Memórias

36 3 1
                                    

Saímos de casa em direcção ao parque onde costumavamos ir com Violeta.   Eu tentava levá-la a sítios conhecidos para ver se lhe avivava a memória.  Depois iríamos à pracinha e almoçar no centro comercial.

No parque.

- Rodolffo,  eu já briguei aqui?

- Sim.  Brigaste com uma mulher que destacou a Violeta.  Lembras?

- Lembrei.  Ela estava a brincar com uma menina loirinha e a mãe não deixou, foi?

- Sim.  E tu quase deste uma surra nela. - que bom que te lembras.

- E depois fomos ao shopping almoçar e comprar coisinhas para o Gabriel.  Comemos pipocas e sorvete.

Eu não cabia em mim de contente.   A memória dela está a regressar.  Eu espero que quando regressarem os shows ela esteja 100%.  Vai ser muito angustiante deixá-la se não estiver bem.

Fomos almoçar no mesmo local onde estivemos com Violeta e ela lembrou até o que comemos.
Para comemorar fomos na mesma loja comprar uma roupa nova para os nossos filhos.

Eu quis passar numa ourivesaria para comprar uma jóia.

- Amor! Não precisa.  Eu já tenho muitas jóias.

Ai meu Deus! Ela voltou a chamar-me Amor.  Agora é que preciso mesmo comprar algo para comemorar.

- Aceita, amor.  Eu hoje estou tão feliz porque a tua memória está a regressar que podia comprar a lua para te dar.

- Então só uma coisa simbólica.  Nada muito caro.

Acabei por comprar uma pulseira com vários pingentes de significado para nós.

Regressámos a casa a pé pois era tudo perto e não tínhamos levado o carro.

Clara estava na cozinha a fazer um bolo de chocolate.  O preferido de Ju.

Eu levava Gabriel ao colo.  Ju correu para Clara  abraçou-a, deu-lhe um beijo na face e bateu as palmas.

- Hoje tem bolo de chocolate Clarinha?  Põe nozes por favor.

Clara olhou para mim sorridente e eu assenti com a cabeça.  Passei por ela e sussurei: depois conto.

Subimos ao nosso quarto.  Demos banho no Gabriel,  a seguir mamou e adormeceu.

Fui tomar banho mas convidei a minha esposa para me acompanhar.   Ela veio prontamente.
Era muito bom ver que a nossa vida estava tomando rumo.
Foi muito bom este banho nesta fase de descoberta dela.

Terminado o banho Deitámos um pouco.  Ju como sempre dormia grudada a mim.  E eu amava.

Como diz o ditado, "não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe", toca o meu telefone.

- Alô, Rodolffo!  Daqui é a enfermeira Luísa.   É só para saber como estás e como está o Gabriel.  Eu estava pensando passar na tua casa para ver vocês e saber se precisam de algo.
Pensei que talvez precisassem de uma enfermeira a tempo inteiro para o Gabriel.  Eu podia fazer isso.

- Estamos todos muito bem. Eu, Gabriel e A MINHA ESPOSA, não precisamos de enfermeira, então,  não perca seu tempo.
Felizmente temos muitos amigos verdadeiros a quem recorrer se precisarmos.   Passe bem.

- Quem era?  Perguntou Ju.

- Uma enfermeira inxerida lá da clínica.  Gente sem noção.

- Ela deu em cima de ti?

- Deu.  Mas eu deixei claro que só tu me interessas.

Ela não disse mais nada mas o ar já ficou mais pesado.

- Amor!  Não coloca minhocas na cabeça.   Não houve nada nem vai haver, disse, dando-lhe um beijo.

- Tudo bem. Ela retribuiu o beijo.

Desci à cozinha.  Clara terminava o bolo.  Contei-lhe dos progressos em relação a Ju e ela ficou super feliz.  Contei também da enfermeira.  Vai que a maluca resolva aparecer por cá nomeadamente quando eu não estiver.
Eu notei que ela ficou um pouco apanhada pelo nosso filho.  Preciso de por toda a gente de aviso pois quando eu não estiver não quero que corram perigo.

Ju desceu e ficou com o sorriso mais lindo ao ver o bolo de chocolate com nozes.

- Já posso comer?

- Já.  Ainda está morno mas dá para comer. - Queres suco?

- Não.  Leite gelado.

- Leite?

- É.  É muito bom.

- Então também quero.  E tu Clara, queres também?

- Eu não.   Eu quero suco.  Leite só de manhã.

- Clara.  Eu hoje lembrei-me de muitas coisas.  De ti também.

- Fico muito feliz com isso minha Juzinha.  Logo estarás completamente  curada.  Bem, já vou indo.  Deixo os dois pombinhos sós.  Adeus.  Comportem-se.

Ficámos sós.   Ju quis mais uma fatia de bolo.  A cada dentada emitia um gemido de satisfação e passava a língua pelos lábios.
Aquilo deixava-me excitado.  Puxei-a para o meu colo e comecei a beijá-la.

Num instante estávamos na nossa cama nos amando.

A sequência era perfeita.  Chocolate   amor e banho que depois se repetia noutra ordem. Amor, banho e chocolate.

Assim terminámos o nosso dia.

Os dias passavam normalmente.   Em cada um deles a memória de Ju dava sinais de melhoras.  Hoje ela acordou triste e chorosa.

- Que foi amor? O que Lembraste hoje?

- Lembrei de dia em que tu terminaste comigo.

- Olha! Esse dia podes esquecer.  Guarda lá no fundo da tua memória.   Não precisas trazer para cima.  Eu fui muito burro.  Se arrependimento matasse eu já estaria em outra dimensão.

- Não digas isso.  Eu quero lembrar de tudo.  Os bons e os maus momentos.  Quero saber da nossa vida todinha.

- Mas eu não  te quero ver triste.

- Então faz massagem e dá beijinhos.

- Quanto dengo.  Vem cá minha dengosa.

E assim passámos mais um dia.  Amanhã iremos buscar a nossa filha.

Já estamos ambos com muita saudade.





































ClausuraOnde histórias criam vida. Descubra agora