olhou para o relógio de pulso mais uma vez, como se o tempo fosse um inimigo que não pudesse ser controlado. Em seguida, seu olhar se encontrou com o meu, e senti como se estivesse encarando um predador à espreita, pronto para dar o bote.

— Sua dívida é de 500.000 rublos — disse Fióri, com um sorriso de escárnio dançando em seus lábios, como se estivesse se regozijando com a situação. Sua voz era como um sussurro gélido, repleto de autoridade. — O dinheiro que trouxe não é suficiente. Te dou até o final da semana para trazer o restante. E saiba que as consequências de não cumprir com o combinado serão... desagradáveis.

Um sorriso triunfante se insinuou no rosto de Alexei ao observar a interação entre seu filho e eu. Essa dinâmica me perturbou profundamente, como se ele tivesse deliberadamente colocado o próprio filho em uma armadilha.

— Pensei que não conhecesse a garota — provocou Alexei, seu olhar curioso fixado no filho.

Fióri, por sua vez, retirou uma pasta da gaveta e a entregou ao pai, mas sua expressão denotava aborrecimento e desconforto diante de toda a situação. 

— Não associei o nome à pessoa... — disse ele com desdém, sua voz carregada de amargura. — Agora sei quem é. Não passa de uma criança mimada que está se metendo com as pessoas erradas.

Seus olhos se fixaram em mim com hostilidade, como se eu fosse a culpada por todas as suas inquietações.

Eu me senti como uma presa encurralada, cercada por homens poderosos e ameaçadores, prestes a cair em um abismo sombrio onde cada passo dado poderia ser fatal. Minha mente estava acelerada, buscando desesperadamente uma solução para libertar meu amigo.

— Ela não tem utilidade, nem mesmo como prostituta. Matem essa garota — ordenou Alexei com uma voz fria e implacável.

Os olhos de Fióri se encontraram com os meus novamente, e uma sensação de urgência tomou conta de mim. Eu precisava encontrar uma saída, uma forma de escapar daquele destino fatal que me aguardava.

— Me deem até o final do mês? — implorei, sabendo que conseguir o dinheiro seria uma tarefa impossível.

— Tem até o final desta semana... — respondeu Fióri com firmeza, sua postura autoritária era como um muro impenetrável, erguido para bloquear qualquer tentativa de negociação. 

Seus olhos, fixavam-se em mim, como se me desafiassem. 

— Agora suma da minha frente!

— Você é um monstro — As palavras saíram de minha boca com uma força que mal reconhecia, deixando escapar minha indignação diante de tanta crueldade.

Em seguida, um copo de uísque voou em direção à parede, e meu coração disparou com o gesto ameaçador, mas percebi que ele não tinha mirado em minha direção. A raiva em seu olhar me fez engolir em seco, mas eu não me permiti ceder ao medo. Eu sabia que precisava me manter firme, mesmo que a situação parecesse desesperadora.

— Mandei sair, garota imbecil! — Vociferou furioso, seu rosto contorcido pela raiva, os lábios apertados em uma linha fina.

Antes de decidir sair, me permiti encarar Fióri uma última vez. Seus traços, delineados pela palidez de sua pele, destacavam-se.  Seu rosto, esculpido com linhas firmes e imponentes, revelava uma dor profunda, arrepiando cada pelo do meu corpo. 

Mesmo com sua aparência impecável e elegante, algo em seus olhos brilhava como um profundo mistério, um azul enigmático que ofuscava tudo ao seu redor. Era como se houvesse um oceano por trás daquele olhar penetrante.

Respirei fundo e me aproximei dele, ignorando as advertências do medo que rugia dentro de mim.

— Eu quero a minha mochila — falei com coragem, mesmo que meu corpo me mandasse fugir dali o mais rápido possível.

Fióri agarrou a mochila com violência, e com um gesto brusco, a rasgou com toda a força, como se quisesse despedaçar não apenas o tecido, mas também minha coragem. Seu olhar penetrante fixou-se em mim, transbordando uma intensidade que arrepiava minha pele.

Apesar da raiva contida naquele gesto, mantive minha compostura. Com serenidade, recolhi os pedaços espalhados e segurei-os firmemente, como se estivesse protegendo algo de valor inestimável. Por dentro, a dor era desesperadora, mas eu não permiti que transparecesse em minha expressão, mantendo uma máscara de dignidade perante a o poderoso Fióri Smirnov.

Sem mais palavras, dei as costas a ele e saí da sala irritada e amedrontada, sabendo que teria que vender tudo o que possuía de valor para poder pagar essa dívida. A sensação de impotência me corroía por dentro, mas, estranhamente, nem mesmo o assassino da navalha que perambulava pelas ruas me assustava naquele momento. 

Eu estava determinada a encontrar uma solução, a mudar o rumo dessa história, custasse o que custasse. Minha jornada estava apenas começando, e eu estava pronta para enfrentar todos os desafios que estavam por vir para salvar a vida de Seife. A única pessoa neste mundo todo que eu tenho uma ligação verdadeira. 


Continua...


Diário de uma garota morta: THREAT = Ameaça... Fez meu corpo tremer e minha alma estremecer.

O ASSASSINO DA NAVALHAWhere stories live. Discover now