Conversar é preciso.

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No dia seguinte despedi-me das irmãs.  Agradeci a hospitalidade e prometi voltar mais vezes e ajudar no que precisassem.
Não quis ver a Violeta. Já me tinha despedido na véspera.

Segui em direção ao meu apartamento.  Encontrei a Dora que tirava medidas no quarto destinado à Violeta.

- Amiga para quem é este quarto?
(ela não tinha percebido o meu desaparecimento durante este tempo todo.  Não tive que explicar)

- É para uma menina órfã que vai passar uns dias comigo.

Mostrou-me o esboço do quarto e eu dei carta branca.

Segunda feira fui comprar umas roupas e itens de higiene para mim e para Violeta. Queria deixar tudo pronto o mais rápido possível.

Eram 19 horas mandei uma mensagem ao Rodolffo pelo zap.

    - Amanhã preciso conversar contigo. Pode ser?

Aguardei um pouco e como não respondeu nem visualizou desliguei o telemóvel.

Cerca das 22 horas chega uma notificação.

Vou abrir e lá está a resposta dele.

     - Meus Deus devo estar a sonhar. Não pode ser agora?

      - Não,  já é tarde.  Amanhã. Se quiseres podes vir tomar café aqui no meu apartamento.  Pode ser às 8 horas?

      
       - Sim. Estarei aí. Estás bem?

       - Estou e espero que também estejas. Até amanhã.

        - Até amanhã.

Queria ter ficado a falar com ela a noite toda mas ela despachou-me.
Vou tentar dormir para que a noite passe depressa.

Aqui estou de volta ao meu apartamento como estava há 6 anos atrás.

Preparei um café da manhã com panquecas, croissants, queijo, presunto,  leite e café  sumo de laranja e um bolo. Algumas frutas e yogurte.

Às 10 para as 8 tocam à campainha.

Era ele. Comecei a ficar nervosa.
Respirei fundo 3 vezes e abri a porta.

Ficámos a olhar um para o outro sem reacção.

- Bom dia, entra.

- Bom dia.

Demos 2 beijinhos na face. É o mínimo da cordialidade. Estávamos os dois nervosos.

- Vem. O café está pronto.

Começamos a comer em silêncio.  Nenhum de nós sabia o que dizer ou por onde começar.

Decidi quebrar o gelo.

- Desculpa ter desaparecido mas precisava.

Ele olhava fixamente para mim.

- Porque cortaste o cabelo? Teres ido embora sem falar comigo já era punição suficiente não precisavas ter cortado no cabelo.

- Eu queria cortar com o passado e contigo, então olhar para o cabelo ia fazer-me lembrar de coisas que eu não queria.

- Procurei-te por toda a parte. Ninguém sabia de ti.

- Eu não queria ver ninguém.

- E agora. Estás bem?

- Principalmente em paz.

- E tu? Como estão os shows?

- Essa parte da minha vida está boa. A parte pessoal  é que está um farrapo.

- Julguei que a razão de quereres a separação era por teres encontrado outra felicidade.

- Não julgues.

- Não te pedi para vires para saber da tua vida pessoal. Ela pertence-te e só a ti diz respeito.

- Não é  em assim mas estou curioso.

- Então.  Deixa-me falar tudo de uma vez sem interrupção senão  não consigo.

- Fala

- Durante este tempo estive aqui bem perto. Estive no colégio das irmãs franciscanas.  Aquele onde fazia voluntariado. Precisava de me isolar de tudo o que me rodeava. Precisava consertar as ideias. Quando pensei para onde iria, a ideia de clausura fez todo o sentido para mim.

Ali me encontrei e fui feliz. Senti falta do afecto de alguns. Das coisas materiais nem me lembrei. O ser humano pensa que a felicidade está no status, no poder económico mas não. Está num morango apanhado de uma planta que puseste na terra, uma maçã apanhada da árvore,  uma alface, uma flor que plantamos e coisas assim bem simples.

A humildade das meninas orfãs que ficam felizes com um carinho, um chocolate uma roupinha nova em dia de festa não tem dinheiro que pague.

Lá eu fui sim muito feliz, mas, Deus tem o seu propósito.

Há um mês descobri que não podia ser egoísta, já não se tratava só de mim. Havia mais gente envolvida então era chegada a hora de mudar novamente.

Deus resolveu presentear-me com a  melhor coisa na vida de qualquer pessoa. Um filho.
Sim, vamos ter um filho e seria muito egoísta da minha parte excluir-te disto.
(nesta altura ele começou a chorar e eu também) .
Amanhã tenho consulta pré natal e se puderes acompanhar-me ficava feliz.

Ele pegou nas minhas mãos beijou-as e balbuciou um obrigado.

Ficou por uns largos minutos e depois olhou nos meus olhos e disse:
- Perdoas-me?

- Só Deus tem esse poder mas eu estou em paz e quero que estejas também.

- Fui um idiota. Se arrependimento matasse eu já estaria morto há muito tempo. Não teve um único dia que eu não me punisse da má decisão que tomei.

- Não há como voltar atrás no tempo. O certo agora é vivermos com as escolhas que fazemos.

- Posso por a mão na tua barriga?

- Podes.

- Bebé do pai. Eu amo-te e prometo fazer de tudo para te fazer feliz. A ti e à mãe.  Não resisti e dei um beijo na barriga dela.

- A que horas é a consulta?

- Às 14. Encontramo-nos lá. Já sabes onde é.

- Deixa eu vir buscar-te. Não tens carro. Eu passo aqui, deixa.

- Está bem.

- já vou indo. Obrigado por tornares a fazer parte da minha vida mesmo que não seja totalmente. Obrigado pela alegria que me deste hoje.

- Dei-lhe um beijo na bochecha e saí feliz da vida.

- Cheguei em casa, peguei na Clara e rodopiei com ela.

- Vou ser pai, vou ser pai.

- Rodolffo o que aprontaste agora? (me fiz de doida. Não posso revelar que já sabia)

- Vou ser pai. A minha Ju vai dar-me um bébé). Vês que eu tinha razão quando sonhei.

- Conta essa história direitinho.

Eu contei e ela apenas expressava uns humm, humm, sim, é? Olha que bom.

Acho que ela não estava acreditando.

- Verdade! Amanhã vou com ela ao médico.

- Então faz ela vir aqui que eu estou com saudades.

- Se ela quisesse vinha de vez mas eu acho que ela já não me ama. Agora sou só o pai do filho.

- Vai à luta e reconquista ela. Vacilaste agora é correr atrás do prejuízo.

- Se Deus me der uma segunda chance não vou desperdiçar.

- E se ela conheceu alguém?

ClausuraOnde histórias criam vida. Descubra agora