26 To flee

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Fióri Smirnov

Tiro minhas roupas, precisando desesperadamente de um banho. Tomo uma das medicações que Natasha comprou, sentindo o gosto amargo em minha boca, e sigo para o banheiro. Ligo a água forte do chuveiro e deixo-a correr pelo meu corpo, permitindo que a pressão da água alivie a tensão.

Enquanto a água quente relaxa meus músculos, minha mente é subitamente invadida por imagens estranhas e vívidas. 

De repente, estou em um quarto escuro, vozes, choro e tiros ecoam ao meu redor. Meu reflexo no espelho segura uma navalha, ameaçando minha irmã com um olhar cruel, mas minhas mãos estão vazias. Sinto uma pancada forte na cabeça, uma dor pulsante que parece ecoar em minha mente, e então as imagens desaparecem abruptamente.

Fico ali, sob a água quente, tentando recuperar o fôlego. A lembrança é estranha e perturbadora, e me deixa profundamente confuso. 

Por que isso está voltando à minha mente agora? O que isso significa? 

As perguntas se amontoam em minha mente enquanto tento desvendar o que acabei de vivenciar.

Termino meu banho, deixando a água quente fluir sobre meu corpo, proporcionando um alívio momentâneo para a tensão que me envolve, pego uma toalha e enquanto me seco, meus olhos se fixam no curativo improvisado que Natasha havia aplicado anteriormente.

É hora de trocá-lo. 

Saio do banheiro e me encaminho para o quarto, onde reúno os materiais necessários para limpar e refazer o curativo. Volto ao banheiro e, com um algodão embebido em água morna, começo a limpar a ferida, enquanto as memórias perturbadoras que surgiram antes continuam a se manifestar em minha mente como um coro de pesadelos.

Em seguida, entro no meu closet e escolho uma calça de sarja bege, vestindo-a com calma, evitando movimentos bruscos. Coloco um suéter preto simples e nos pés, calço coturnos marrons. Com um pente, tento arrumar meu cabelo desgrenhado rapidamente, buscando uma aparência minimamente apresentável. Em seguida, aplico desodorante e borrifo um toque de perfume.

Dirijo-me à escrivaninha e pego meu relógio e celular. Fico indeciso sobre se devo ir ao quarto de Natasha ou seguir diretamente para o carro. Opto por sair do quarto e esperar no corredor, considerando que é menos invasivo e mais eficiente, assim ela não atrasa. Ao abrir a porta, dou de cara com a jovem.

A visão dela é impressionante. 

Natasha veste uma calça jeans que realça suas curvas, uma blusa preta que contrasta com sua pele e uma jaqueta de couro vermelho escuro. Seus cabelos castanhos claros soltos caem graciosamente sobre os ombros. 

Fico momentaneamente atordoado ao encarar aquela mulher, que mexe comigo como nunca antes aconteceu, como ninguém jamais conseguiu.

Engulo em seco, tentando esconder minha surpresa. Ela segura o livro de Arthur nas mãos, o que me faz sorrir por dentro, embora eu rapidamente controle meu sorriso para não dar pistas.

— Sua mochila? — pergunto, lembrando que vou levá-la para a universidade.

Ela ergue as sobrancelhas e sorri com um toque de deboche, como se pudesse me fulminar com o olhar.

— Fui sequestrada no enterro dos meus pais e trazida até aqui... desculpe por não me lembrar dos livros. — Ela responde, mostrando uma atitude arrogante, e nossos olhares se cruzam em um breve momento de tensão.

Respiro fundo, fazendo um esforço consciente para esconder minha irritação, e começo a descer as escadas. Natasha me segue em silêncio, mas o desconforto entre nós é visível e incômodo.

O ASSASSINO DA NAVALHAWhere stories live. Discover now