Preparando o dia mais esperado

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Os dias vinham todos iguais. Crianças e publis.

Conforme combinado com Rodolffo, o António passou a ser a minha sombra.   Ia comigo e com as crianças para todo o lugar.  Confesso que não era assim tão mau porque ele era bom de papo.

Tínhamos conversas sobre os mais diversos temas.  No início ele evitava muita conversa.  Ficava constrangido mas como eu lhe disse que além de segurança ele poderia ser um amigo.  Como íamos conviver diariamente não queria formalidades,  apenas respeito.

Aos poucos foi-se soltando.

Nunca nos tínhamos cruzado com a cobra até hoje.

Tinha levado as crianças ao jardim habitual.  Fica perto de casa e podemos ir caminhando.   Parece que é por aqui que ela ataca.

Estava sentada na relva com o Gabriel.  Violeta e António um pouco mais afastados  mas no nosso raio de visão.

Sinto um toque no ombro.

- Onde está o Rodolffo?  Perguntou a doida.

Fiquei assustada e instintivamente segurei o Gabriel.

- O que queres com o meu marido?  Ele não te disse já que não quer nada contigo?  Desaparece.

Olhei na direcção de António  e vejo ele falar ao telefone.   Segurou na Violeta pela mão e caminhou em nossa direção.

- Esta senhora está incomodando Ju?

- Esta senhora está proibida de se aproximar de mim e da minha família.

- Galdéria.  O Rodolffo está nos shows e tu a traí-lo com esse daí.  Por isso ele vai ficar comigo.

Olhando fixamente para o Gabriel e
mudando o tom de voz diz:

- Vem à mamãe,  vem bébé.

Meu Deus,  a mulher não está bem.

Ela continuava.

- Obrigada por tomar conta do meu bébé.  Agora pode dar-mo que ele precisa de mamar.  Vamos voltar para casa.

Estendia os braços para mim.  António segurou-a, afastando-a.

- Socorro.  Eles tiraram o meu filho.
Eu quero o meu filho gritava ela.

- Senhora,  acalme-se.  Este bébé não é seu.

- É meu sim.  E do Rodolffo.  - Rodolffo, salva o nosso filho.

Ao nosso redor todos olhavam para nós.  2 policiais aproximaram-se juntamente com uma equipa de enfermeiros.

António havia chamado a polícia e estes sabendo os antecedentes de Luísa chamaram o pessoal da clínica psiquiátrica.

Aos berros ela foi levada para a carrinha para ser internada.  Soube depois que o seu internamento já tinha sido decretado após o escândalo que ela foi fazer na clínica  onde trabalhou.
Chegou a agredir a médica que a suspendeu.

Voltámos para casa.  Violeta estava um pouco assustada.

- Mamãe,  a senhora queria levar o Gabriel?

- Filha,  a senhora está doente e pensava que o mano era filho dela.  Mas já foi para o hospital e o doutor vai tratar dela.

- E vai ficar boa?

- Vai sim.

- António,  obrigada.

- De nada Ju.  É minha obrigação.

Carlos estava com uma média de 5 shows por semana.   Por vezes, dada a logística,  nem dava para vir a casa.  Ficava no hotel.  Esta era uma dessas semanas.

Falávamos todos os dias.  Era o jeito de matar saudades.

Eu tratava de resolver tudo para o nosso  casamento.   Queria resolver com ele mas ele não tinha tempo.   Disse para eu o surpreender.

Tinham arranjado uma folga de 3 semanas na agenda para o mês de Maio, mês das noivas.   De 7 a 31 de Maio.

Escolhi o dia 12 de Maio, véspera de Nossa Senhora de Fátima de quem sou devota.

Já que ele pediu para o surpreender só vai saber o dia no dia.

O meu sogro já tinha marcado a xácara e consequentemente o padre.

O Rodolffo quis o Miguel e a esposa como padrinhos e eu escolhi a minha cunhada e o António.   Só um casal para cada um já que a cerimónia era íntima.

Hoje foi dia de escolher o terno dele.
Até isso ele delegou em mim.  Disse que queria que eu tivesse o meu casamento de sonho.  Só a minha vontade importava.

Como sempre o António deu-me uma  ajuda.  É sabido que a maioria dos gays têm muito bom gosto com a roupa.

Escolhida a cor e modelo (seria feito por medida), escolhida a camisa, gravata e sapatos partimos para o atelier onde seria confeccionado o meu vestido e o da Violeta.   Exactamente iguais.

Eu tinha feito o desenho e escolhido os materiais.  Coisa simples.  Seda, um pouco de renda no busto, flores bordadas à mão e alguns brilhantes.
Uma tiara na cabeça porque não vou por a minha menina de véu.

Mandei fazer uma aliança igual à minha para o pai lhe oferecer na hora.  Ele não sabe.  É segredo.

Ajustei com a estilista alguns pormenores nomeadamente um terninho para o Gabriel a condizer com o pai.  Vai ser a coisa mais fofa.

Regressei a casa.  Amanhã iria resolver o cardápio da festa e as flores além das lembranças aos convidados.

Lembrando que vai ser um casamento e dois baptizados então a decoração deveria ser adequada aos dois eventos.

Estava exausta.  Tomei um banho relaxante,  cuidei das crianças, jantei e apaguei.  Precisava de uma boa noite de sono.

Antes olhei as horas.  Carlos devia estar a descansar.  Mandei uma mensagem.

- Amor! Estamos todos bem.  Espero que aí também.  Estou muito cansada por isso vou já dormir.  O dia foi muito trabalhoso, não me ligues.  Falamos amanhã.
- Beijos. Amo-te .

A Eva já se tinha mudado para cá de vez.  Era uma preciosa ajuda.

O som de mensagem chegou.  Eu tentava dormir mas o meu pensamento estava em casa.  Olhei a mensagem e pensei:

Acho que estou a sobrecarregar muito a minha mulher.   Coitada. Podia ligar-lhe agora mas já sei que vamos ficar no bate papo durante horas.  Vou deixá-la descansar.  Vou compensá-la depois.
Vou proporcionar-lhe a lua de mel mais espectacular que puder. Ela merece.  Tem sido uma mulher fora de série e se noutros tempos eu não fui o melhor dos maridos, hoje, eu só quero que ela sinta tanto orgulho de mim como eu sinto dela.

Desliguei o telemóvel e tentei dormir.  Daqui a 4 horas começa o show.   Está uma chuvarada na cidade.  O recinto é coberto mas mesmo assim espero que pare.  A chuva atrapalha muito o trânsito.

Virei para o lado para dormir mas, o pensamento estava longe.  Chorei.
Chorei de saudade da minha mulher e dos meus filhos.
- Amo-vos tanto, disse em voz alta.

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