15 Memories

964 89 24
                                    

Natacha Duskin

Acordo com raios de sol invadindo a sala, pintando as paredes de tons dourados e aquecendo meu rosto. Sinto minha cabeça latejar, como se o sol estivesse tentando invadir minha mente também, mas ao mesmo tempo, um aroma reconfortante de café flutua pelo ar, tentando me trazer de volta à vida. 

Vozes ecoam distantes na cozinha, misturando-se com os primeiros pensamentos do dia. Meus olhos se ajustam à claridade, e noto um moletom preto com capuz jogado sobre mim, um gesto de carinho que instantaneamente me conecta a Sara.

Deve ter sido ela quem o colocou ali, cuidando de mim mais uma vez.

Espreguiço-me, uma dor estranha percorrendo meu corpo como uma lembrança incômoda da noite anterior. Pego o moletom e deslizo meus braços pelas mangas, percebendo que ele é grande, quase como um vestido. Uma estranha sensação de nostalgia paira no ar. 

Será que este era um dos moletons do nosso pai? 

Uma onda de emoções me atinge, misturando saudade e um aperto no coração.

Vestida apenas com o moletom, noto alguns cortes e arranhões em minhas pernas. Sinto-me um pouco tonta e desajeitada, então prendo meu cabelo em um coque despretensioso e sigo em direção à cozinha. 

O chão de porcelanato preto envia arrepios gelados através dos meus pés descalços, enquanto passo por ele com passos cautelosos. Cada toque frio do piso me lembra da história que nossa mãe costumava contar sobre a necessidade de trocar o revestimento, agora que eu e Sara somos jovens senhoritas e provavelmente iriamos parar de encardir o piso.

Quando alcanço a cozinha, a visão é um quadro vivo. Sara está elegantemente vestida com um vestido preto de manga longa, a textura do tecido contrastando com a suavidade de sua pele. Botas de cano curto adornam seus pés, e seus cabelos loiros caem como uma cascata sobre seus ombros. 

Ela está linda, uma imagem de força e graça. 

Ao lado dela, encontro o segurança ruivo, uma figura que já faz parte deste cenário. E nem mesmo, sabemos seu nome. Seus traços estão mais relaxados hoje, vestindo uma roupa casual que o afasta um pouco de sua postura imponente de Capanga da máfia.

Com mais calma agora, percebo que ele é atraente, com lábios carnudos que parecem sempre à beira de um sorriso, olhos verdes que carregam histórias e um corpo musculoso que transmite segurança. 

Observo o homem, um ligeiro lampejo de pena me atravessando. Parece que ele não é imune ao encanto de Sara, seus olhos frequentemente buscando-a como se ela fosse um farol em sua vida.

— Tasha. — A voz de Sara, suave e melodiosa, irrompe em meus devaneios, arrancando-me daquele espaço entre lembranças e realidade. 

Suas feições exibindo uma mistura de preocupação e alívio. Seus olhos azuis me examinam com ternura, suas sobrancelhas levemente arqueadas, como se procurasse por pistas em meus olhos.

— Tasha. — Sara chama meu nome novamente, mas dessa vez com um toque de carinho que não escutava há anos. 

O apelido familiar ressoa em meus ouvidos como uma melodia que há muito tempo não era tocada. Seus passos a conduzem até mim, e então, seus braços me envolvem em um abraço forte, como se eu tivesse estado ausente por uma eternidade.

— Graças a Deus que você está bem. Fiquei tão preocupada. — Sua voz traz um quê de lágrimas contidas, seus olhos brilhando com a umidade do sentimento. — Voltar sozinha para casa... você nos assustou.

Aceito o abraço com gratidão, sentindo o calor do vínculo entre nós duas. A presença dela é uma âncora no turbilhão de emoções que lutei para enfrentar.

O ASSASSINO DA NAVALHAWhere stories live. Discover now