35 Jealousy

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Fióri Smirnov

Em meio à uma escuridão sufocante, gritos desesperados ecoam por todo complexo, arrancando-me da cama num sobressalto. Meus pés descalços sentem o piso gelado, uma sensação cortante que faz meu corpo arrepiar. Com passos incertos, adentro o corredor, caminho lentamente em direção à porta semiaberta do quarto do meu pai.

Uma única fresta de luz revela uma cena aterrorizante e dolorosa, roubando-me o fôlego e as palavras. Minha mãe está no chão, soluçando em prantos, enquanto meu pai desfere chutes cruéis contra seu estômago, como se a violência pudesse aplacar sua incontrolável fúria. 

Não é a primeira vez...

— Uma menina! Eu quero uma menina! —  ele grita, vociferando com uma ferocidade que me deixa atônito. 

Seu rosto transborda de insanidade, um espectro distorcido do homem que costumava ser. Nesse momento de horror, uma mão gélida agarra meu braço, me puxando para longe da cena grotesca. 

Olho para o lado e me deparo com meu irmão, cujos olhos faíscam com raiva.

— Se ele te vir, também vai apanhar... — sussurra ele, me arrastando de volta para o quarto. — Aquela mulher é fraca, merece morrer!

Encarei meu irmão, tão jovem e já tão cheio de amargura. Era como ver meu reflexo em um espelho.  

Acordo com meu corpo tremendo, uma sensação angustiante de que mais um pesadelo me assombrou durante a noite. Isso se tornou tão comum que não me surpreende mais, é a memória dolorosa que minha mente insiste em me lembrar. Passo a mão pelo meu rosto, sentindo o suor que molha minha pele e uma dor aguda que percorre meu corpo, resultado de uma noite de sono perturbado. Parece que a sensação de um descanso completo tem sido negada a mim por muito tempo.

Me lembro da única noite em que descansei verdadeiramente nos últimos anos, e foi quando Natasha estava ao meu lado. Dizem que ter seu sono velado por um anjo é a dádiva suprema, e, naquelas horas de tranquilidade, compreendi o quão verdadeira essa afirmação podia ser. 

A verdade, é que não se passaram nem oito horas desde que nos separamos, no entanto, a saudade já aperta meu peito de uma forma insuportável, tornando-se um fardo quase insustentável.

Ainda não consegui decifrar plenamente como devo prosseguir com minha vida após a partida de Alexei. Antes, a escuridão me envolvia por completo, levando-me a perseguir uma busca implacável por uma justiça que parecia inatingível. 

No entanto, testemunhar a degradação do monstro que tanto abominei e ser capaz de proferir as palavras "Te vejo no inferno" em seu leito de morte trouxe uma sensação de libertação que eu jamais experimentara antes.

Agora, sinto que não preciso mais desse ciclo de violência, que não sou mais compelido a matar. Estou diante de tudo o que Alexei construiu, e minha vontade é desmantelar meticulosamente cada camada desse império que ele ergueu e tanto se orgulhava. 

É a minha maneira de finalmente trazer algum tipo de justiça para o mundo que ele corrompeu e redimir a minha própria alma.

O alarme do meu celular começa a tocar às 6h da manhã, e com alguma relutância, me obrigo a sair da cama. Levanto com cuidado e me encaminho ao banheiro. Lá, de forma ágil, me desfaço da cueca e entro no box. Ligo o chuveiro na temperatura mais fria, plenamente ciente de que preciso de um choque para acordar meu corpo. Afinal, hoje é o dia em que vou receber o CEO das Organizações Moretti para negociar a venda do império Smirnov.

A água gelada do chuveiro cai sobre mim, e cada gota parece uma punição matinal, mas é exatamente o que preciso para ficar totalmente acordado. Quando termino o banho, me enrolo em uma toalha e escovo os dentes rapidamente. Subitamente, meu telefone emite um sinal sonoro, indicando a chegada de uma mensagem. Pego o celular, deslizo a tela de bloqueio e leio a mensagem de Natasha. Uma onda de calor percorre meu corpo instantaneamente.

O ASSASSINO DA NAVALHAWhere stories live. Discover now